“Acredito que devemos promover Portugal de forma concertada”
| Como é que tem corrido a Presidência na InovCluster? |
Sou presidente da InovCluster desde novembro de 2017. O balanço é muito positivo, seja em termos dos resultados ao nível da inovação ou do número de projetos que alicerçam ações para as nossas empresas, seja numa lógica de continuidade e proximidade fazendo jus ao conceito da Estratégias de Eficiência Coletiva. O trabalho desenvolvido não é de uma entidade, mas sim representativo de um esforço coletivo, onde se incluem o poder local e o poder central.
Se olharmos para os mercados que foram abertos nos últimos tempos, verifica-se todo um trabalho paralelo ao nível da diplomacia económica. Não significa que a tarefa esteja concluída, continuamos a identificar inúmeras dificuldades na introdução de produtos de origem animal nalguns mercados.
| O que o deixa mais orgulhosa? |
Fundamentalmente deixa-me orgulhosa saber que conseguimos contribuir de forma significativa para a dinamização do setor agroalimentar, não só ao nível local, mas também ao nível nacional. Um setor maioritariamente constituído por micro e pequenas empresas, em que a intervenção da InovCluster é reconhecida como importante para estas empresas.
Este setor funciona como um “cartão de visita” totalmente alinhado com a ideia de que vivemos no melhor país para visitar. Acredito que devemos promover Portugal de forma concertada, induzindo plena simbiose entre o turismo e a promoção dos produtos endógenos, promovendo o nosso país a uma só voz.
É um enorme orgulho acompanhar uma década de clusterização, reconhecendo o papel de relevo que a InovCluster assumiu junto dos seus associados, em total articulação com o Município de Castelo Branco, que sempre apoiou e incentivou esta associação.
Com base no trabalho desenvolvido, e com a articulação com inúmeras entidades, criou-se na região de Castelo Branco um verdadeiro ecossistema agroalimentar, que constitui motivo para análise e exemplo de boas práticas para outras regiões e outros países. Tudo isto apenas foi possível com a equipa que todos os dias se dedica de forma árdua a este projeto e que são para mim a melhor equipa do mundo!
| O que mais a surpreendeu? |
De um ponto de vista positivo surpreenderam-me os efeitos de arrastamento da criação de uma estratégia de eficiência coletiva. É claro que nem sempre são variáveis mensuráveis, mas os seus efeitos são percetíveis ao longo destes anos. O envolvimento das empresas, o impacto direto e indireto no território e o reconhecimento da excelência dos nossos produtos nos mercados externos, são alguns dos resultados amplamente positivos e motivadores destas dinâmicas coletivas. Desde os queijos, ao azeite, passando pelos enchidos, vinho e mel, nenhuns destes produtos passam despercebidos, cuja quantidade não abunda, mas onde a qualidade impera imponentemente.
A destacar pela positiva o reconhecimento por parte da CCDRC dos clusters da Região Centro, como parceiros estratégicos no desenvolvimento e dinamização das Estratégias de Especialização Inteligentes (RIS3) da Região Centro, assumindo-os como o ADN do RIS3.
Pela negativa, toda a burocracia em que assenta a execução dos projetos financiados, nomeadamente ao nível da contratação pública, transformando muitas vezes oportunidades em constrangimentos.
| Que projetos têm em cima da mesa? |
Desde logo pela sua importância, os vários projetos de internacionalização, assentes numa lógica de presença nos vários mercados. Esta estratégia de internacionalização começou em 2013 e tem tido projetos aprovados de forma contínua ao longo do tempo, no âmbito dos dinamizamos a internacionalização e afirmação de PME nos mercados externos. O empreendedorismo, a inovação, a cooperação e a transferência de conhecimento ao nível transfronteiriço estão também representados nos vários projetos da InovCluster. Mais recentemente, a destacar o projeto de Valorização da Fileira do Queijo. Este último, assente numa lógica de valorização do produto e sobretudo do queijo com Denominação de Origem Protegida (DOP), onde a InovCluster surge como a entidade líder, mas onde o desafio que impera é novamente “levar a bom porto” esta estratégia de eficiência coletiva que nasce de uma necessidade de valorização do queijo DOP da região Centro.
