Da investigação à promoção o COMPETE2020 a alavancar o sector agro -alimentar nacional
O sector agroalimentar representa uma das fileiras estratégicas para a dinamização da economia nacional. Nos últimos anos tem-se assistido a uma alteração no perfil das empresas agroalimentares: a preocupação com a qualidade da matéria-prima, a diferenciação do produto, a aposta no design e na marca e a internacionalização, constituem, os principais elementos de diferenciação face ao perfil tradicional.
No que respeita à estrutura o setor agroalimentar nacional caracteriza-se por uma acentuada atomicidade e grande dispersão quer geográfica quer por setor de atividade. A grande maioria das empresas do setor tem menos de 10 empregados enquanto as empresas com mais de 250 empregados representam, apenas, 0,32% do universo de empresas. Relativamente à distribuição do emprego, verificamos que 21,36% dos ativos estão nas empresas de menor dimensão; estas empresas contribuem com 9,99%para o VAB e representam 8,45% do volume de negócios. Trata-se de um setor em que predominam as muito pequenas e pequenas empresas o que dificulta a obtenção de economias de aglomeração e de capacidade negocial nos mercados. A constituição de clusters é um importante instrumento para ultrapassar este problema. Com o mesmo objetivo foram constituídas organizações resultantes de estratégias de eficiência coletiva (como por exemplo a Portugal Foods e a Portugal Fresh) que muito tem contribuído para a internacionalização do setor.
É um setor altamente competitivo,onde o efeito escala é importante, o que se comprova pela existência de algumas e conhecidas grandes multi-nacionais na área, apesar de as empresas de menor dimensão serem predominantes.
Na União Europeia a indústria agroalimentar é também a maior indústria, com um volume de negócios de 1 048 mil milhões de euros (equivalente a 14,6% do total da indústria transformadora europeia), sendo que 51,6% desse valor provém das PME. Este setor, em termos europeus, emprega cerca de 15,5% das pessoas ao serviço na indústria transformadora (Food Drink Europe, 2014). Tratando-se de um setor onde existe uma intensa concorrência, a Indústria Agroalimentar (IAA) tem vindo a ganhar notoriedade na economia nacional. Segundo a Federação das Indústrias Portuguesas Agro-Alimentares (FIPA, 2014), desde há 20 anos a esta parte que uma grande revolução tem acontecido no dinamismo deste setor, acima de tudo derivada da abertura aos mercados externos a partir dos anos 90, que despoletou a necessidade deste setor se readaptar, fazendo ajustes importantes das suas estruturas produtivas para minimizar os efeitos da sua atividade no ambiente, bem como ao nível da certificação das empresas, ao adotar sistemas de controlo e garantia da qualidade e da segurança dos alimentos (FIPA, 2014).
Dados recentes mostram a tendência de crescimento das exportações deste setor . Comparando dados de janeiro a agosto de 2017 com período homólogo de 2016, as exportações cresceram 13% , enquanto as importações cresceram 10% no mesmo período. ( dados INE disponíveis na página oficial da FIPA).
Trabalhando para aumentar as exportações ou para substituir importações as empresas nacionais apostam fortemente em factores diferenciadores e na divulgação dos produtos nacionais, olhando para a alimentação portuguesa e para os produtos endógenos como fator distintivo.
A globalização trouxe desafios para as empresas e reposicionou a forma como se comunica. Não basta garantir a qualidade, o serviço pós cliente, uma boa embalagem e preço. O cliente quer ser envolvido.
A inovação e a diferenciação nunca foram tão importantes para as empresas, sobretudo PME´s como no contexto atual da economia global impulsionada por consumidores cada vez mais exigentes. As PME´s para se tornarem competitivas têm de criar laços de confiança com os seus consumidores e oferecer produtos diferenciados. A tecnologia é vital para este processo, tal como um foco na criação de novos produtos e serviços que vão ao encontro das necessidades reais ou que criem tendências de consumo.
Os consumidores, das classes médias das economias emergentes aos consumidores exigentes dos mercados dos países mais desenvolvidos , são cada vez mais informados do que nunca. A informação chega por múltiplos canais , nem sempre filtrada mas cria apetências de diversidade que criam vantagens para empresas ágeis e capazes da adaptação a tendências e variáveis emocionais.
