Leia a entrevista a Jorge Dias, Administrador da Ventozelo Hotel & Quinta

Entrevistamos Jorge Dias, Administrador da Ventozelo Hotel & Quinta, que nos falou dos fatores de diferenciação do projeto e do seu valor acrescentado para a região do Douro bem como dos desafios causados pela pandemia e a importância do apoio do COMPETE 2020. 

Ventozelo Hotel & Quinta não é apenas um hotel. É, sobretudo, uma quinta, habituada a receber com hospitalidade todos quantos ali chegavam e que agora nos convida a usufruir da beleza soberba da paisagem e descobrir os diversos espaços recuperados, que mantêm a raiz simples das mais tradicionais quintas durienses.

Com 29 quartos, distribuídos por sete edificações distintas da propriedade, perfeitamente enquadrados nos socalcos da Quinta, muitas das quais antigas construções agrícolas que ganharam uma nova alma e função, depois de cuidadosamente reabilitadas, respeitando, todavia, a memória do lugar.

Restaurante (Cantina de Ventozelo), provas de vinhos, Mercearia de produtos da quinta e regionais, Centro Interpretativo, percursos pedestres, atividades de turismo de natureza, Ventozelo oferece um conjunto de experiências fortemente ligadas à natureza e ao mundo rural, nomeadamente à vinha e ao vinho, à gastronomia, à interpretação da paisagem, à história e aos saberes do Douro, proporcionando aos seus visitantes a compreensão do Alto Douro Vinhateiro Património Mundial nas suas mais diversas vertentes. Quisemos, assim, responder a uma nova procura de “aventureiros do gosto” que exige um produto compósito com experiências sensoriais, emocionais, cognitivas, físicas e sociais.

Este é um dos conceitos base do projecto, o da participação e o envolvimento activo de cada visitante no quotidiano da quinta, ainda que esse envolvimento possa ser o de parar e ficar a contemplar a paisagem ou o silêncio. Pretende-se, pois, que os visitantes se sintam implicados no processo de descoberta e aprendizagem da Quinta de Ventozelo e da Região onde esta se insere. Aliás, esta é uma das expectativas dos turistas contemporâneos que procuram, acima de tudo, experiências diferenciadoras, únicas.

Daqui decorre outro dos conceitos estruturantes, o da experiência sensorial, essencial para que se criem memórias afectivas com o local e com os produtos e serviços da Quinta. A ligação entre vinhos, gastronomia e património, natural e construído, material e imaterial, é um elemento fundamental do projecto. Como um ingrediente secreto da receita, a experiência gastronómica de excelência adiciona qualidade, refinamento, características procuradas pelos viajantes que gostam de testar o seu conhecimento especializado e coleccionar experiências, depois partilhadas nas redes sociais e entre amigos.

Essas experiências podem passar pela participação na vindima e aprendizagem do processo de elaboração dos vinhos do Douro e do Porto, na apanha de azeitona e na sua transformação em azeite novo no lagar e que depois pode ser degustado na cantina a acompanhar um bacalhau à lagareiro ou, tão somente, na apanha de tomate na horta, ou de espargos selvagens ou cogumelos na floresta, estes últimos apenas acompanhados por especialista, para depois serem degustados na Cantina acompanhados de um vinho de Ventozelo.

Qual o valor acrescentado do projeto para região e para posicionar Portugal como um destino de excelência?

A procura turística no Douro e, consequentemente a oferta, está muito concentrada nos eixos Vila Real - Régua - Lamego e ao longo do Rio Douro entre a Régua e o Pinhão.  É ao longo destes eixos onde mais se sente a pressão turística, sobretudo concentrada ao fim de semana ou de rápidas incursões na região provenientes dos hotéis do Porto e de outras cidades do Norte de Portugal. 

A inexistência de estrada ribeirinha a montante do Pinhão e a rarefacção da oferta, dificultam a exploração do território e a penetração dos turistas Douro acima. Abre, todavia, oportunidades a uma oferta turística mais diferenciada e respeitadora do meio ambiente. 

Aquando da inscrição do Alto Douro Vinhateiro na Lista do Património Mundial da UNESCO, a ponte que atravessa o Douro no Pinhão foi apelidada de “as portas do silêncio do Douro”, indiciando a necessidade de nesse território se construir um modelo de desenvolvimento turístico diferente do que vinha sendo implementado a jusante do Pinhão, muito assente num turismo fluvial e de massas. 

Com efeito, Ventozelo Hotel & Quinta, com um programa diferenciado, assente na autenticidade, na natureza e no mundo rural, corresponde a essa necessidade de estruturar uma oferta qualitativa de valorizar os recursos endógenos e as populações que ali vivem e trabalham. 

Em Ventozelo Hotel & Quinta, os turistas não passam em frente. Vão lá, seja de passagem, seja para ficar mais tempo. Ficar para conhecer, saborear e centrar-se na experiência da gastronomia com sabores locais, por vezes reinterpretados na apresentação e conjugação, mas sempre confeccionada com respeito à memória, tendo por base preferencialmente os produtos da quinta, ou então de origem local e regional, de sabores e valores verdadeiros e orgânicos. Aliados às propostas gastronómicas, estão os vários vinhos do Porto e do Douro da Quinta de Ventozelo, que se harmonizam e adaptam aos diferentes momentos da refeição.

