PICASSo, arco-irís de corantes orgânicos multi-funcionais provenientes de cogumelos e plantas

Num contexto em que os clientes finais estão cada vez mais informados e conscientes do impacto ambiental dos seus estilos de vida e padrões de consumo, é importante que as empresas encontrem soluções tecnologicamente avançadas que vão ao encontro desta ambição. É neste contexto que surge o projeto PICASSo, que visa o desenvolvimento de uma linha inovadora de produtos têxteis coloridos, recorrendo apenas a compostos de origem natural extraídos a partir de plantas e cogumelos.

Há milénios que o Homem conhece diversas espécies de fungos e as utiliza para os mais diversos fins, inclusive na tinturaria, mantida na Europa até ao século XIX. O uso de corantes naturais foi praticamente abandonado devido ao desenvolvimento da indústria química, que permitiu a produção em larga escala de corantes sintéticos mais acessíveis e eficientes que os naturais.

Actualmente, cresce o interesse pelo recurso a corantes de origem natural e reencontram-se as antigas técnicas de tingimento. Para além de inúmeras espécies de plantas, também os fungos, em particular os líquenes e cogumelos, eram vulgarmente utilizados para produção de tinturas de têxteis.

Ao interesse natural de um mercado cada vez mais sensível aos produtos ecológicos junta-se a pressão exercida pela legislação europeia REACH (Registration, Evaluation, Authorisation of Chemicals), que, ao impor restrições à utilização de produtos até então amplamente utilizados no setor têxtil (como é o caso dos agentes antimicrobianos à base de sais quaternário de amónio e de triclosano), impulsiona a procura de compostos alternativos, mais sustentáveis e inócuos, sendo os compostos químicos de base natural bons candidatos a dar resposta às restrições impostas.

Para responder à necessidade da indústria têxtil, no que respeita à obtenção de compostos base natural (com potencial de coloração e antimicrobianos) para a produção de têxteis com impacto reduzido no ambiente e na saúde humana , foi criado um consórcio com complementaridade de valências constituído por empresas com experiência no setor têxtil (TINTEX) e no fornecimento de plantas (ERVITAL) e cogumelos (BIOINVITRO) e por entidades do sistema I&I (CeNTI e CITEVE), que serão os dinamizadores das tarefas de I&D.

O projeto PICASSo envolve um total de 816 mil euros de investimento, sendo 591 mil euros de financiamento do FEDER, através do COMPETE 2020. Representa a aposta que o setor empresarial faz no I&DT , assumindo a relevância do desenvolvimento de novas soluções e produtos que tornem as empresas mais próximas das necessidades de clientes cada vez mais exigentes.

O projeto PICASSo irá desenvolver soluções inovadoras, que vão ao encontro das necessidades e exigências do setor têxtil, fornecendo compostos de base natural que proporcionam propriedades antimicrobianas e com potencial de coloração .

A investigação a empreender no âmbito do PICASSo terá o seu enfoque em dois desafios principais: a extração de compostos naturais, a partir de cogumelos e plantas, com base em processos eco eficientes e de fácil implementação industrial, e a compatibilidade dos compostos extraídos com substratos têxteis.

Além da vertente inovadora de valorização das funcionalidades intrínsecas de uma grande variedade de compostos presentes em plantas e cogumelos, este projeto vai ao encontro das necessidades de sustentabilidade ecológica e económica do mercado mundial, uma vez que pretende explorar novos métodos inovadores de coloração e funcionalização têxtil, e dar prioridade a extratos naturais provenientes de resíduos e/ou espécies de cogumelos e plantas de baixo valor comercial.

17/10/2016 , Por Paula Ascenção
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