COMPETE 2020 apoia soluções inovadoras para uma energia mais limpa e eficiente

Durante séculos, o crescimento económico parecia depender da utilização de recursos naturais como se estes fossem inesgotáveis. O resultado imediato: crise de recursos e aumento de preços. A médio prazo olhamos para o mundo que conhecemos e vemos ecossistemas a desaparecer. E não há crescimento e competitividade sem equilíbrio.

Ao modelo tradicional de produção linear hoje respondemos com modelos circulares, onde nada se perde e tudo se transforma e onde o respeito pelos ecossistemas e pela fragilidade dos mesmos marca a concepção do processo produtivo desde o seu início.

O Pacto Ecológico Europeu,apresentadado pela presidente da Comissão Ursula Von Der Leyen a 11 de dezembro de 2019 na Comissão Europeia e no Parlamento Europeu, é encarado como "o verdadeiro plano de desenvolvimento económico" da Europa para as próximas décadas. O Pacto consagra uma ideia que, ano após ano, tem ganho uma dimensão incontornável: cuidar do ambiente é cuidar, também, do crescimento económico e da competitividade europeia. Uma tarefa que implica mobilizar vários sectores da economia, entre os quais a indústria. No documento que define o “roadmap” do Green Deal refere-se que transformar um sector industrial e toda a sua cadeia de valor demora 25 anos.   

O Pacto Ecológico Europeu é um desafio mas sobretudo uma oportunidade para todos . 

O setor da energia destaca-se pelo impacto significativo e papel que desempenha em todos ou outros setores, no desenvolvimento sustentável, e nos desafios societais. Portugal tem revelado um grande dinamismo na produção de energia elétrica a partir de fontes de energia renováveis, particularmente eólica, hídrica e fotovoltaica. Os valores relativos às fontes eólicas e hídrica quase duplicaram entre 2008 e 2011, enquanto a produção de energia elétrica a partir de energia fotovoltaica tem vindo a crescer exponencialmente, embora o seu peso na produção nacional de energia ainda se mantenha reduzido. 

Por ocasião da Cimeira de Ação Climática, Portugal submeteu às Nações Unidas, um ano antes do prazo, o Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050, que constitui a sua Estratégia de Desenvolvimento a Longo Prazo com Baixas Emissões de Gases com Efeito de Estufa, prevista no Acordo de Paris.

O Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050 estabelece, de forma sustentada, a trajetória para atingir a neutralidade carbónica em 2050, define as principais linhas de orientação, e identifica as opções custo eficazes para atingir aquele fim em diferentes cenários de desenvolvimento socioeconómico.

Atingir a neutralidade carbónica em Portugal implica a redução de emissões de gases com efeito de estufa entre 85% e 90% até 2050 e a compensação das restantes emissões através do uso do solo e florestas, a alcançar através de uma trajetória de redução de emissões entre 45% e 55% até 2030, e entre 65% e 75% até 2040, em relação a 2005.

Atingir a neutralidade carbónica em 2050 implica, a par do reforço da capacidade de sequestro de carbono pelas florestas e por outros usos do solo, a total descarbonização do sistema eletroprodutor e da mobilidade urbana, bem como alterações profundas na forma como utilizamos a energia e os recursos, apostando numa economia que se sustenta em recursos renováveis, utiliza os recursos de forma eficiente e assenta em modelos de economia circular, valorizando o território e promovendo a coesão territorial.

O COMPETE 2020 atua ativamente na promoção do crescimento sustentável, incentivando uma utilização eficiente dos recursos e contribuindo para a transição de uma economia de baixo carbono, interrelacionados com o potencial crescimento de atividades relacionadas com a economia verde e azul, com o desenvolvimento das regiões e com a criação de emprego.

Nesta edição da Newsletter vamos apresentar-lhe  projetos onde se investiga e desenvolve soluções inovadoras na energia:

  • CONTEST – Promover a participação de indivíduos e comunidades locais nos mercados de energia

O projeto CONTEST foca-se em fornecer soluções eficazes para permitir a proliferação de recursos distribuídos de energia, nomeadamente os recursos baseados em fontes renováveis, programas de gestão da carga e a participação ativa dos consumidores e de comunidades locais, contribuindo para melhorar a eficiência e a sustentabilidade energética e económica. Um projeto que apresenta resultados ao nível dos modelos de negócio que viabilizarão num futuro próximo a participação ativa dos consumidores e das comunidades locais, permitindo que beneficiem de vantagens inerentes aos mercados competitivos e contribuam para um sistema de energia mais sustentável em termos ambientais e económicos.

 

  •  GREEDi- "Uma solução inovadora de gestão inteligente, eficiente e segura de energia a aplicar em edifícios de grande dimensão”, disse Raúl Oliveira, da IPBRICK em entrevista ao COMPETE 2020.

  Este projeto contribui para a evolução do paradigma das redes elétricas inteligentes na medida em que irá otimizar a utilização de energias renováveis, tirar partido da flexibilidade das cargas e permitir aos edifícios que se tornem um player ativo capaz de reduzir os seus custos com a energia e, inclusivamente, adotar modelos de negócio que permitam obter lucros através de uma gestão real-time dos seus recursos. A solução desenvolvida no âmbito do projeto GREEDi aplica-se também a infraestruturas críticas ao fornecer uma plataforma de supervisão e segurança completa que considera a criticidade de zonas e equipamentos na gestão otimizada.

 

  • PAVENERGY: o inovador sistema de gerar energia nos pavimentos

Entrevistámos Adelino Ferreira, coordenador do projeto PAVENERGY, promovido pela Universidade de Coimbra e desenvolveu e quer implementar um sistema gerador de energia nos pavimentos. “O objetivo geral deste projeto é o desenvolvimento e a implementação de um sistema eletromecânico ou piezoelétrico inserido no pavimento para a produção de energia elétrica através do movimento dos veículos”, explica Adelino Ferreira na entrevista ao COMPETE 2020. O coordenador refere que “esta energia será utilizada não só para o carregamento das baterias dos veículos elétricos, mas também para utilização geral por injeção na rede da energia elétrica produzida ou então por utilização direta por equipamentos elétricos, tais como semáforos, aparelhos de iluminação pública, painéis publicitários, etc”. 

 

  • BioHigh - Produzir combustíveis sintéticos de elevado rendimento a partir do biogás

Entrevistamos Duncan Paul Fagg, Investigador Principal na Divisão de Pesquisa em Nanotecnologia do Centro de Tecnologia Mecânica e Automação (TEMA) da Universidade de Aveiro, e responsável do projeto BioHigh, que nos falou dos deafios que enfrentaram no desenvolvimento do projeto bem como do seu  interesse social e económico-financeiro e da importância do apoio do COMPETE 2020. Este projeto utilizou o elevado conteúdo de CO2 para realizar a reforma CO2 / CH4 a temperaturas elevadas, com o intuito de produzir gás de síntese (CO + H2). Este é assim enriquecido por via eletroquímica, aumentando o seu conteúdo de hidrogénio. A mistura formada é então adequada para a sua conversão em combustíveis sintéticos, como o metanol, os alcanos, o éter dimetílico e o petróleo sintético, que podem ser usados diretamente na infraestrutura de transporte/energia.

23/01/2020 , Por Paula Ascenção