A estratégia da InovCluster não se cinge à internacionalização e ao empreendedorismo, pelo que destaco aqui os projetos desenvolvidos e em desenvolvimento no apoio às PME’S posicionando-as na cadeia de valor das embalagens inteligentes.
| Como é que surgiu o seu interesse pelo sector agroalimentar? |
O interesse surge da conjugação de um enorme desafio com um conjunto de oportunidades identificadas. Já em 2009 era um setor com enormes oportunidades de crescimento, com uma ordem expressa para inovar, com possibilidade de conquista de novos mercados, com elevada representação de empresas de pequena dimensão e em muitos casos de cariz familiar.
Importa referir que não é apenas o setor agroalimentar o nosso setor de intervenção, mas sim o Agro-Industrial e as suas fileiras complementares. Esta ligação entre as fileiras alimentares e as complementares permite desde logo, a existência de espaços intersectoriais ainda por explorar, o que constitui um extraordinário desafio no que diz respeito à identificação de novas oportunidades para o desenvolvimento de projetos.
| A Cláudia tem coordenado diversos projetos cofinanciados por fundos da União Europeia, nomeadamente pelo COMPETE 2020. Quer partilhar algum com especial interesse para si? |
Uma referência especial ao projeto Agritraining, financiado pelo COMPETE no âmbito do QREN e que constituiu um dos projetos-âncora do InovCluster no âmbito da sua estratégia de atuação. Um projeto que permitiu a análise da oferta formativa e respetivas entidades formadoras e das tendências de evolução do mercado, culminado na proposta de planos curriculares com diferentes níveis de qualificação adequados às reais necessidades das empresas. Este projeto pretendeu aumentar a competência dos recursos humanos, potenciado desta forma o aumento da competitividade das empresas. Infelizmente os resultados ainda não foram devidamente incorporados nos existentes planos formativos.
Além desse, dou especial destaque ao primeiro projeto financiado pelo COMPETE em 2009, um projeto de dinamização no âmbito do Sistema de Incentivo a Ações Coletivas e que constituiu a rampa de lançamento da InovCluster. Este projeto incluiu a primeira atividade realizada de forma coletiva pelos vários clusters, a participação conjunta na mostra Portugal tecnológico. Uma atividade que nasce no âmbito de um desafio do COMPETE e cuja interação entre clusters dá posteriormente origem ao PortugalClusters, movimento que se mantem até aos dias de hoje.
O papel do COMPETE no processo de clusterização foi absolutamente marcante. Recordo o papel do então gestor, o Dr. Nelson Souza, quando em 2009 teve a ambição de apostar num Cluster do interior, o único cluster com sede no interior.
| Qual foi o momento mais emocionante no seu trajeto professional? |
Recordo alguns momentos marcantes. O primeiro quando em 2015 o InovCluster foi reconhecido internacionalmente como um Cluster de excelência, tendo-lhe sido atribuído em 2016 o selo Gold Label da European Cluster Excellence Initiative (ECEI).
Posteriormente um outro momento, no âmbito da organização por parte da InovCluster de um evento internacional, em Castelo Branco, a I Feira de Inovação Agroalimentar (i9agri). Percecionar no fim do certame os resultados atingidos, quer ao nível das empresas participantes, quer do número de visitantes, ou os resultados dos encontros bilaterais entre empresas e importadores, constituiu um momento marcante.
Por último referir aquela emoção partilhada com as empresas quando no âmbito duma ação de internacionalização por nós organizada, nos comunicam que vai seguir uma encomenda para os mercados externos.
| E qual foi o obstáculo mais interessante de superar? |
O primeiro obstáculo que sobressaiu neste percurso prende-se com o facto de ser mulher. Infelizmente, quando olhamos para os números em termos de igualdade de género ao nível de cargos de chefia, as mulheres representam apenas 22%, o que nos obriga a refletir. A necessidade de dedicação acrescida para reconhecimento da capacidade de trabalho, a necessidade de conciliar a dimensão profissional com as restantes dimensões e que numa fase inicial se assumiram como dificuldades, assumiram-se posteriormente como uma oportunidade.
