As empresas portuguesas provam que na natureza nada se perde …
Num mundo de recursos limitados repensar a forma como os consumimos é uma prioridade e as empresas nacionais estão a apresentar respostas, apostando na diferenciação de produto e reinventando materiais. Repensar o produto numa aposta crescente na Investigação &Desenvolvimento e na Inovação.
Nesta Newsletter vamos apresentar-lhe projectos de empresas que olharam para subprodutos ou desperdícios e os tornaram matérias-primas. Um esforço de criatividade, investigação e de tecnologia que acompanha uma prioridade da Comissão Europeia, que em Janeiro deste ano , como parte do seu contínuo esforço para transformar a economia europeia numa estratégia mais sustentável adotou um novo conjunto de medidas, incluindo:
• Uma Estratégia Europeia para Plásticos: até 2030, todas as embalagens de plástico devem ser recicláveis. A Estratégia também destaca a necessidade de medidas específicas, possivelmente um instrumento legislativo, para reduzir o impacto dos plásticos de uso único, particularmente nos mares e oceanos. Sobre este assunto está a decorrer uma consulta pública até 12 de fevereiro.
• Uma comunicação sobre opções para abordar o interface entre legislação química, produtos e resíduos que avalia como as regras sobre resíduos, produtos e produtos químicos se relacionam entre si.
• Um quadro de acompanhamento do progresso em direção a uma economia circular a nível da UE e a nível nacional. É composto por um conjunto de dez indicadores-chave que cobrem cada fase - ou seja, produção, consumo, gerenciamento de resíduos e matérias-primas secundárias - bem como aspectos económicos - investimentos e empregos - e inovação.
• Um relatório sobre matérias-primas críticas e a economia circular.
A Comissão Europeia reforça assim o Plano de Ação, adoptado em 2015, para a Economia Circular, como suporte a toda a cadeia de valor, desde a produção ao consumo, reparação, manufatura, gestão de resíduos e matérias-primas secundárias.
As metas da Comissão Europeia são ambiciosas: 80% para a reciclagem de resíduos de embalagens na UE até 2030; 65%, para os resíduos orgânicos até 2025 e ainda uma redução em 50%, resíduos alimentares produzidos e do lixo marinho até 2030. Em 2014, Portugal só reciclou 30% dos seus resíduos, bem abaixo da média europeia situada em 44%, e depositou quase metade de todos os resíduos em aterros (49% versus 28% de média da UE).
A implementação de medidas na Europa até 2030 terá um impacto positivo de 1,8 mil milhões de euros, de 1 a 3 milhões de empregos e uma redução de 2 a 4% do total anual de emissões de gases de efeito de estufa. Em Portugal, implementar esta estratégia pode permitir uma redução de cerca de 30% nas necessidades de matérias-primas, gerando um impacto positivo no Valor Acrescentado Bruto, estimado em 3,3 mil milhões de euros.
Isto só é possível se repensarmos o modelo de produção e de consumo que nos últimos 150 anos de evolução industrial foi dominado por um modelo linear, em que os bens são fabricados a partir de materiais, vendidos, utilizados e depois assumidos como desperdício. Em face da forte volatilidade, da pressão da economia global, do volume de lixo que o mundo moderno produz e dos sinais de esgotamento de recursos naturais, emerge um modelo económico sustentado na reutilização dos produtos e componentes e num consumo pensado na regeneração e no redesign das peças: a economia circular.
Pretende-se limitar o desperdício, repensar materiais, novas formas de produção e alinhar a procura com esta nova forma de produzir.
Uma economia circular é um sistema de produção regenerativo por opção e design. Substitui o conceito de fim de vida do produto pela restauração, envolve mudanças no uso de energia renovável, elimina o uso de químicos, que prejudicam a reutilização, e visa a eliminação de resíduos através da aposta no design de materiais, produtos, sistemas e modelos de negócios.
A Economia Circular ultrapassa o âmbito e foco estrito das ações de gestão de resíduos e de reciclagem, visando uma ação mais ampla, desde do redesenho de processos, produtos e novos modelos de negócio até à otimização da utilização de recursos (“circulando” o mais eficientemente possível produtos, componentes e materiais nos ciclos técnicos e/ou biológicos). Visa assim o desenvolvimento de novos produtos e serviços economicamente viáveis e ecologicamente eficientes, radicados em ciclos idealmente perpétuos de reconversão a montante e a jusante. Materializa-se na minimização da extração de recursos, maximização da reutilização, aumento da eficiência e desenvolvimento de novos modelos de negócios.
