A indústria que se fez sexy e levou o Made in Portugal aos pés do Mundo

No rescaldo de uma presença fortíssima na MICAM e de um momento em que a moda nacional se vai mostrar em todo o esplendor na Moda Lisboa e no Portugal Fashion, propomo-nos falar da indústria do calçado em Portugal.

O que há mais para dizer de uma indústria dita tradicional que se reinventou e pôs Portugal a calçar princesas ?

O mercado do calçado é exigente , o consumidor atual não quer formas que o magoem mas também não quer modelos eternos. E exploram-se os sapatos como nuances de paixão. O sapato que seduz, com peles de primeira qualidade, manufacturados e artesanais, inova-se na tradição e apresenta-se o conforto máximo em designs únicos e procuram-se nichos aproveitando-se a capacidade de adaptação às características dos pequenos segmentos de mercado com necessidades exclusivas e que pagam mais por isso. Processos produtivos flexíveis, capacidade de personalização, expedição e entrega fracionada são características necessárias para quem quer atuar nesse tipo de negócio e as empresas deste setor souberam fazê-lo.

Indo além da funcionalidade essencial, o requinte imaginativo de recursos ornamentais, gerador de”moda”, fez uma permanente adaptação da pura e simples função de calçar os pés na graça de enfeitá-los, ou quem sabe, destacá-los. Nesse processo, as mudanças de comportamento foram causadoras de mudanças no designer do calçado e as razões para o uso deste ou daquele modelo. Os sapatos ganharam alma, as formas e os materiais multiplicaram-se e pontuaram características de quem os usavam.

É neste contexto que a indústria nacional mais sexy se soube posicionar. Depois da aposta no design, a ampliação dos sistemas produtivos e quem sabe a incorporação da industria 4.0 , melhores canais de distribuição e comunicação, implementação de novas tecnologias , e a acumulação de experiência e conhecimento.

Quisemos saber juntos dos protagonistas quais são as razões do sucesso, os desafios e o papel que os fundos da união europeia tiveram e têm neste percurso. 

 

Obrigada a todos os que aceitaram colaborar connosco.

 

João Maia …

 

 

…Diretor Geral da APICCAPS

Em entrevista ao COMPETE 2020…

 

O sucesso do setor do calçado é visto como um case study. Mas não há receitas ou há?

 

É sempre muito difícil responder a essa questão. Os resultados positivos do sector do calçado devem ser imputados a um conjunto de fatores, no entanto o facto de durante as ultimas décadas o sector sempre dispor de uma estratégia muito bem definida contribuiu de uma forma central para estes resultados. O setor de calçado dispõe de planos estratégicos regulares e contínuos desde o final da década de 70. Estes planos oferecem um rumo coerente há mais de trinta anos e trouxeram a ambição clara de tornar o calçado português numa grande referência internacional.

Este foi também um sector que, em momentos de grande incerteza internacional, registou níveis de investimento muito acima dos seus concorrentes internacionais. Este facto muito revela da capacidade empreendedora dos nossos empresários.

O setor quis migrar a produção para segmentos de maior valor acrescentado e, mesmo, de luxo, quis apostar no desenvolvimento de soluções tecnologicamente avançadas e à medida das empresas portuguesas, potenciando uma capacidade de resposta rápida às solicitações dos mercados. Por fim, o setor, através da APICCAPS, tem vindo a efetuar grandes esforços em matéria de promoção comercial externa, que se têm revelado fundamentais para o seu crescimento.

A imagem de Portugal ainda é um obstáculo ou vivemos uma primavera de curiosidade em torno de tudo o que é português?

 

A imagem de Portugal no plano internacional hoje é incomparavelmente melhor do que há uma década. Todos os sectores de atividade, em especial os de forte vocação exportadora como calçado, são favorecidos com esta melhoria na perceção de tudo o que é português. No caso do setor de calçado, não só as exportações têm vindo a aumentar de forma consistente nos últimos anos, como hoje, entre os principais produtores mundiais, Portugal apresenta o segundo maior preço médio de exportação. Esse é um caminho que queremos aprofundar nos próximos anos. 

 

A vossa campanha é emotiva em torno de uma “Portugalidade”. Diria que mais do que os sapatos levam Portugal na mensagem. Porquê esta estratégia?

 

Aquilo que nos distingue internacionalmente é o facto de sermos portugueses. É a riqueza da nossa cultura, das nossas tradições e da nossa história. Por outro lado, sempre entendemos que temos uma grande responsabilidade de, ao promovermos a nossa indústria, fazermos «pontes» com outros sectores da economia portuguesa. Quanto mais visibilidade Portugal tiver nos mercados internacionais maiores os benefícios para o país e para cada um de nós.

 

O setor do calçado soube alavancar os investimentos com os Fundos da União Europeia. Continuam a ser estratégicos?

 

Mais do que estratégicos, são essenciais para colmatar falhas de mercado.

 Ao longo das ultimas décadas, o sector sempre contou com os fundos da União Europeia para a implementação da sua estratégia sectorial, nesta a internacionalização e o acesso a novos mercados sempre assumiram um papel central.

 Num sector constituído apenas por pequenas empresas, os apoios públicos são essenciais para a implementação de atuações coordenadas; já que estas não podem ser valorizadas pelas empresas.

 Em particular nos últimos oito anos, as exportações passaram de 1.200 para 1.950 milhões de euros anuais. São já oito anos consecutivos de crescimento - cerca de 60% - que conduziram a um reforço da nossa posição nos principais mercados internacionais. Este crescimento conduziu a que neste mesmo período tenham sido criados mais de 9.000 postos de trabalho.

Parece-me claro que esta estratégia formatada, em conjunto pela APICCAPS e Programa Compete 2020, é uma «parceria público-privada» com excelentes resultados.

 
 
 
 

03/10/2017 , Por Paula Ascenção