DeprePeriRsstr: Rastreio, prevenção e intervenção precoce na perturbação psicológica perinatal

Enquadramento

A Perturbação Psicológica Perinatal (que inclui a depressão e a ansiedade na gravidez e primeiro ano após o parto) constitui um grave problema de saúde pública, o mais dispendioso de todos os problemas que podem ocorrer no período perinatal. Estima-se que cerca de 75% dos casos com esta doença tratável não são identificados pelos profissionais de saúde e, na ausência de programas de rastreio, apenas 10% destas mulheres recebem tratamento.

Na década passada, a maioria dos membros da equipa deste projeto, incluindo a investigadora principal, desenvolveram um projeto de investigação, financiado por fundos comunitários, intitulado "Depressão pós-parto e Sono".

O Projeto

De acordo com Ana Pereira, investigadora principal e responsável do projeto, “o projeto em curso, intitulado Rastreio, prevenção e intervenção precoce na perturbação psicológica perinatal - Eficácia de um novo programa nos cuidados de saúde primários (já que inclui não apenas a depressão, mas também a ansiedade e a perturbação obsessivo compulsiva perinatal) decorreu da nossa investigação prévia, realizada com base em amostras grandes e representativas de mulheres portuguesas, em seguimento da sua gravidez e puerpério na Maternidade Bissaya Barreto, do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, com quem mantemos estreita colaboração. Nos últimos anos, adquirimos conhecimentos e competências e desenvolvemos ferramentas (de avaliação e de intervenção), que nos permitem continuar a contribuir para a atenuação do impacto negativo deste grave problema de saúde pública, através da melhoria da sua deteção, prevenção e tratamento.”

Os objetivos do projeto vão de encontro às recomendações dos maiores especialistas mundiais, que defendem a implementação de programas de rastreio que combinem a avaliação de fatores de risco psicossocial e a deteção de sintomas de depressão.

De um modo sintético, os dois objetivos gerais do projeto são:

  1. Analisar o poder preditivo de um novo instrumento (“Perturbação Psicológica Perinatal – Instrumento de Rastreio e Prevenção” -  PPPIRP ou Coimbra Perinatal Psychological Distress ) para a avaliação de sintomas e factores de risco da depressão e ansiedade perinatais, que inclui questionários de auto-preechimento que foram validados nos últimos anos.
  2. Testar a eficácia de um programa de prevenção/intervenção precoce – denominado Mother in Me (MiM, ou A Mãe que há em MiM) para mulheres com elevados níveis de sintomatologia depressiva e/ou ansiosa  e/ou com pelo menos um dos seguintes fatores de risco: história de depressão ao longo da vida; afeto negativo na gravidez; insónia na gravidez; falta de apoio do companheiro; elevada perceção de stresse no último ano; perfeccionismo; pensamento repetitivo negativo.O MIM foi desenvolvido para ajudar as mulheres a lidar melhor com o stresse e com sintomas de ansiedade e depressivos, através de técnicas psicoeducacionais e cognitivo-comportamentais, nomeadamente exercícios de mindfulness e de auto-compaixão.  É composto por oito sessões de grupo (oito mulheres no terceiro trimestre de gravidez) com periodicidade semanal e duração aproximada  de uma hora e meia. Encontra-se totalmente manualizado e foi desenvolvido pelo Instituto de Psicologia Médica da Universidade de Coimbra com base noutros programas que têm revelado eficácia no bem-estar pré e pós-parto.

O novo instrumento (PPPIRP) e uma entrevista diagnóstica estão a ser administrados a 300 mulheres grávidas (terceiro trimestre), recrutadas na Maternidade Bissaya Barreto. A eficácia do programa será testada no segundo e sexto meses após o parto, com base nos pontos de corte de instrumentos de rastreio que a equipa tem validado e na administração de uma entrevista diagnóstica que desenvolveram – Diagnostic Inverview for Psychological Distress.

Prevê-se que a PPPIRP irá revelar bom poder preditivo e que o programa de intervenção precoce e/ou de prevenção resulte em menos casos de depressão e ansiedade nos grupos experimentais (versus de controlo).

As mulheres que, no final do período de seguimento, mantenham ou a quem seja diagnosticada depressão ou ansiedade perinatal ou pontuações elevadas nos respetivos instrumentos de rastreio serão encaminhadas para consulta externa de psiquiatria, para avaliação e tratamento especializado por membros da equipa, no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.

Em declarações ao COMPETE 2020, Ana Pereira destacou a importância dos Fundos Comunitários e o trabalho realizado pela equipa de projeto:

“Sem o contributo do COMPETE 2020 não seria possível alcançar os objetivos definidos para o projeto.

A equipa tem avançado no desenvolvimento e teste de um programa de rastreio sistemático, que promove a articulação entre os cuidados de saúde primários e especializados, bem como a translação entre a universidade (investigação clínica) e a comunidade (prestação de cuidados de saúde). Têm sido divulgados resultados de estudos epidemiológicos e psicométricos, bem como correlacionais, que evidenciam o papel da (des)regulação emocional na perturbação psicológica perinatal e, como implicação disso, têm sido desenvolvidos e disseminados materiais de avaliação e de intervenção que visam melhorar a saúde mental perinatal. Ao focar a saúde mental da mulher, este projeto aposta em diminuir uma das principais barreiras ao desenvolvimento humano identificadas nos mais recentes relatórios internacionais.”

 

Apoio do COMPETE 2020

O projeto conta com o apoio do COMPETE 2020 no âmbito do Sistema de Apoio à Investigação Cientifica e Tecnológica, envolvendo um investimento elegível de 78 mil euros o que resultou num incentivo FEDER de cerca de 66 mil euros.

05/12/2018 , Por Miguel Freitas
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