SCZ_bioMark - Diagnóstico e prognóstico da esquizofrenia: a caminho de uma medicina personalizada

Promovido pelo Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra, este projeto visa encontrar novos biomarcadores para o diagnóstico e prognóstico da esquizofrenia, construindo as ferramentas necessárias para uma medicina personalizada.

Enquadramento

A esquizofrenia é um distúrbio crónico e complexo cujas causas ainda não são bem conhecidas. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a esquizofrenia está entre as 10 principais causas de incapacidade em todo o mundo e é o segundo maior contribuinte à carga global de doenças.

A esquizofrenia atinge cerca de 48 mil pessoas em Portugal. Os custos da doença em Portugal, na sua maioria associados ao impacto que esta tem na vida profissional de doentes e dos seus cuidadores, chegam aos 436,3 milhões de euros por ano.

A esquizofrenia tem um impacto significativo no trabalho, educação, relações interpessoais, capacidade de viver de forma independente e prestar autocuidados. Dessa incapacidade resultam os chamados “custos indiretos” da doença— calculados em cerca de 340 milhões de euros por ano —, a grande parte associados ao absentismo, não participação no mercado de trabalho e produtividade reduzida dos doentes. Estes custos indiretos representam cerca de 78% do custo total com a doença em Portugal. Noutras doenças, esse valor é quase sempre minoritário. (Dados retirados de um artigo do jornal O Público de Janeiro de 2018 acerca do trabalho, assinado por seis investigadores do Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência, da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, e do Centro de Estudos Aplicados da Católica Lisbon School of Business and Economics)

O Projeto

O diagnóstico da esquizofrenia é baseado principalmente numa entrevista clínica sem qualquer apoio biomolecular que possa aumentar o grau de confiança no diagnóstico e guiar no prognóstico. Atualmente não há biomarcadores utilizados na prática clínica. Estes são urgentemente necessários para melhorar e acelerar o diagnóstico e o prognóstico da doença.

Vários potenciais biomarcadores genéticos, proteicos e metabólicos foram propostos anteriormente na literatura ou até comercializados. No entanto, a sua falta de robustez levou à sua remoção do mercado ou à não-aceitação para utilização clínica. Existe assim uma necessidade clara de um estudo aprofundado que possa combinar todas estas abordagens (entrevista clínica, proteínas, metabolitos e genes) num único modelo preditivo.

Portanto, a identificação de um conjunto de biomarcadores que poderiam fornecer uma impressão digital molecular específica da doença permitirá um diagnóstico com um maior grau de sensibilidade e especificidade.

É precisamente isto que este projeto de investigação propõe realizar, juntando uma equipa clínica com longa experiência no diagnóstico de milhares de doentes, com um registo científico em psiquiatria genética e pertencente a consórcios internacionais, para além de estar envolvida no melhoramento dos procedimentos de entrevista.

O projeto começará pela criação de um biobanco onde os pacientes serão cuidadosamente caracterizados. Os pacientes serão recrutados de doentes em tratamento no Departamento de Psiquiatria do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, em unidades de internamento ou ambulatório.

O projeto de investigação será baseado na caracterização extensiva clínica com procedimentos de diagnóstico atuais e de acordo com informação de orientações internacionais.

Este projeto irá gerar um conhecimento enorme sobre um conjunto de pacientes bem caracterizados e aumentará o conhecimento molecular atual sobre a fisiopatologia da esquizofrenia. Mais importante ainda, espera-se que forneça um modelo preditivo baseado em entrevistas e em dados moleculares que possa ser usado tanto para diagnóstico como para prognóstico.

A novidade do projeto não está em cada um dos procedimentos individuais, mas na caracterização exaustiva realizada a cada doente, com uma capacidade de integração de toda a informação proveniente de quatro screenings independentes, nomeadamente entrevista clínica, proteínas, metabolitos e genes.

É espectável obter um modelo preditivo baseado num reduzido painel de biomarcadores com informação suficiente para ser usado no diagnóstico e prognóstico da esquizofrenia, sozinho ou em combinação com a entrevista clínica. Para além disso, doentes já diagnosticados com a patologia irão beneficiar com a sua assinatura molecular indicando-os como alvo da terapia prescrita, ou sem capacidade de resposta a esta, assim como o seu potencial de progressão da doença. Acredita-se que para além do enorme retorno clínico que este projeto ambicioso mas exequível apresenta, haverá igualmente um enorme impacto económico e social, dado que os doentes com esquizofrenia têm imensas dificuldades no local de trabalho e na sua integração na sociedade.

 


Entrevista a António Macedo 

Diretor do Instituto de Psicologia Médica da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e o Investigador responsável do projeto SCZ_ bioMark

 

Quais os principais desafios com que se depararam no desenvolvimento do projeto?

Este projeto visa uma aquisição completa, estandardizada e rigorosa dos dados clínicos dos doentes e controlos para os correlacionar com informação bioquímica proveniente de várias abordagens –“ómicas”, nomeadamente proteómica, metabolómica e genómica. Um dos desafios iniciais do projeto passou pela recolha de amostras biológicas em quantidade e qualidade que as tornem compatíveis com estas abordagens que são diferentes entre si e com requisitos únicos. O segundo desafio passa pela caracterização das amostras utilizando metodologias que se encontram em constante desenvolvimento, sendo necessário definir critérios que permitam a comparação de dados ao longo do tempo. Por fim, a integração de dados, ou “Big Data” neste caso, de abordagens metodológicas e dos dados clínicos, representa sem dúvida o maior desafio do projeto, mas simultaneamente o seu principal objetivo.

 

 

Quais os resultados concretos esperados no âmbito do projeto?

Com este projeto esperamos compilar pela primeira vez a mais completa coleção de informação clínica e bioquímica de doentes num primeiro episódio psicótico, assim como em vários momentos chave da progressão da doença. Esta informação é essencial para que no futuro seja possível uma medicina ainda mais personalizada, contando não só com o apoio molecular ao diagnóstico destas patologias mas também com melhor estratificação dos doentes e a possibilidade de se fazer uma escolha terapêutica informada e adaptada ao indivíduo.

 

 

Qual o contributo do Compete 2020 para os objetivos que definiram para o projeto?

O projeto contempla a aquisição de uma enorme quantidade de informação utilizando várias metodologias, tal como já foi referido. Sem o contributo do COMPETE 2020, e por maior que fosse a força de vontade das

equipas envolvidas, este projeto não poderia ser executado considerando as elevadas exigências financeiras necessárias para a execução das diversas tarefas.

 

 

 

 

 


O Apoio do COMPETE 2020

Trata-se de um projeto promovido pelo Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra e conta com o apoio do COMPETE 2020 no âmbito do Sistema de Apoio à Investigação Cientifica e Tecnológica, envolvendo um investimento elegível de 200 mil euros o que resultou num incentivo FEDER de cerca de 170 mil euros.

13/04/2018 , Por Miguel Freitas
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