E é neste contexto que os instrumentos do COMPETE 2020 fazem a diferença apoiando actividades de I&DT, de inovação produtiva, de qualificação e internacionalização. Alimentos funcionais, novas embalagens, promoção de marcas, uma vasta opção de investimentos fundamentais num setor complexo que inclui o conjunto de atividades relacionadas com a transformação de matérias-primas em bens alimentares ou bebidas e a sua disponibilização ao consumidor final. Mas o trabalho de dinamização do sector também envolve campanhas de comunicação estruturadas que projectam no colectivo uma imagem inovadora de um conjunto de empresas e actividades nacional.
Esta edição da Newsletter vamos apresentar-lhe projectos que apostam na diferenciação e em campanhas estruturadas para posicionar os produtos nacionais no mercado externo em segmentos premium.
- GINDOURO: Desenvolvimento de um Gin com identidade Duriense
O projeto GINDOURO concretizou o desenvolvimento de um Gin, produzido com produtos da Região Demarcada do Douro. A tradição de destilação nas grandes quintas do Douro e a riqueza aromática da vegetação mediterrânica da Quinta de Ventozelo foram a inspiração para a criação do Ventozelo Premium Dry Gin.
A empresa Gran Cruz e o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, da Universidade do Porto, com a parceria com o Cantinho das Aromáticas, elegeram-se 8 espécies botânicas que foram maceradas em álcool proveniente da destilação de vinhos de Ventozelo e lotado com aguardente também proveniente de vinhos da Quinta de Ventozelo. Resultou num Gin que reflete muito bem as características aromáticas do bosque, dos pomares e da horta de Ventozelo e apresenta um perfil vínico acentuado, fruto da origem do álcool utilizado. Em 2017 produziram-se 5.000 garrafas, sendo 40% destinadas à exportação, sobretudo para França, Dinamarca e Suíça.
- Portuguese Beef
Promovido pela Federação Nacional das Associações de Raças Autóctones (FERA), o projeto Portuguese Beef visa a promoção, divulgação e disseminação da carne bovina das raças autóctones portuguesas, dando especial ênfase às raças Arouquesa, Barrosã, Cachena, Marinhoa, Maronesa, Minhota e Mirandesa. Estas raças estabelecem-se essencialmente nas zonas do interior, em territórios de baixa densidade e em sistemas de produção equilibrados, sustentáveis e ecológicos, traduzindo uma adaptação dos animais à diversidade das regiões. Representam um património genético valioso, possuindo um grande potencial de valorização económica, associado ao fomento de produtos tradicionais e de qualidade. Adicionalmente, contribuem de forma decisiva para a fixação demográfica nas zonas rurais mais desfavorecidas, potenciando a estabilidade e a coesão social.
O processo de promoção, divulgação e disseminação da marca e das submarcas será efetuado através da participação em Feiras Internacionais nos mercados-alvo, bem como a concretização de Private Professional Exhibitions nos mercados-alvo europeus e de Missões de Importadores em território nacional.
- Promoção da Pera Rocha nos Mercados Externos
Promovido pela Associação Nacional de Produtores de Pera Rocha (ANP), o projeto visa a promoção da Pera Rocha nos mercados externos, tendo como objetivos estratégicos promover a visibilidade internacional deste fruto e aumentar as exportações.
O projeto será concretizado através de um eixo de comunicação atual e competitivo, que aproxime o produto à sua origem – Portugal -, diferenciando-o e evidenciando as suas características únicas. Procura-se, assim, desenvolver ações de promoção coletivas, que reforcem a capacitação da atividade económica da fileira (produção, transformação e comercialização), assentes numa estratégia de internacionalização que intensifique a capacidade competitiva e a progressão na cadeia de valor.
- Por3O - Uma abordagem ómica aplicada a azeites Portugueses
A autenticidade dos azeites extra virgem, na vertente geográfica e varietal, é o objectivo principal do projeto “Por3O - Uma abordagem ómica aplicada a azeites Portugueses”, e tem por base uma aproximação genómica e metabolómica. Como objectivo secundário deste projeto, a genuinidade do produto, numa perspectiva de adulteração, pode também ser avaliada, obtendo-se uma ferramenta útil para o despiste de fraudes e para a certificação dos azeites.
O estudo assenta numa aproximação genómica, que tem por base a avaliação do DNA do azeite e a definição de marcadores moleculares para cada variedade em estudo. Esta abordagem permite obter uma assinatura molecular de cada uma das variedades em estudo e fornecer uma ferramenta de despistagem relativa à(s) variedade(s) que deu origem a um determinado azeite.