Moldes | Um setor de vanguarda orientado para o mercado global: à conversa com Nuno Silva , Presidente do CENTIMFE
A Indústria dos moldes em Portugal deu os seus primeiros passos em 1934, na Marinha Grande, com o iniciar de laboração de uma empresa de moldes para vidro. Foi a partir desta iniciativa, que se iniciou o “boom” da indústria, tendo sido criadas inúmeras empresas, com especial incidência na década de 80/90. Foi também nesta década que as exportações da indústria dos moldes começaram a fazer-se de uma forma mais intensa, tendo atingido nos anos mais recentes valores muito elevados (mais de 80% da produção vai directamente para o exterior). No seguimento do crescimento do sector, duas regiões foram crescendo e ganhando grande importância: a Marinha Grande e Oliveira de Azeméis.
Nos inícios de 1983 foi instalado na empresa Edilásio Carreira da Silva, Lda., em Picassinos (Marinha Grande) um sistema CAD/CAM multiposto. Era o primeiro sistema desse tipo instalado numa empresa portuguesa de moldes e ao mesmo o primeiro sistema multiposto a operar num ambiente industrial num sector da metalomecânica portuguesa. Era também uma entrada precoce na utilização de uma tecnologia ainda incipiente, em especial para uma empresa de pequena ou média dimensão. A nível mundial a experiência existente na indústria de moldes era ainda muito restrita.
Era o início de um percurso marcado pela constante procura pela diferenciação e pela elevada capacidade de adaptação às necessidades dos seus clientes e às evoluções, quer dos mercados, quer das tecnologias.
De acordo com o Ponto de situação publicado pela CEFAMOL, em 2017 as exportações do sector voltaram a atingir um valor recorde, ascendendo a mais de 675 milhões de euros, tornando-se o melhor ano de sempre, em termos de produção e exportação, pela sexta vez consecutiva. O valor das exportações mais do que duplicaram face ao valor de 2010, provando a elevada capacidade de adaptação às necessidades dos seus clientes e à evolução, quer dos mercados, quer das tecnologias.
Atualmente, a indústria de moldes emprega aproximadamente 10 460 trabalhadores, tem 515 empresas, maioritariamente de pequena e média dimensão (PME), dedicadas à conceção, desenvolvimento e fabrico de moldes, com uma distribuição geográfica centrada nas regiões da Marinha Grande e Oliveira de Azeméis.
Portugal é o oitavo produtor do mundo e o terceiro a nível da Europa, no que a moldes para a injeção de plástico diz respeito, exportando mais de 80% da produção total.
Em 2017, os principais mercados dos moldes portugueses foram Espanha (22%), Alemanha (21%), França (12%), República Checa (6%) e Polónia (5%). Este grupo foi seguido pelos Estados Unidos, México e Reino Unido. O “top ten” dos 'mercados destino' fica completo com a Eslováquia e Hungria. Tais resultados, demonstram a eficácia da estratégia de promoção da indústria, coordenada pela CEFAMOL, e que tem incidido as suas atividades, para além dos mercados tradicionais e que ocupam as primeiras posições do pódio, nas regiões da Europa Central e de Leste, bem como na América do Norte.
Ao longo dos últimos anos, a análise da evolução da balança comercial demonstra a forte vocação exportadora do sector. O saldo positivo da balança comercial registou uma tendência de crescimento nos últimos anos, tendo passado de 248 milhões de euros em 2010, para 445 milhões de euros em 2017.
Um sector de grande intensidade tecnológica que aposta fortemente na I&I permitindo posicionar-se na cadeia de valor a seu favor para obter vantagem competitiva, numa aposta clara na diferenciação.
E é no contexto da realização da Semana dos Moldes, a realizar entre 1 e 4 de outubro, na Marinha Grande e Oliveira de Azemeis, promovida pelo Cluster Engineering & Tooling, que acolheu o Alto Patrocinio da Presidência da República, que dedicamos esta edição da Newsletter ao sector, entrevistando o Presidente do Centimfe , Dr. Nuno Silva e apresentando projetos de I&D apoiados pelo COMPETE2020 que serão apresentados dia 1 de outubro
À conversa com Nuno Silva
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O setor dos moldes é um caso de sucesso nacional. O que considera ser crítico para o sucesso da estratégia do sector? |
Em sua opinião quais as razões para a localização e aglomeração do setor? |
As razões são históricas e sobejamente conhecidas, começando com a instalação da primeira fábrica de Moldes do Senhor Anibal Abrantes que acabou por potenciar um ciclo de spin-offs industriais e a dinamização de uma rede de empresas que se habituaram desde sempre a trabalhar em conjunto na conquista do mercado internacional. Este movimento foi sendo suportado pelas instituições do sector, CEFAMOL, CENTIMFE, CENFIM, OPEN e mais recentemente da POOL-NET que coordena o Cluster Engineering & Tooling.
A cultura de inovação está no DNA do setor. Qual o papel do Centimfe na promoção desta dinâmica? |
Convergência entre a indústria e centros do saber, para si quais as vantagens e mais-valias? |
O lema de que “juntos somos mais fortes” tornou-se evidente e vital para o nosso futuro coletivo. A dimensão das nossas empresas, o mercado onde atua e a crescente sofisticação dos negócios impõe que a diferenciação também seja feita pela Inovação.
Quais os grandes desafios para o setor no contexto de globalização e na actual conjuntura geopolítica? |
O setor está muito dependente da Indústria Automóvel (para o bem e para o mal), integrando cadeias de fornecimento globais, mas onde os negócios são cada vez mais sofisticados, dependendo não de lógicas do saber-fazer ou da fidelização de clientes, mas de interesses económicos distribuídos no globo, que impõem cada vez mais regras e condicionantes dramáticas para as nossas PMEs. Temos a vantagem de ser flexíveis, temos uma indústria , modernizada, termos uma atuação em mais de 86 paises, mas os modelos de negócio das OEM (empresas multinacionais) e a sua crescente integração, aportam aos negócios exigências limite que nos obrigam a reforçar com inteligência as nossas ofertas. Ganhar projetos chave-na-mão é fundamental, como é fundamental, gerir bem as margens do negócio, apostando fortemente na diferenciação pela via do “Design for Manufacturing” e na “Fabricação com Zeros-Defeitos”.
Por outro lado, a aposta na internacionalização com a maior proximidade aos clientes e a partilha de projetos a escala global, é também um processo difícil que parece cada vez mais evidente. Contudo, o maior risco penso que será a afirmação de uma indústria competitiva num processo de transformação acelerada em Indústria de capital intensiva. Por isso a nossa aposta no Cluster e na promoção da Marca Coletiva ser fundamental para elevarmos a perceção no Mercado do valor da nossa oferta coletiva.
Que papel têm desempenhado os Fundos da União Europeia na dinamização do sector? |
A nossa Indústria e os nossos empresários têm feito um enorme esforço na modernização das empresas e na promoção de atividades de I+D+I. Os Fundos da UE, têm permitido alavancar esta estratégia, facilitando a sua concretização mais rápida, mas também, cobrindo em grande parte o risco tecnológico, uma vez que a adoção de tecnologias de fonteira tecnológica ou emergentes, nunca permite assegurar a partida resultados de eficiência económica.
Não podemos esquecer que estes fundos têm a contribuição do Estado Português (nossos impostos) e por isso devemos aproveitá-los ao máximo uma vez que a nossa estrutura de Impostos em Portugal sobre a Indústria e em especial sobre o