"A Investigação seduz-me pelo conhecimento sem barreiras e pelas diferentes possibilidades que podem ser exploradas"
Para comemorar o Dia Internacional da Mulher entrevistamos Catarina Marques, Investigadora do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) e do Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro, Coordenadora do projeto SENSECOR financiado pelo COMPETE 2020 e que tem por objetivo o desenvolvimento de uma ferramenta de rastreio precoce para a deteção do vírus SARS-CoV-2.
O que a atraiu para o mundo da Investigação?
A Investigação seduz-me pelo conhecimento sem barreiras e pelas diferentes possibilidades que podem ser exploradas, em liberdade. É um mundo sem fim, em que conhecimento gera conhecimento e um manancial de novas questões. Preenche-me, em particular, o desenvolvimento de Investigação aplicada, em que a Ciência é colocada ao serviço de um ambiente, de uma sociedade e de uma economia mais sustentáveis. Gosto de descobrir e desenvolver soluções inovadoras e economicamente rentáveis que respondam a necessidades prementes da atualidade, como a situação que estamos a atravessar com a COVID-19, a qual motivou a criação do projeto SENSECOR que atualmente coordeno, mediante o financiamento atribuído pelo COMPETE 2020.
Qual foi o momento mais emocionante no seu trajeto profissional?
Na verdade posso dizer que existiram vários momentos emocionantes na minha carreira, tendo os desafios mais aliciantes ocorrido nos últimos 6 anos. Mas um dos momentos gratificantes consistiu exatamente na atribuição de financiamento ao projeto SENSECOR, criando a oportunidade de contribuir para o desenvolvimento de uma ferramenta que permite a deteção mais célere da infeção por coronavírus. Este projeto fomenta assim a integração de conceitos multidisciplinares para obter prova de conceito de um produto inovador que minimize os impactos da pandemia.
E qual foi o desafio mais interessante de superar?
Durante um ano não obtive financiamento individual. Este foi um dos períodos mais desafiantes, dado que tive de utilizar recursos próprios para cumprir com as atividades científicas, de padronização internacional na ISO como Perita Nacional do IPQ e Líder de procedimentos em normalização, e de supervisão de alunos, que estavam sob a minha responsabilidade e com os quais me tinha comprometido. Houve momentos complicados, mas valeu a pena porque nesse período submeti a concurso o projeto em biorremediação de efluentes de minas de urânio, que viria a ser o meu primeiro projeto financiado (o NANOBINDERS) e, em boa verdade, o virar de página que promoveu uma nova jornada na minha carreira de Investigação.
E gerir num contexto de pandemia mundial causada pelo novo coronavírus COVID-19... qual o segredo?
A meu ver não há grande segredo senão trabalhar, trabalhar e trabalhar, as vezes que forem necessárias para alcançar aquilo a que me proponho. Sobretudo, ser-se todos os dias resiliente, não desistir, acreditar e ter vontade força para ultrapassar os obstáculos ou contratempos que surgem, que não são nada poucos. Num contexto de pandemia, se há processos que simplificaram, há outros que são extremamente mais difíceis de solucionar num curto espaço de tempo, especialmente pelos períodos em que tivemos de nos resguardar por estarmos doentes. Pelo que tem de se colocar em prática competências não menos importantes como persistência, compreensão da situação que todos atravessamos e agilidade para procurar soluções que facilitem as partes envolvidas em cada situação.
A sua experiência com os Fundos da União Europeia… fizeram a diferença?
Os Fundos da União Europeia foram e têm sido decisivos em diversas perspetivas da minha carreira profissional. Em primeiro lugar, permitem dar voz a ideias que no meu entender são de mais-valia para desenvolver novas evidências científicas em áreas da biotecnologia dirigidas para o ambiente, saúde pública e aquacultura, que em última instância servirão a sociedade, economia e indústria. Além disso, alavancaram a aquisição de recursos tecnológicos laboratoriais imprescindíveis, que de outra forma não teria hipótese de os reunir, assim como não poderia desenvolver um trabalho sólido nas diferentes vertentes de Investigação dos projetos que coordeno na Universidade de Aveiro. Por último, permitiram contratar recursos humanos e solidificar a minha rede de colaborações nacional e internacional, tanto com outras Universidades/Centros de Investigação, como com Empresas e Hospitais. Em suma, jamais teria atingido a capacidade científico-tecnológica e colaborativa atual, bem como a possibilidade de almejar ainda mais, se não tivesse sido premiada com Fundos da União Europeia.
Nota Biográfica
Catarina Marques, atualmente Investigadora Auxiliar da Universidade de Aveiro (no Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) e Departamento de Biologia), concluiu o Doutoramento em Biologia em 2009 nesta Universidade. Especializou-se em ecotoxicologia e avaliação de risco ambiental, mas dada a vontade de contribuir para a mitigação de problemas ambientais, durante os seus 2 Pós-doutoramentos financiados pela FCT (2009-2016) e também enquanto Cientista Convidada (como Investigadora Principal (IR) do projeto NANOBINDERS), enveredou pelo desenvolvimento de estratégias de biorremediação sustentáveis e inovadoras. Em 2017 foi premiada com uma bolsa da EMBO em biomarcadores microbianos como ferramenta de diagnóstico de cancro colorretal. Desde 2016 tem sido IR de 4 projetos I&D (NANOBINDERS, MAXIAQUA, SEEBug e SENSECOR) em biorremediação e biossensores, estratégias de controlo de doenças em aquacultura e ferramentas de deteção de organismos patogénicos e do coronavírus. Lidera uma equipa de investigação com valências em avaliação/remediação ambiental, biologia molecular microbiana, engenharia genética e biotecnologia. É Perita Nacional do IPQ (Instituto Português da Qualidade) na ISO/TC147 (Qualidade da Água) e Coordenadora de Peritos Nacionais na ISO/TC190 (Qualidade do Solo), estando diretamente envolvida na normalização de procedimentos internacionais.
Links
Artigo | Sensecor - Uma ferramenta de rastreio para detetar o vírus SARS-CoV-2
Entrevista | SENSECOR - Equipa da Universidade de Aveiro desenvolve projeto para rastreio rápido da Covid-19