AlgaeCoat: revestimentos comestíveis baseados em extratos de macroalgas para aumentar o tempo de prateleira de alimentos
Entrevistamos Délio Raimundo, Coordenador de Qualidade e Inovação da Campotec e responsável do projeto, bem como a Ana Augusto (Investigadora do IPL) e a Susana Silva (Prof. Adjunta e Coordenadora de Mestrado do IPL) que nos falaram do AlgaeCoat que teve como objetivo a validação industrial e otimização da aplicação de revestimentos comestíveis baseados em extratos de macroalgas para produtos hortofrutícolas frescos e minimamente processados.
Como nasceu o Projeto AlgaeCoat?
O projeto AlgaeCoat deu continuidade a uma iniciativa que já unia os dois parceiros, um Vale de I&DT (Portugal (projeto nº 23496; 2013 – 2014) e de uma bolsa de ignição financiada pelo programa INOV C (2014). Durante o Vale de I&DT foi submetido o pedido de patente conjunto entre a Campotec e o Politécnico de Leiria, concedido em 2016 (patente nº107369). Nesse seguimento, projeto surgiu com a necessidade de avaliar a eficácia dos extratos de macroalgas na redução do escurecimento e aumento do tempo de prateleira de maça de IV Gama em condições industriais, um passo crucial para a validação à escala piloto da formulação de revestimentos à base de macroalgas. Adicionalmente, para aumentar o interesse da indústria por esta solução era necessário avaliar a eficácia destes revestimentos noutros produtos hortofrutícolas como a Pêra Rocha de IV Gama e na longa conservação de maçãs e pêras e assim avançou-se para o projecto.
O que considera ser o elemento diferenciador no Projeto AlgaeCoat?
O projeto AlgaeCoat, apesar de se tratar de um projeto de investigação não se limitou apenas à realização de testes em pequena escala e em contexto laboratorial, tendo como elemento diferenciador o estudo à escala piloto e em condições industriais (nas instalações da Campotec) de uma solução de revestimento para produtos hortofrutícolas de IV Gama, sendo um exemplo claro de um projeto onde a academia trabalha em estreita colaboração com a indústria e procura resolver os desafios colocados pela indústria com a ciência e neste caso com o saber associado aos recursos marítimos. Procurou-se ir buscar no mar a a solução para os desafios da terra, focada em alterativas de origem natural e agregando valor.
Quais foram os principais desafios com que se depararam no desenvolvimento do projeto?
Tratando-se de um projeto onde grande parte dos trabalhos focavam o scale-up dos processos de produção dos extratos de macroalgas e optimização das condições de aplicação das soluções de revestimento à base de extratos de macroalgas, os principais desafios estiveram diretamente relacionados com estas actividades. No entanto, é possível destacar o processo de optimização de extração das macroalgas, onde foram testadas várias condições de extração dos compostos de interesse, inicialmente à escala laboratorial e posteriormente à escala piloto, com vista à identificação de um processo com menores custos económicos e energéticos associados bem como reduzido impacto ambiental. É na verdade um conjunto de premissas que se procura sempre responder, não apenas encontrar uma solução mas uma solução que seja viável. Destacar as dificuldades relacionadas com a regulamentação associada aos processos de colheita de algas bem como a morosidade e burocracia associada a aprovação de um dossier técnico que permita incluir novos aditivos na lista de aditivos autorizados pela União Europeia.
Resultados obtidos com maior destaque?
De todos os resultados obtidos pode-se destacar a validação da eficácia dos revestimentos à base de extratos de macroalgas na prevenção do escurecimento superficial de maçã e pêra de IV Gama à escala piloto e em ambiente industrial, estando neste momento a ser validado o modo de ação do extrato de macroalgas. Com o AlgaeCoat foi ainda exequível obter os primeiros resultados referentes à utilização de extratos de macroalgas na longa conservação de frutas designadamente de maçã e pêra, resultados estes que permitiram alavancar um novo projeto de co-promoção, o projeto ORCHESTRA, liderado igualmente pela Campotec e como co-promotores o Politécnico de Leiria, Instituto Politécnico do Cávado e do Ave em conjunto com TUS (Irlanda) e FHV (Áustria). Os resultados do projeto AlgaeCoat contribuíram assim não só na aquisição de conhecimento científico com a utilização de extratos de macroalgas na conservação de fruta de IV Gama, mas também na continuidade da colaboração entre Indústria e Academia em projetos subsequentes, um passo essencial para a valorização dos projetos de I&D e para a criação de produtos e processos inovadores que permitem alavancar empresas como a Campotec, colocando-as em patamares mais competitivos e sustentáveis e alinhadas com os objectivos do desenvolvimento sustentável estabelecidos pelas Nações Unidas.
Apoio COMPETE 2020
O projeto AlgaeCoat foi promovida pela CAMPOTEC IN em colaboração com o Instituto Politécnico de Leiria e contou com o apoio do COMPETE 2020 no âmbito do Sistema de Apoio à Investigação Científica e Tecnológica (I&DT Empresarial) na vertente de projetos Demonstradores em Co-promoção, envolvendo um investimento elegível de 260 mil euros o que resultou num incentivo FEDER de 172 mil euros.
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