Os consumíveis são feitos de materiais biológicos e não tóxicos, com mínimo impacto na biosfera, a energia é renovável e os bens duradouros são recicláveis ao longo do seu processo de vida. Neste ciclo de produção nada se perde, tudo se transforma protegendo o planeta e melhorando a qualidade de vida das populações.
O World Economic Forum considera ser inevitável a evolução para a economia circular e de partilha, a qual separa os sistemas de produção, produção e consumo das restrições dos recursos naturais, optimizando a utilização dos activos e democratizando as oportunidades de criação de riqueza. Num contexto de contracção de crescimento, este novo modelo parece o caminho para conseguir um contra—ciclo positivo e sustentável.
Esta transformação não é fácil e requer a colaboração global multi-stakeholder para a mudança de sistemas em larga escala (em finanças, tecnologia, cadeias de suprimento), combinada com a mudança específica de sistemas localizados (em cidades, províncias, países).
As empresas nacionais encontram nos instrumentos do COMPETE 2020 a avalanca necessária para explorar novos produtos e serviços economicamente viáveis e ecologicamente eficientes, radicados em ciclos idealmente perpétuos de reconversão a montante e a jusante.
- Projeto projeto EntoValor
Promovido pela Ingredient Odyssey, Lda., tem como objetivo trazer a economia circular para o sector agroalimentar, convertendo resíduos orgânicos em fontes nutricionais para plantas e animais com o auxílio de insetos, particularmente as larvas da Mosca Soldado Negro, Hermetia illucens (Black Soldier Fly – BSF). As larvas de BSF serão a peça chave necessária para fechar o ciclo produtivo dos produtos agroalimentares, permitindo devolver os nutrientes, que de outra forma se perderiam, aos animais e aos solos.
O objectivo do consórcio que desenvolve este projecto é criação de uma nova indústria em Portugal, geradora de valor económico e assente na sustentabilidade agroalimentar.
- Projeto BIOPLASTIC 2.0
O projeto BIOPLASTIC 2.0 vai permitir à United Biopolymers, S.A. desenvolver e comercializar sua gama de produtos GuiltfreePlastics®, que é um bioplástico 100% biodegradável e feito de amido. Com o mercado dos bioplásticos a dar os seus primeiros passos , o GuiltfreePlastics® oferece vantagens técnicas e económicas claras sobre os produtos existentes disponíveis e coloca Portugal na linha da frente das bioindústrias.
O projeto , que consolida a missão da empresa concretiza-se na transposição industrial duma tecnologia já testada em pequena escala, suportado por um modelo de negócio disruptivo face aos atuais que promove uma aceleração brutal na adoção de soluções biodegradáveis, particularmente com destino final nas indústrias alimentares e grande distribuição, para a produção de produtos plásticos, diminuindo o impacto ambiental desses produtos.
- Projeto FlexiRecover
O objetivo principal do projeto FlexiRecover consiste no desenvolvimento de um processo de produção de polióis a partir de resíduos e subprodutos de espumas flexíveis de poliuretano (PU), com qualidade para poderem ser reincorporados na produção de novas espumas, com uma percentagem de 10-20% do total de poliol virgem utilizado e cujos setores de aplicação são os fabricantes de espumas flexíveis de PU.
O sucesso deste projeto estabelecerá condições para a criação de uma empresa (spin-off) partilhada pelas entidades privadas do consórcio, que explorará a produção de polióis a partir dos resíduos de espumas de poliuretano (PUF – PolyUrethane Foam).
- Projeto Eco Sustainable Rail
Liderado pela Extruplás, o consórcio deste projecto pretende valorizar plásticos mistos no desenvolvimento de travessas de caminho-de-ferro ecosustentáveis, que serão testadas em cenário real de funcionamento na Infraestruturas de Portugal (IP).
Globalmente o projeto permitirá contribuir para a redução da deposição de plásticos mistos em aterro, responder a uma necessidade do sector ferroviário e permitir a expansão e diferenciação do portfólio de produtos da Extruplas, permitindo reforçar o seu posicionamento no seu setor de atividade.