Outro obstáculo que encontrei durante os últimos dez anos remete para a dificuldade de concertação dentro do próprio setor. Exemplo disso é a dispersão de empresas/entidades que se apresentam a promover os produtos portugueses nos mercados externos, sem qualquer tipo de concertação entre si. A InovCluster sempre pautou a sua estratégia pela promoção coletiva, abdicando da promoção de uma marca própria, em prol de uma marca coletiva. Isto justifica o facto de nos apresentarmos nos mercados externos articulados e sob a marca chapéu PortugalFoods, assumindo que juntos contribuímos para o reforço da imagem de um país.
| E Gerir o tempo? Qual o segredo? |
A boa gestão do tempo é sem dúvida um dos principais ingredientes para conseguirmos atingir os nossos objetivos com sucesso. O campo profissional e o pessoal competem pelo mesmo recurso, pelo tempo. É esta ginástica de concertação que todos os dias pratico, dividida entre a organização das tarefas domésticas, o apoio à família, o trabalho e o envolvimento de forma proactiva na sociedade. O segredo está em conseguir conciliar com dedicação todas as partes, planeando, organizando e fazendo opções. Esta tarefa fica amplamente simplificada quando o fazemos com paixão, boa disposição e com um apoio familiar adequado.
Naturalmente, fui aprendendo a fazer uma melhor gestão do tempo, criar métodos de trabalho e formas pragmáticas de resolução de situações inesperadas, deixando progressivamente o perfecionismo que me caraterizava. Quando procuramos marcar a diferença é importante fazer acontecer e não recuar perante as adversidades. É necessário aprender a lidar com o facto de, por vezes, ser necessário deixar uma tarefa para o dia seguinte.
| A sua experiência com os Fundos da União Europeia … fizeram a diferença? |
Não sendo os Fundos da União Europeia uma condição estritamente necessária ao funcionamento da InovCluster, a sua intervenção permitiu o desenvolvimento de inúmeras atividades direcionadas para as empresas do setor, funcionando como um catalisador no impacto e nos resultados obtidos. Atrevo-me mesmo a compará-los a uma locomotiva que puxa um conjunto de carruagens desta Estratégia de Eficiência Coletiva.
Em relação às empresas, os Fundos Comunitários assumem um impacto positivo. Exemplo disso são as inúmeras ações de internacionalização ou de qualificação inseridas nos projetos conjuntos. Uma economia forte assenta necessariamente num tecido empresarial robusto. E parte desse fortalecimento tem sido conseguido graças a todo o apoio prestado pelo financiamento ás empresas. É por isso importante salientar o papel relevante que os Fundos da União Europeia desempenham nos agentes económicos, na criação de cadeias de valor em prol do aumento de competitividade das empresas e no investimento privado que surge após o investimento público.
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Breve Nota Biográfica
Cláudia Alexandra da Fonseca Domingues Soares, nasceu no dia 10 de julho de 1976 e é natural da Guarda. É licenciada em Engenharia Mecânica pelo Instituto Politécnico da Guarda (2002), Mestre em Engenharia Mecânica, ramo Térmicas, pela Universidade da Beira Interior (2007) e certificada profissionalmente pela Universidade de Salamanca em Gestão de Incubadoras, Aceleradoras e Centros de Desenvolvimento Empreendedor (2016). Entre 2002 e 2009 desempenhou funções docentes no Instituto Politécnico de Castelo Branco, repartidas entre 2002 e 2007 na Escola Superior de Tecnologia e entre 2008 a 2009 na Escola Superior de Saúde Dr. Lopes Dias. Desempenhou funções no CEDER - Centro de Estudos e Desenvolvimento Regional do Instituto Politécnico de Castelo Branco, entre 2007 e 2009, na área do desenvolvimento e gestão de projetos. Assumiu funções como Diretora Executiva da InovCluster – Associação do Cluster Agroindustrial do Centro desde janeiro de 2010 até outubro de 2017. É atualmente presidente da Inovcluster. É, desde 2015, membro do Cluster Excellence Expert Group (CEEG) – Grupo de especialistas Europeus de Avaliação dos Clusters e Polos de Competitividade. Desde outubro de 2016 até outubro de 2017 assumiu a Coordenação operacional da CATAA - Associação do Centro de Apoio Tecnológico Agroindustrial do Centro, coordenando as duas estruturas que a compõem: CATAA e CEi- Centro de Empresas Inovadoras, em Castelo Branco. Foi deputada Municipal de Castelo Branco entre 2013 e 2017. Assume desde outubro de 2017 o cargo de vereadora a tempo integral na Câmara Municipal de Castelo Branco nos pelouros do Empreendedorismo, Inovação e Desenvolvimento Económico.
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07/03/2019 , Por Cátia Silva Pinto
Portugal 2020
COMPETE 2020
União Europeia