Vamos falar de Transformação Digital | À conversa com Fernando Alfaiate, vogal do COMPETE 2020
Vamos falar de Transformação Digital À conversa com Fernando Alfaiate, vogal do COMPETE 2020 |
Quando falamos em Transformação Digital (TD) não podemos limitar-nos ao impacto isolado da aplicação nas organizações das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC). TD é mais do que uma atualização tecnologia. É sobretudo a criação de condições nas organizações que, baseando-se na utilização de TIC, permitam às pessoas e às empresas encontrar soluções para as suas necessidades tradicionais ou, no caso das empresas, melhorar os seus sistemas e processos em benefício dos seus clientes, aumentando a eficiência e eficácia, e tornando-se assim mais competitivas.
Desta forma, a TD potencia o uso das TIC para melhorar o desempenho e o alcance das empresas no mercado global, utilizando recursos digitais para inovar e reinventar processos e novas formas de fazer negócio, conectando as preferências do cliente à produção.
Para prosperar neste novo paradigma a gestão das organizações precisa de uma nova forma de pensar e decidir, uma vez que não basta adquirir nova tecnologia. È imprescindível, adicionalmente, explorar a eficácia dessa tecnologia para orientar o negócio no sentido da percepção evolutiva do mercado.
Como a TD se coloca para cada organização de forma diferente, pode ser difícil diagnosticar uma estratégia única de transição para a economia digital que se aplique de forma universal. Em termos gerais, a TD relaciona-se com a integração das TIC em todas as áreas de um negócio de uma organização, resultando em mudanças fundamentais na forma como elas se interconectam e criam valor para o cliente. Adicionalmente, a acompanhar a inovação tecnologia, é imprescindível uma mudança cultural que a TD exige nas organizações, impondo a que estas desafiem continuamente o status quo, façam desenvolvimentos experimentais e se sintam confortáveis com o fracasso. A existência de uma estratégia inovação é por isso um dos factores críticos de sucesso nesta transição para a economia digital.
Como se observa em vários artigos de gestão e de prospectiva de modelos de negócios, a TD, para uma economia cada mais digital, está na ordem do dia, sendo sugerido por muitos autores especialistas nesta matéria que esta transformação seja encarada como uma questão de sobrevivência para as organizações, caso não aproveitarem e anteciparam as novas oportunidades de negócios.
As organizações devem assim utilizar a inovação como instrumento para criar vantagens competitivas. Mas quando falamos de inovação não nos podemos cingir à tradicional inovação tecnológica. Mais do que este tipo de inovação, as organizações e sobretudo as empresas, devem apostar, adicionalmente e de forma conjugada, em outros tipos de inovação relacionados com gestão e administração de novas formas de organização do trabalho, o marketing e serviços de pós venda e de acompanhamento do cliente, os quais induzem a criação de uma nova visão para os seus modelos de negócio. A este respeito veja-se que a OCDE recentemente publicou uma nova versão do Manual de OSLO onde salienta que a inovação e sua dimensão digital estão a desempenhar um papel cada vez mais relevante em todos os sectores e no quotidiano dos cidadãos e das empresas em todo o mundo.
De facto a TD já começou. A empresa de consultoria IDC-Portugal estima que em 2019, mais de 50% das 500 maiores empresas portuguesas tenham uma equipa dedicada à TD, seguindo as tendências das maiores empresas europeias que já estão a dar esse passo desde 2017.
O COMPETE2020 não poderia deixar de acompanhar e colocar-se a par desta tendência evolutiva. Se analisarmos cuidadosamente as orientações programáticas estabelecidas deste período de programação, ciclo de fundos estruturais 2014-2020, concluímos que, de forma objetiva, o tema da TD não está aí explicitamente referido. Todavia, este novo paradigma, que entretanto surgiu mais recente, não poderia ficar excluído dos objetivos do COMPETE2020, tendo em consideração que a sua missão principal é o incentivo ao investimento na inovação, na investigação científica e tecnologia, para que as empresas obtenham vantagens competitivas no mercado global. E a este nível, temos obtido bons resultados e uma boa resposta das empresas em investimentos em investigação e em inovação. Nesta edição vamos apresentar um exemplo, entre muitos que estão na nossa carteira de projetos apoiados, de um projeto de investimento inovador, que concretiza um novo modelo de negócio, tendo em vista a obtenção de vantagens competitivas.
Todavia, as empresas não podem isoladamente suportar todo o esforço neste exigente percurso para uma economia mais digital. Também o Estado e os serviços que presta às empresas devem contribuir para uma efetiva redução dos custos de contexto, utilizando metodologias de simplificação administrativa e de reengenharia de processos nos serviços em benefício das empresas. Nesta vertente, damos também nota nesta edição de alguns projetos no âmbito da TD na Administração Pública que inequivocamente estão a contribuir uma redução substancial dos custos de contexto, contribuído assim, indiretamente, mas da mesma fora, para o mesmo objetivo de melhoria da competitividade das empresas e do país.
Também internamente, na organização funcional do COMPETE2020, a preocupação com a TD e com a diminuição dos custos de contexto se coloca. Sendo o COMPETE2020, responsável pela coordenação da Rede do Sistema de Incentivos às empresas do PT2020, os mecanismos e processos de recolha e tratamento de dados das empresas que se candidatam aos apoios estão a ser analisados, numa perspectiva da TD, por uma equipa dedica a esta matéria. Dando testemunhos nesta vertente, iniciamos esta edição com um caso escrito numa medida SIMPLEX+ e que se traduz na desmaterialização e simplificação administrativa no processo de formalização contratual, com recurso à assinatura digital.
Espero que aproveite a leitura destes casos, os quais, acreditamos, poderão servir de inspiração para iniciarem ou reforçarem nas vossas organizações na Transformação Digital.