SHARP: uma nova linha de produtos alimentares à base de algas
O COMPETE 2020 é um Programa decisivo para fomentar “a cooperação entre entidades, nomeadamente entre o tecido empresarial e a comunidade científica”, afirma Carla Monteiro, responsável pelo projeto SHARP - Seaweed for Healthier Traditional Food Products.
O SHARP - Seaweed for Healthier Traditional Food Products é um projeto cofinanciado pelo COMPETE 2020 e visa desenvolver uma linha de produtos alimentares à base de algas, com benefícios comprovados. Envolve uma equipa multidisciplinar e visa desenvolver e lançar novos produtos alimentares de potencial nutricional superior aos existentes no mercado nacional e internacional, oferecendo soluções promotoras de uma melhoria do estado de saúde e de envelhecimento saudável.
Com inicio em 2016 e uma duração de 36 meses, o projeto “SHARP - Seaweed for Healthier Traditional Food Products”, é promovido em co-promoção pelas empresas Irmãos Monteiro S.A., Centralrest Lda. e Algaplus Lda. e pela Universidade de Aveiro.
Cofinanciado pelo COMPETE 2020 no âmbito do Sistema de Incentivos à I&DT, o projeto SHARP envolve um investimento elegível de 941.949,22 euros, a que corresponde um incentivo FEDER de 633.721,67 euros.
Em entrevista ao COMPETE 2020, Carla Monteiro, responsável pelo projeto e Administradora na Irmãos Monteiro S.A., revela na primeira pessoa qual a mais-valia desta tipologia de projetos, que associa uma pluralidade de agentes económicos e de instituições de saber.
Licenciada em Engenharia Agro-pecuária pela Escola Superior Agrária de Coimbra, iniciou funções na Irmãos Monteiro, SA em março de 2004 como Diretora de Produção, dando também apoio aos departamentos de Qualidade e de I&DT. Em 2009 sentiu necessidade de formação na área gestão pelo que se candidatou ao MBA Executivo na EGP – University of Porto Business School, tendo terminado esta formação em 2010 com sucesso. A Irmãos Monteiro é uma empresa familiar, fundada pelo seu pai (Joaquim Monteiro), que sofreu uma restruturação em 2011, altura em que passou a Administradora da empresa, juntamente com ele e com o seu irmão (Pedro Monteiro), mantendo, no entanto, as funções anteriormente descritas.
. De forma muito sucinta descreva-nos este projeto?
Com a sua conclusão prevista no final de 2018, o projeto SHARP nasceu da constatação partilhada pelos seus copromotores de um conjunto de aspectos de natureza diversa que, numa análise integrada, remetem para uma oportunidade de inovação significativa ao nível do desenvolvimento de novos produtos alimentares – fileira produtiva na qual se enquadram, em planos distintos, os vários copromotores empresariais do projeto.
Destes variados aspectos/tendências subjacentes à motivação para a concetualização do projeto SHARP destacamos com particular relevância:
> crescente consciencialização, transversal a todas as faixas etárias, da necessidade de adotar novos e melhores hábitos alimentares, devido ao aumento perceptível das doenças prejudiciais à qualidade de vida e saúde da população em geral … elevadas taxas de obesidade, doenças cardiovasculares, hipertensão, entre outras.
> paralelamente a esta tendência, as sociedades permanecem no aprofundar de tendências verificadas nas ultimas décadas que se traduzem em ritmos de vidas muito dinâmicos, em que o protagonismo das refeições “prontas” – frescas, congeladas, pré-cozinhadas … - tem assumido importância crescente.
> de acordo com várias fontes de informação, os consumidores cada vez mais procuram produtos “naturais”, produzidos de forma sustentável, localmente e sem OGM, privilegiando produtos que promovam benefícios ambientais, sociais e de saúde (p.e. sem glúten, ricos em nutrientes específicos e baixos em calorias).
