Um programa de empreendedorismo para startups em inteligência artificial, nanotecnologia e TIC
Entrevistamos Denise Branco, New Business Development Manager na Fraunhofer Portugal AICOS e responsável do projeto AINanoTEC
Como nasceu o projeto AINanoTEC? Quais foram as principais motivações?
O projeto do AINANOTEC, dinamizado pelo Consórcio Fraunhofer-AICOS, INL e InovaRia, nasceu da importância, para o contexto nacional, de promover e estimular a passagem de ideias e tecnologias do seu estado embrionário para o mercado. Com este propósito, o AINANOTEC caracterizou-se por ser uma iniciativa de empreendedorismo, em particular de empreendedorismo tecnológico e científico. O empreendedorismo tecnológico e científico tem crescido de forma significativa em vários mercados, verificando-se uma relação importante entre investimento e o aparecimento de start-ups. Existe, contudo, um desfasamento claro entre a realidade dos mercados dos Estados Unidos, China e Japão e os mercados dos países da Europa. Diagnosticado este desfasamento, e as respetivas consequências, o AINANOTEC surgiu alinhado com as intenções da Comissão Europeia em aumentar o investimento em I&D, criando mais oportunidades para a resultados de I&D com potencial de valorização económica.
No caso concreto de Portugal, existe o reconhecimento internacional das competências e massa crítica nacional. Contudo, a concretização de ações em torno destas mesmas competências nacionais tem resultado sobretudo na aposta e criação de centros de competências, mas ficando aquém na criação de produto. Logo, o AINANOTEC procurou contribuir para posicionar Portugal como um Centro de Excelência em Inteligência Artificial (IA); angariar, desenvolver e promover a valorização económica de tecnologias, ideias e modelos de negócio resultantes ou assentes em atividades de alta intensidade tecnológica nas áreas da Inteligência Artificial, Nanotecnologia e Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC); alavancar as ideias, tecnologias e negócios através da disponibilização de recursos, meios, apoio especializado, e também através da criação de sinergias com o ecossistema empreendedor nacional e internacional.
O que considera ser o elemento diferenciador do projeto AINanoTEC?
O AINANOTEC distingue-se pela agregação de três áreas tecnológicas: IA, TIC e nanotecnologia, áreas nas quais Portugal dispõe de competências e massa crítica para alavancar tecnologias com potencial disruptivo. Este facto refletiu-se no perfil do Consórcio dinamizador no qual duas das entidades promotoras – FhP-AICOS e INL – detêm conhecimento consolidado em Inteligência Artificial e nanotecnologia e, a terceira entidade, a InovaRia, uma associação empresarial, com cerca de 80 empresas, na sua maior parte do setor TICE, com a capacidade de estabelecer as sinergias necessárias para levar as ideias e tecnologia para o mercado. A experiência do Consórcio permitiu por isso a criação de um programa customizado para especialistas nestas áreas, aliado ao conhecimento das características dos mercados nacional e internacional.
O AINANOTEC procurou, ainda, contribuir ativamente para a discussão pública sobre temas com um impacto claro a nível individual e coletivo onde se percebe a importância de ter vozes informadas e críticas que possam co-construir os caminhos que salvaguardam a componente humana e a integram na investigação e desenvolvimento tecnológicos.
De entre os resultados alcançados, há algum que gostariam de destacar?
Do projeto saíram vários resultados interessantes e importantes a considerar quando se analisa o AINANOTEC integrado no panorama do ecossistema de empreendedorismo tecnológico e científico nacional e internacional, na vez de um programa isolado. Um dos resultados relevantes foi o contributo para a dinamização e interação dos participantes com stakeholders relevantes do ecossistema empreendedor nacional. Foram criados canais de interação para que os participantes no programa possam continuar a beneficiar de uma rede de parceiros, mentores, e outros contactos importantes, com condições para continuar a apoiar os empreendedores ao longo do percurso de desenvolvimento das suas ideias, tecnologias e negócios. Também de destacar a criação de 9 empresas, havendo ainda a possibilidade de criação de mais 2 nos próximos 6 meses; mais de 40 projetos de ideias apoiados, mais de 30 entidades do ecossistema de dinamização de empreendedorismo envolvidas no projeto, e mais de 1000 jovens/empreendedores abrangidos pelas iniciativas do programa.
Quais foram os principais desafios com que se depararam no desenvolvimento do projeto?
Com uma forte componente tecnológica e científica, o AINANOTEC, como qualquer projeto empreendedor, beneficia da interação com o ecossistema de empreendedorismo tecnológico e científico nacional e internacional. Tendo decorrido durante o período em que fomos confrontados com a pandemia COVID 19, as atividades previstas no âmbito do AINANOTEC foram fortemente impactadas pelas restrições impostas para o controlo da pandemia, assim como pela declaração do estado de emergência. Estes factos tornaram impossível reunir os participantes em fóruns presenciais que teriam contribuído de forma singular para o enriquecimento dos projetos e para a dinâmica e motivação de quem pretende empreender, partilhar, construir parcerias, entre outros dinâmicas que vivem da componente presencial. Por isso, é de salientar a enorme resiliência dos participantes por se manterem alinhados num programa que acabou por decorrer, na sua maior parte, em contexto virtual.
Outro desafio consistiu no elevado número de iniciativas a nível nacional que procuravam chegar ao mesmo público-alvo, e a falta de articulação entre elas. Se, por um lado a oferta alargada e a competição saudável entre as diversas iniciativas promove a disrupção e o aparecimento de novas formas de incentivar o empreendedorismo, o facto de o empreendedorismo ser uma cultura pouco madura e estimulada nas camadas mais jovens e entre investigadores e cientistas, favorece a dispersão e dificuldade em encontrar participantes e ideias para apoiar.
Ainda assim, os desafios foram superados na sua maioria, revelando claramente a resiliência das partes envolvidas e é com expectativa que esperamos ver o florescimento das ideias e tecnologias que passaram pelo AINANOTEC.
O Apoio do COMPETE
O projeto é promovido pelo consórcio Fraunhofer-AICOS, INL e InovaRia e conta com o apoio do COMPETE 2020 no âmbito do Sistema de Apoio a Ações Coletivas (Promoção do Espírito Empresarial), envolvendo um investimento elegível de 669 mil euros o que resultou num incentivo FSE de 568 mil euros.
Links
AINanoTEC: Website
Fraunhofer Portugal: Website
INL: Website
InovaRia: Website