Vão lá, para descobrir a região a partir da visita a uma quinta típica do Douro Vinhateiro, tendo a oportunidade de identificar aspectos marcantes do seu enquadramento geográfico e edafo-climático ou da sua história e das suas paisagens construídas através de uma hábil relação entre o Homem e a Natureza, e que se materializa num património natural, material e imaterial de grande valor, como o vinho ou o azeite, o terraceamento das encostas ou a mata mediterrânica.

Esta actividade passa pela visita ao Centro Interpretativo “O Douro numa Quinta – Espaços e tempos em Ventozelo”, complementada por um percurso pelo núcleo principal da Quinta de Ventozelo, referenciado na documentação do século XIX como Sítio dos Prazeres, terminando na sala de provas, com uma degustação iniciática de um vinho do Porto e dois vinhos do Douro de Ventozelo. O Centro Interpretativo é um espaço de interpretação do território duriense tendo por ponto de partida a Quinta de Ventozelo, onde se unem diferentes espaços e tempos. Os conceitos centrais são o espaço – território da Região Demarcada – e o tempo – a história da construção deste território –, que aqui se cruzam com a dimensão sensorial que permite apreender a realidade de forma mais imersa e sensitiva.

Acreditamos, contudo, que por mais completo e diversificado que possa ser o nosso produto, por mais valências e experiências que possamos proporcionar, apenas trabalhando em rede, com actores públicos e privados, se consegue dar resposta a uma procura, cada vez mais exigente, que espera usufruir de um alargado conjunto de experiências.

Temos para nós que o enoturismo deve corresponder a uma oferta integrada, envolvendo infra-estruturas, actividades de lazer, cultura local, património, quintas e adegas e, naturalmente, o vinho. Só assim o enoturismo deixará de ser uma mera forma de turismo associado ao vinho e passará a ser uma forma de melhor promover o território, enfim de o desenvolver e internacionalizar.

Para tal, Ventozelo Hotel & Quinta estabeleceu parcerias com os agentes regionais de turismo, associando-se a diversas iniciativas desenvolvidas no mercado interno e externo, com diversas entidades da administração pública, nomeadamente Autarquias, Universidades, Escolas de Hotelaria, Associações e Fundações, quer levando e divulgando a nossa oferta a públicos e locais muito variados, quer trazendo novos públicos e diversificando a oferta do produto enoturismo.

Estabeleceu, ainda, inúmeras parcerias com players do sector do Enoturismo e do Turismo, que complementam a nossa oferta, como sejam outras quintas e hotéis, restaurantes, empresas de animação turísticas que organizam passeios de barco, kaiyaking ou comboio, entre outras.

Acreditamos que apenas com uma virtuosa cooperação entre actores públicos e privados, podemos satisfazer esta nova procura mundial de “aventureiros do gosto” e proporcionar uma verdadeira experiência completa e afirmar o Douro no destino “Porto e Norte de Portugal.”

Quais os maiores desafios do novo contexto causado pela pandemia e como estão preparados para garantir toda a experiência do vosso espaço com segurança?

Acreditamos que Ventozelo Hotel & Quinta corresponde ao desejo das pessoas que procuraram destinos mais isolados, em pequenas unidades hoteleiras, com espaços ao ar livre e com baixa densidade populacional. É isso que nós somos e que queremos proporcionar a quem nos visita.

Para tal, na reabertura, para além do aumento da frequência das medidas de higiene e prevenção, os nossos colaboradores receberam formação quanto às medidas preventivas necessárias, consciencializando-os do papel que desempenham na prevenção.

Implementou-se uma política de cancelamento sem qualquer custo até 48 horas antes da estadia, diminuíram-se os quartos disponíveis, restringiu-se a capacidade do restaurante e de outras áreas comuns, por forma a respeitar a boa prática do distanciamento físico.

Disponibilizamos, ainda, uma APP para que os nossos hóspedes e visitantes possam passear autonomamente pela quinta, através de percursos audioguiados, bem como um serviço em que os nossos hóspedes possam fazer uma merenda no terraço do seu quarto ou em zonas aprazíveis da quinta, em comunhão com a natureza.

Qual o contributo do COMPETE 2020 para os objetivos que definiram para o projeto?

O Compete 2020 constituiu um apoio à concretização de elementos diferenciadores do projeto “Ventozelo Hotel & Quinta”, permitindo-nos oferecer no Douro um produto compósito e multissensorial. Contudo, territórios de baixa densidade como é o caso desta região, deveriam beneficiar de descriminação positiva por parte das políticas públicas.

O Apoio do COMPETE 2020

O projeto, promovido pela Quinta de Ventozelo - Sociedade Agrícola e Comercial, S.A., conta com o apoio do COMPETE 2020 no âmbito do Sistema de Incentivos à Inovação (Produtiva, Baixa Densidade), envolvendo um investimento elegível de 4,8 milhões de euros o que resultou num incentivo FEDER de cerca de 2,4 milhões de euros.