> além de poderem ser consumidas diretamente, as macroalgas começam a ser vistas como um ingrediente natural e sustentável que pode ser adicionado a produtos alimentares existentes, imputando-lhes importantes benefícios de saúde, assistindo-se a um aumento na procura destes produtos.
As macroalgas marinhas são atualmente apontadas como os alimentos de origem vegetal do futuro e incluídas na lista das “super-foods” - são uma fonte rica e equilibrada de nutrientes chave, estando a sua ingestão associada à prevenção de vários doenças. Apesar de o consumo de macroalgas na Europa ainda ser incipiente se comparado com os países asiáticos, há um interesse cada vez maior por parte dos consumidores e de empresas produtoras de “alimentos tradicionais” em integrar este ingrediente na sua alimentação e produtos - dados recolhidos sobre 2013 apontam para o lançamento no mercado europeu de 250 novos produtos contendo este “novo ingrediente”.
Em conjunto, os fatores apontados foram a forte motivação para a idealização do projeto SHARP (Seaweed for HeAlthier tRaditional Food Products - Macroalgas como "novo ingrediente" para produtos alimentares tradicionais mais saudáveis). Destacamos a este respeito que o território de inovação no qual se desenrola o projeto é emergente a nível global - apesar do verificado aumento de novos produtos disponíveis nos mercados internacionais contendo este "novo ingrediente", muitos deles limitam-se à mistura dos ingredientes sem colocar a devida preocupação nos atributos do produto final. É neste quadro que se entende que esta é uma área subexplorada e com significativa margem de atuação ao nível das possibilidades de desenvolvimento de novos produtos e de I&D associada.
O projeto SHARP pretende assim dinamizar o mercado alimentar Português através da inovação em produtos “tradicionais” que possam atingir diferentes públicos, generalizando o consumo de produtos diferenciados pela qualidade sensorial, nutricional e que contribuam para uma dieta saudável da população.
A proposta é assim a de desenvolver produtos que:
1. Sejam familiares ao paladar dos consumidores portugueses e europeus
2. Tenham impacto positivo validado na saúde da população, contribuindo para um envelhecimento saudável
3. Sejam equilibrados em termos nutricionais
4. Ofereçam garantia de qualidade, origem e sustentabilidade dos ingredientes
5. Tenham um preço de mercado competitivo
. Quantas entidades estiveram envolvidas?
A idealização do projeto SHARP nasceu da partilha de ideias em torno dos desafios e expectativas de três empresas com atividade na fileira do agro-alimentar – a Irmãos Monteiro S.A., a Algaplus, Lda e a Centralrest, Lda. Atuando em nichos específicos e assumindo diferentes posicionamentos nas suas cadeias de valor, estas empresas procuraram encontrar na emergência da relevância das algas alimentares o mote para o desenvolvimento de um projeto comum com vantagens diferenciadas para cada uma.
Considerando o grau de ambição cientifico-tecnológica a que o projeto se propõem considerou-se do maior interesse e relevância procurar envolver no consórcio o Departamento de Química da Universidade de Aveiro – unidade do Sistema Cientifico e Tecnológico nacional com ampla experiência no relacionamento com a industria agro-alimentar e na realização de atividades de I&D desenhadas com o intuito de facilitar a transferência de conhecimento e tecnologia em operações especificamente desenhadas para responder às necessidades da industria.
Sendo assim, o consórcio do SHARP é composto por uma empresa que é única na Europa na forma como produz macroalgas, quer em termo de qualidade como sustentabilidade e que irá fornecer e adaptar as macroalgas aos novos produtos (Algaplus, Lda), uma empresa que produz e comercializa refeições prontas disponíveis na grande distribuição mas chegando também a cantinas, lares e restauração (Centralrest, Lda) e, por fim, o líder de projeto, Irmãos Monteiro, S.A. que produz e comercializa produtos pré-cozinhados, produtos de salsicharia e cárnicos reconhecidos pela sua qualidade, tanto pelos grandes clientes de retalho como pelo consumidor final. O copromotor do SCT nacional - Universidade de Aveiro - tem conhecimento técnico comprovado na área de química alimentar, nomeadamente na caracterização de nutrientes e suas propriedades biológicas, bem como na otimização/desenvolvimento de produtos alimentares e seus processos de conservação. Nos últimos anos tem dedicado atenção à caraterização das macroalgas e ao desenvolvimento de produtos de valor acrescentado a partir das mesmas.
