Entrevista a Daniel Murta, Fundador e CEO da Ingredient Odyssey

O Projeto

O projeto EntoValor, promovido pela empresa Ingredient Odyssey, Lda. (que detêm a marca EntoGreen), tem como objetivo principal contribuir para a transição para uma economia circular no sector agroalimentar, em que o valor dos produtos, materiais e recursos se mantenha na cadeia de valor o máximo de tempo possível e a produção de resíduos se reduza ao mínimo.

A transição para uma economia circular passa pela conversão de resíduos orgânicos de origem agroalimentar, em matérias-primas secundárias, nomeadamente em novas fontes nutricionais para os alimentos compostos para animais e em fertilizantes orgânicos para os solos.

O motor desta conversão são os insetos, particularmente as larvas da Mosca Soldado Negro. Estas larvas, depois de atingirem uma fase larvar avançada, são separadas e desidratadas, constituindo uma fonte nutricional a incluir em alimentos compostos para animais. Os resíduos biodegradados por estas larvas serão posteriormente usados como fertilizantes orgânicos.


Em entrevista ao COMPETE 2020, Daniel Murta, Fundador e CEO da Ingredient Odessey e Responsável do Projeto conversou sobre o Entovalor e dos seus desafios e resultados.

Considera que foram alcançados os objetivos definidos para o projeto?

O projecto EntoValor pretendeu desenvolver um processo bioindustrial para converter subprodutos vegetais em novas soluções nutricionais para plantas e animais. A criação deste processo inovador contribui de forma significativa para a redução do desperdício alimentar, reintroduzindo os nutrientes, que de outra forma seriam perdidos, de volta à cadeia de valor. Consideramos que os objectivos do projecto foram totalmente alcançados e tal ficou patente com o impacto que conseguimos a nível nacional e internacional. Este projecto permitiu criar e validar um processo inovador e que está actualmente a um nível passível de ser industrializado, pelo que o projecto culmina com uma candidatura ao Portugal2020 no âmbito da inovação produtiva, no sentido de vir a aplicar a bioconversão de subprodutos vegetais a uma escala industrial na região de Santarém.

   
Quais foram os principais desafios com que se deparam no desenvolvimento do projeto?

O projecto EntoValor previa a aplicação de um processo bioindistrial de forma centralizada, numa unidade piloto localizada na Estação Zootécnica Nacional (INIAV), e de forma remota, através da instalação de biodigestores móveis nas instalações de outros parceiros. Porém, um dos grandes desafios do projecto foi o controlo do processo de forma deslocalizada, estratégia que foi abandonada. Além disso, outro dos grandes desafios foi a definição de métricas operacionais e a repetibilidade do processo na sua adaptação à indústria, desafio que foi superado e que permite a diferenciação e valorização do conhecimento gerado numa escala.

   
De entre os resultados alcançados, há algum que gostariam de destacar?

A eficiência de utilização de farinha de insecto como substituto da soja na alimentação de galinhas poedeiras e frangos foi um dos resultados mais animadores do projecto EntoValor (ensaios feitos em parceria com a Rações Zêzere e INIAV, respectivamente). Foi demonstrado que é possível substituir significativamente a utilização de soja, como fonte nutricional, na alimentação de galinhas poedeiras e frangos por farinha de insecto, sem que exista um impacto na produção e qualidade dos produtos gerados. Estes resultados demonstram assim que é possível reduzir a dependência do mercado internacional de fontes proteicas para a alimentação animal, ao mesmo tempo que se favorece o uso de soluções circulares, mais sustentáveis, e de origem local.

Além disso, a utilização de fertilizantes orgânicos em campos de batata e tomate, ensaios feitos em parceria com a Agromais Plus, foram extremamente animadores. Foram feitos campos de demonstração em talhões experimentais de batata (Variedade Brooke) com os novos fertilizantes orgânicos gerados pelo processo de bioconversão, tendo sido observado, por comparação com talhões controlo com um valor nutricional equivalente veiculado por fertilizante mineral, um aumento da produção média por hectare em cerca de 9.5 toneladas (cerca de 16%), e um maior calibre das batatas obtidas. Já no caso do tomate (variedade H1015), num ensaio com uma abordagem similar, apesar de não ter sido possível aumentar a produção, foi possível obter uma qualidade de tomate superior.

 

 
Qual o contributo do COMPETE 2020 para o desenvolvimento deste projeto??

 

O COMPETE2020 foi um apoio fundamental ao desenvolvimento do projecto EntoValor. Neste caso, podemos considerar que se esperam resultados indirectos a serem alcançados com a implementação do processo à escala industrial (fase alvo de candidatura no âmbito de uma candidatura à Inovação produtiva), contribuindo para a criação de emprego e de valor na região de Santarém. Assim, o COMPETE2020 apoiou a fase de I&D e que deu agora origem a uma nova fase da aplicação, e para a qual esperamos contar novamente com o contributo do COMPETE2020.

O projecto EntoValor foi a pedra basilar para o lançamento e afirmação de uma bioindustrial que acreditamos terá um impacto inegável na sustentabilidade ambiental e económica do país.

O Apoio do COMPETE 2020

O projeto, que é promovido pela Ingredient Odyssey Lda., conta com o apoio do COMPETE 2020 no âmbito do Sistemas de Incentivos à Investigação e Desenvolvimento Tecnológico em Copromoção, envolvendo um investimento elegível de 728 mil euros o que resultou num incentivo FEDER de cerca de 492 mil euros.

Links

Website | INIAV

Website | Agromais Plus

Website | Rações Zêzere

Website | CONSULAI

 

18/05/2020 , Por Miguel Freitas
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