«Os Fundos da União Europeia fazem a diferença ao introduzir projetos inovadores e irreverentes que fazem melhorar as empresas»

Entrevistamos Margarida Mateus, Supervisora de I&D do Projecto Clean Cement Line na Secil Outão a propósito do Dia Internacional da Mulher e no contexto do projeto Clean4G, cofinanciado pelo COMPETE 2020, que nasceu da necessidade de se substituir combustiveis não sustentáveis em combustíveis neutros em CO2.

1. Entrevista

 

1.1 O que a atraiu para este mundo profissional?

Desde que terminei o meu doutoramento, o meu percurso profissional na academia foi muito virado para a investigação industrial.

Na Secil existiu a oportunidade única de ver crescer um projeto e ampliar os meus horizontes ao nível de conhecimento dos processos industriais e de novas inovações altamente disruptivas, no Centro de Desenvolvimento de Cimento, dirigido pela Eng.ª Ângela Nunes.

Neste Dia da Mulher é fundamental para mim falar da Eng.ª Ângela Nunes, visto ter sido uma das primeiras mulheres a trabalhar na Secil e conseguir inserir um caminho, que leva a maior parte do tempo ao conceito fora da caixa, ao nível dos produtos cimentícios e não só.

Podemos assim dizer que quem me atraiu para este mundo profissional, do aqui e do agora tenha sido não só os desafios que me foram apresentados, mas sobretudo como a minha opinião contou nas horas de decisão quer de delineamento como de desenvolvimento.    

 

1.2 Qual foi o momento mais emocionante no seu trajeto profissional?  

Sem dúvida o momento em que vi a instalação piloto Energreen a funcionar. A oportunidade de um investigador conseguir ver algo que desenvolveu em laboratório a funcionar numa escala maior. E após isto ter a perceção que a empresa onde trabalhava tinha mil e uma hipóteses na investigação e desenvolvimento aplicado à indústria, foi só alargar os horizontes e aprender com novos desafios.

 

1.3 A descarbonização e a circularidade nos processos são imperativas para uma competitividade sustentável. Porque é tão importante o projeto Clean4G?  

Este projeto é muito importante para viabilizar um novo processo de eletrólise, que ao invés de utilizar água, utiliza biomassa liquefeita. Este processo pretende a redução do balanço das emissões de CO2 industrial, borbulhando-o no processo de eletrólise existindo a produção de hidrogénio e metano, que numa escala superior poderá ser validada a reintrodução deste gás combustível para o processo de produção de cimento.

 

1.4   E qual foi o desafio mais interessante de superar no contexto do projeto Clean4G?  

Durante o projeto foram muitos os momentos desafiantes a par do desenvolvimento das tecnologias visto existirem sempre momentos de go/no go, a par das dificuldades que envolvem um processo ainda com um nível de amadurecimento de tecnologia tão tenro.

Mas a conquista de conseguir um brainstorming entre a academia e as empresas e chegar a resultados concretos foi desafiante. A desconstrução muitas vezes de linhas de pensamento que se ponderava estarem no caminho certo, ter de dar um passo atrás e voltar a tentar, com base na experiência já obtida, pode parecer frustrante, mas no final é altamente motivador. Este ciclo iterativo pode ser comparado com um corredor, não de sprint, mas um corredor de fundo, que leva um dia de cada vez e cada vez com mais experiência e conhecimento.

 

1.5   Que outros projetos têm em cima da mesa para contribuir para os objetivos definidos para uma recuperação económica mais limpa e verde?  

Neste momento sou Supervisora de Investigação e Desenvolvimento do projeto Clean Cement Line que tem em linha o desenvolvimento e demonstração de uma nova tecnologia de produção de cimento. Este projeto contempla quatro subprojeto de I&D que visam a eliminação da dependência de combustíveis fósseis, aumento da eficiência energética, produção própria de energia elétrica, integração no processo da digitalização e redução de emissões de CO2. Estas inovações promoverão o desenvolvimento da produção de um clínquer de baixo carbono e consequentemente da criação de uma gama de cimentos de baixa pegada ecológica.

 

1.6   A sua experiência com os Fundos da União Europeia… fizeram a diferença?   

Os Fundos da União Europeia fizeram e fazem a diferença ao proporcionar a introdução de projetos inovadores e irreverentes que fazem melhorar as empresas, no desenvolvimento de novos processos ou produtos ou na otimização e melhoria dos já existentes. É de reforçar que a busca de conhecimento entre as empresas e academia é fundamental e estes fundos trazem a oportunidade de existir transferência de conhecimento e captação de jovens qualificados pela indústria. 

 

2. Nota biográfica

Margarida Mateus, Supervisora de I&D do projecto Clean Cement Line na Secil Outão.

Entrou na Secil em 2016 onde participou em projetos de I&D dento do Centro de Desenvolvimento de Aplicações em Cimento (CDAC). É doutorada em química e mantém uma participação ativa entre a indústria e a academia como docente convidada do Departamento de Eng. Química do IST. É autora de mais de 40 artigos científicos e participante em 4 patentes. 

 

3. Links

Artigo "Investigação nacional sobre conversão de CO2, aquando produção de cimento, num combustível limpo" 

Artigo "Clean4G: Investigação portuguesa sobre novos processos de conversão de emissões de CO2 um combustível limpo" 

Website | Secil 

08/03/2022 , Por Cátia Silva Pinto
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