WildForests: Conservação de vida silvestre em florestas de produção de Eucalipto
Testemunho de Carlos Fonseca responsável do projeto WildForests e Investigador no DBIO & CESAM da Universidade de Aveiro | CoLAB ForestWISE
“O projeto WildForests, concebido por investigadores de diferentes instituições portuguesas, foi executado no âmbito do Concurso de 2017 dos Projetos de Investigação Científica e Desenvolvimento Tecnológico (IC&DT) da Fundação para a Ciência e Tecnologia. O principal objetivo do WildForests foi o de perceber os impactos das plantações de eucaliptos nos padrões ecológicos dos mamíferos, uma vez que estes são uma taxa particularmente relevante devido à sua importância nos ecossistemas mediterrânicos. Para tal, foram selecionados eucaliptais e áreas de vegetação nativa como locais de estudo, tendo sido instaladas camaras de armadilhagem fotográfica que permitiram a deteção de mamíferos.
Os resultados deste projeto de investigação serão implementados pelos proprietários de eucaliptais, compatibilizando-se o uso do solo por uma espécie com grande relevância económica em Portugal com a conservação e gestão de mamíferos, nomeadamente carnívoros e ungulados. Este objetivo vem também ao encontro de um dos principais objetivos das políticas a prosseguir no Portugal2020, que é a transferência de resultados do sistema científico para o tecido produtivo. Para além disso, a temática do projeto enquadra-se num dos pilares fundamentais da Visão da EI&I para 2020, nomeadamente o EIXO TEMÁTICO 4 - RECURSOS NATURAIS E AMBIENTE, das Prioridades Estratégicas Inteligentes, relacionado com a valorização dos recursos nacionais endógenos diferenciadores, através do alargamento da sua base do conhecimento e da exploração sustentável dos recursos associados à Economia da Floresta, mas também relacionado com a conservação da biodiversidade e a gestão sustentável dos recursos naturais e ecossistemas.
O conhecimento científico obtido neste projeto continua a ser amplamente e gratuitamente difundido entre a comunidade científica e atores da fileira floresta, possibilitando a definição de estratégias produtivas que minimizem esses impactos e a implementação de uma produção mais sustentável e compatível com a tão desejada certificação florestal, fator diferenciador e promotor do acesso dos produtos florestais a mercados ambientalmente mais exigentes.”
Enquadramento
Os ambientes formados pelo homem estão a tornar-se dominantes em muitas partes do mundo, e as suas características e impactos na vida selvagem variam de acordo com o tipo e intensidade das atividades de gestão que os moldaram. A conversão dos ecossistemas naturais nestes novos sistemas induziu alterações na composição e estrutura das comunidades e, provavelmente, a modificação dos processos ecológicos.
Qualquer que seja o sistema considerado (natural/antrópico), as acções de conservação bem-sucedidas não devem limitar-se à conservação das espécies/populações per se, mas incluir também a identificação e a proteção dos padrões e processos ecológicos associados a várias escalas (ou seja, a diversidade funcional) que suportam e sustentam as espécies e os ecossistemas, numa abordagem geralmente conhecida como conservação funcional. As estratégias de conservação devem identificar os processos ameaçadores que causam efeitos prejudiciais na sobrevivência, abundância, distribuição e evolução das populações/espécies nas florestas de produção. O facto de não se compreenderem adequadamente os padrões e processos conduzirá, em última análise, à fragmentação dos habitats/populações, levando potencialmente ao colapso ecológico.
Apesar dos efeitos negativos, estes sistemas antrópicos conseguem sustentar populações silvestres que conseguiram adaptar-se às novas condições criadas. No entanto, os mecanismos e processos que permitem a essas populações subsistir nestes novos ambientes, que ocupam grandes extensões das paisagens, continuam em grande parte desconhecidos. De entre estes sistemas, as florestas exóticas de produção de Eucalipto (EPF) são um bom exemplo, pois atualmente cobrem mais de 20 milhões de hectares no mundo inteiro. Em Portugal, representam cerca de 26% das florestas, o que perfaz 8.8% do território e 49% das EPF europeias.
O Projeto
Face a este contexto, os principais objetivos do projeto são:
- calcular o potencial das florestas de produção de Eucalipto como instrumentos de conservação - determinar e compreender quais os impactos das plantações de eucaliptos na sobrevivência e nos padrões e processos populacionais dos mamíferos e desenvolver estratégias para os minorar;
- avaliar o papel dos mamíferos na manutenção de plantações de eucaliptos sustentáveis, certificadas e funcionais - avaliar de que forma os processos ecológicos podem ser integrados na gestão para maximizar a biodiversidade em plantações de eucaliptos economicamente viáveis.
O WildForests baseia-se numa abordagem multidisciplinar e inovadora na avaliação de impactos das plantações de eucaliptos, que inclui armadilhagem e foto-deteção, ecologia molecular e indicadores de stress.
O WildForests contribuirá significativamente para conhecimento dos efeitos das plantações de eucalipto na vida selvagem e para demonstrar, pela primeira vez, o papel das abordagens de conservação funcional para assegurar o funcionamento e a sustentabilidade do ecossistema das EPF exóticas. Os resultados do projeto irão contribuir para tornar o sector agroflorestal mais ecológico e responder às exigências da indústria por abordagens de gestão que possam reduzir o efeito da produção na vida selvagem sem comprometer a sustentabilidade económica, facilitando a certificação dos produtos florestais.
Os resultados serão difundidos através de publicações científicas, disseminados entre os atores florestais (ex. conferências/congressos) e sob a forma de orientações para uma gestão sustentável das plantações de eucaliptos.
O Apoio do COMPETE 2020
O projeto é promovido pela Universidade de Aveiro em colaboração com o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária e a FCiências.ID - Associação para a Investigação e Desenvolvimento de Ciências e conta com o apoio do COMPETE 2020 no âmbito do Sistema de Apoio à Investigação Científica e Tecnológica, envolvendo um investimento elegível de 220 mil euros, o que resultou num incentivo FEDER de cerca de 161 mil euros.
Links
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INIAV | Website
FCiências.ID | Website