. Qual a mais-valia do trabalho em parceria entre promotores de áreas tão distintas?
O projeto SHARP pretende inovar em produtos alimentares “tradicionais” que possam atingir diferentes públicos, generalizando o consumo destes produtos diferenciados. A proposta é a de desenvolver produtos, a um preço de custo competitivo, que sejam familiares ao paladar dos consumidores, sejam equilibrados em termos nutricionais, ofereçam garantia de qualidade, origem e sustentabilidade dos ingredientes e tenham um impacto positivo, validado cientificamente.
Para que o projeto tenha resultados positivos são necessários parceiros com competências técnicas de excelência, com experiencia nas áreas a desenvolver e com uma visão inovadora e foi a procura desse atributo que esteve subjacente ao estabelecimento de um consórcio de trabalho colaborativo com os quatro parceiros envolvidos.
A Irmãos Monteiro, S.A., já com mais de 40 anos de atividade na área da indústria das carnes e com 20 anos na indústria dos preparados de carne e pré-cozinhados, tem como lema responder rápido e de forma eficaz às mais variadas necessidades do mercado, mercado este que, ao longo dos últimos anos, tem vindo a mostrar enormes lacunas na área das refeições rápidas saudáveis.
A Centralrest, Lda, já com 10 anos de experiência na área das refeições prontas a consumir, é uma empresa especializada em criar soluções, tanto para o canal HORECA como para a grande distribuição, ou seja, para o consumidor final, que, cada vez mais, é mais exigente e tem menos tempo para fazer as suas próprias refeições em casa.
A Algaplus, Lda, que é a empresa mais jovem do consórcio mas nem por isso com menos experiência no que respeita a inovação e o desenvolvimento. É uma empresa especializada na produção de macroalgas em sistema de aquacultura que já apresenta no seu portfólio vários produtos inovadores com algas com demonstrado sucesso comercial.
Por último, a Universidade de Aveiro, que é um polo tecnológico internacionalmente reconhecido com ligações estreitas às empresas do seu distrito, nomeadamente o Departamento de Química. Tem cooperado nos mais diversos projetos e programas e tem prestado importantes serviços a empresas e outras entidades, sendo um espaço de investigação onde se desenvolvem produtos e soluções inovadoras que contribuem para o avanço da ciência e tecnologia.
Este consórcio responde assim claramente à existência de especialização científica e económica no setor e esperamos que venha a contribuir significativamente para a ambição de posicionamento do país como líder em produtos que se destaquem pela qualidade organolética, nutricional e segurança alimentar, apostando nas características únicas e diferenciadoras dos produtos nacionais e que constituem uma vantagem para os mercados diferenciados (nacionais e internacionais) que privilegiam a saúde e o bem-estar.
. Poderá afirmar-se que o programa COMPETE 2020 foi um fator estratégico para mobilização dos vários parceiros do projeto? Em que medida?
Sim. A existência de programas desta natureza, que fomentam a cooperação entre entidades, nomeadamente entre o tecido empresarial e a comunidade científica, são decisivos para promover processos de partilha de conhecimentos e experiências e, consequentemente, para a criação de massa crítica e reforço de competências de cada participante.
As expetativas de participação nestes projetos de I&D em copromoção passam igualmente por aprofundar os laços de cooperação entre as várias organizações, lançando as sementes para colaborações futuras em função de potenciais oportunidades que possam vir a ser detetadas, tendo presente que cada entidade passará a ter um conhecimento mais aprofundado das atividades realizadas pelos restantes parceiros.