ECOCENE: Efeitos ecológicos de (nano)agroprodutos em ecosistemas do solo

Enquadramento

Atender à crescente procura mundial por alimentos sem comprometer o equilíbrio dos ecossistemas é um dos grandes desafios da agricultura moderna. A nanotecnologia oferece uma solução promissora para aumentar a produtividade agrícola e, sem dúvida, desempenhará um papel fundamental neste campo. Devido ao seu potencial, a nanotecnologia tem sido particularmente adotada pela indústria de proteção de cultivos para o desenvolvimento de (nano)agroprodutos inovadores. Os (nano)agroprodutos têm sido sugeridos para aumentar a eficiência, produtividade e sustentabilidade da agricultura, tornando-os atraentes para aplicação generalizada.

A motivação da indústria, no entanto, não se traduziu em conclusões sólidas sobre os riscos dos (nano)agroprodutos, levantando preocupações de segurança sobre o meio ambiente e a saúde humana. Evidências crescentes sugerem que os processos que governam a biodisponibilidade, o destino e os efeitos dos (nano)agroprodutos nos ecossistemas do solo podem diferir dos produtos convencionais devido à sua alta reatividade e natureza não caracterizada. Prever suas consequências a longo prazo é uma tarefa desafiadora, particularmente em áreas tão complexas como os ecossistemas do solo.

Rui Morgado, responsável do projeto sintetizou o ECOCENE:

“O projeto ECOCENE teve como objetivo estudar os efeitos ecológicos de (nano)agroprodutos inovadores em ecossistemas do solo. Apesar do seu reconhecido potencial enquanto solução de futuro, raramente foi efetuada uma caracterização abrangente e integradora dos seus efeitos ecológicos, o que constitui um entrave à utilização destes produtos. O desafio do ECOCENE foi desenvolver um conjunto de sistemas experimentais, assentes numa abordagem holística e multidisciplinar, que permitisse resolver esta lacuna. Elencado sob um paradigma hierárquico, o projeto ECOCENE procurou inicialmente investigar os processos de toxicidade de diversos produtos selecionados como casos-de-estudo, para depois tentar desvendar os potenciais mecanismos ecológicos que levam à propagação destes efeitos para o funcionamento dos ecossistemas.

Os resultados parecem confirmar o potencial de (nano)agroprodutos inovadores enquanto ferramentas agrícolas mais sustentáveis, reforçando, no entanto, a necessidade de implementação de estratégias de avaliação integradoras que permitam uma previsão abrangente de riscos ambientais.”

Testemunho de Rui Morgado:

"Um dos maiores desafios que as sociedades humanas vão enfrentar nas décadas que se avizinham será conseguir satisfazer as necessidades alimentares de uma população crescente e cada vez mais exigente, sem que isso tenha consequências para a integridade dos ecossistemas naturais.

A procura de soluções para aumentar a produtividade e sustentabilidade agrícolas tem sido um importante motor de inovação e constitui uma oportunidade de mudar paradigmas. No entanto, estas soluções envolvem igualmente novos riscos ainda por determinar e compreender na sua plenitude. A melhor forma de salvaguardar os ecossistemas é através da realização de avaliações ambientais rigorosas e abrangentes, de forma a tomar decisões informadas sobre os seus benefícios.

O projeto ECOCENE pretendeu contribuir para este tema através da adoção de um conjunto de estratégias para avaliação dos impactos ambientais de (nano)agroprodutos inovadores.

A aprovação do projeto ECOCENE, por parte do programa COMPETE 2020, conferiu uma oportunidade para desenvolver abordagens integradoras ao nível do ecossistema, possibilitando uma escala de atuação e nível de multidisciplinaridade que não seriam possíveis de outro modo."

O Apoio do COMPETE 2020

Trata-se de um projeto promovido pela Universidade de Aveiro, com o apoio do COMPETE 2020 no âmbito do Sistema de Apoio à Investigação Científica e Tecnológica, envolvendo um investimento elegível de 239 mil euros o que resultou num incentivo FEDER de cerca de 203 mil euros.