Setor Florestal | O imperativo de investigar para preservar – Uma aposta do COMPETE2020
O setor florestal é um setor da maior importância para Portugal, sendo dos poucos cuja atividade promove três grandes pilares da sustentabilidade: económico, social e ambiental.
A nível económico, este setor representa um forte contributo pelo facto de, entre outros, ser fortemente exportador de bens transacionáveis, e das indústrias florestais serem líderes de mercado em alguns segmentos.
A balança comercial referente às indústrias da fileira florestal apresentou um saldo positivo de 2.474 milhões de euros em 2013 e em 2014 representou 1,2% do PIB português, 9,1% das exportações nacionais e cerca de 78 000 trabalhadores (INE 2014). As indústrias de base florestal apresentam uma necessidade clara em melhorar a competitividade, através do aumento da eficiência e sustentabilidade dos processos logísticos.
Este setor contribui de forma relevante para a criação de emprego, salientando-se a particularidade da oferta gerada pela atividade associada a este setor ocorrer nas zonas de baixa densidade populacional, contribuindo para a fixação das populações nesses territórios.
A nível ambiental, o desempenho da floresta, e consequentemente do setor que lhe está associada, é muitíssimo importante. A floresta contribui de forma positiva para um vasto conjunto de serviços de ecossistema, com especial relevância na mitigação das alterações climáticas, na melhoria da qualidade da água, na conservação dos habitats e da biodiversidade, entre outros.
O elevado número de ocorrências e a correspondente elevada área ardida fazem com que os incêndios florestais sejam uma das principais ameaças à fileira florestal. Estima-se que desde 1975 tenham ardido cerca de 4,3 milhões de hectares em Portugal. A par dos incêndios florestais, o problema da sanidade florestal tem vindo a ganhar uma relevância cada vez mais importante.
Efetivamente, ao longo dos últimos anos tem vindo a ser identificado em Portugal um conjunto diverso de agentes bióticos nocivos, alguns dos quais obrigaram à adoção de planos e programas específicos de prospeção, controlo e erradicação.
Nas últimas décadas, temos assistido ao aumento da ocorrência de eventos climáticos extremos (e.g. seca). Os modelos climáticos atuais projetam um aumento da frequência, duração e intensidade destes eventos, aumentando a importância de estudar a resposta de espécies arbóreas à seca. As árvores estão entre as espécies que não conseguem migrar ou adaptar-se com a rapidez necessária para evitar tais mudanças, devido ao seu ciclo de vida longo, tornando as florestas particularmente sensíveis às alterações climáticas. As mudanças climáticas que são esperadas podem ter diferentes efeitos sobre as florestas, dependendo da geografia e das condições ambientais.
A sensibilidade dos ecossistemas florestais face às alterações climáticas constitui um elemento de força na antecipação de atividades de Investigação e Inovação, nomeadamente nas seguintes áreas: a) Impacto das alterações climáticas e uso do solo na floresta e seu funcionamento; b) Integração de risco de incêndio, seca e uso do solo no planeamento e gestão florestal; c) Aspetos políticos, económicos e institucionais de prestação sustentável de bens e serviços florestais; d) Gestão integrada da floresta e zonas rurais: modelos de decisão de modo a otimizar a gestão de multiobjectivos e multiatores.
É neste contexto que dedicamos a edição deste Newsletter a projectos de Investigação que olham a Floresta como um ecossistema e procuram encontrar soluções efectivas para o sector, tornando-o mais eficiente.
- FIREXTR: Prevenir e preparar a sociedade par eventos extremos de fogo: o desafio de ver a floresta e não somente as árvores
Entrevistámos Fantina Tedim, coordenadora do projeto internacional FIREXTR, cofinanciado pelo COMPETE 2020, que “tem como objetivo compreender como se formam os incêndios extremos, como é possível preveni-los e preparar a sociedade para responder em caso da sua ocorrência, de modo a evitar tragédias como as que ocorreram em 2017, em Portugal”. Professora Auxiliar, desde 2000, na FLUP, coordenou, desde 2007, 2 projetos internacionais e 1 nacional, tendo participado em 3 projetos europeus.
- EasyFlow - Operações logísticas eficientes e colaborativas para maior sustentabilidade das cadeias de abastecimento florestais
O projeto EasyFlow tem por objetivo aumentar a sustentabilidade de cadeias de abastecimento de base florestal através de ferramentas computacionais e tecnologias de sensorização para melhorar a eficiência de uso dos recursos (mão-de-obra, maquinaria e recursos naturais) e permitir o planeamento logístico sustentável e colaborativo. As indústrias de base florestal apresentam uma necessidade clara em melhorar a competitividade, através do aumento da eficiência e sustentabilidade dos processos logísticos. Os produtos florestais apresentam tipicamente margens muito pequenas, as empresas operam em cadeias de abastecimento muito complexas onde as operações de logística representam 30% a 50% do custo final do produto. Um projeto promovido pelo INESC TEC - Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência, em colaboração com a IST-ID - Associação do Instituto Superior Técnico para a Investigação e o Desenvolvimento.
- STEM 2: Significado funcional da Anatomia da Madeira
Promovido pela Universidade de Coimbra, o projeto Stem2 pretende entender o efeito da seca na fisiologia, atividade cambial e formação de madeira do pinheiro bravo, e seu impacto na qualidade da madeira e na produtividade florestal. Os resultados esperados deste projeto de investigação fornecerão uma melhor compreensão de como as árvores respondem a eventos climáticos extremos, o que pode ter implicações significativas na fisiologia das árvores. Este conhecimento é crucial para melhorar a gestão florestal e antecipar novas práticas para manter o valor ecológico e económico das florestas em cenários futuros de mudanças climáticas.
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SustainFor: Avaliação da sustentabilidade de estratégias de gestão do setor florestal no contexto da bioeconomia
Este projecto, desenvolvido pelo Universidade de Aveiro, visa avaliar, pela primeira vez, os efeitos da transição para a bioeconomia nos setores florestais do eucalipto e do pinheiro bravo, para suportar a tomada de decisão no que respeita à escolha de soluções mais sustentáveis tendo em conta os três pilares da sustentabilidade (ambiental, económico e social). O setor florestal desempenha um papel importante no contexto da bioeconomia, uma política estratégica da União Europeia em que os recursos renováveis, tais como a biomassa florestal, são usados para satisfazer as necessidades da sociedade em termos de energia, produtos químicos e matérias-primas.