Entrevistámos António Selada, responsável pelo projeto BEPIM III que visa produzir implantes dentários diferenciadores

Em entrevista ao COMPETE 2020, António Selada, responsável pelo gabinete de IDI do Grupo VANGEST e pelo projeto BePIM III - que produz implantes dentários com materiais diferenciadores - sintetiza o percurso percorrido no âmbito deste projeto, destacando que, da sua experiência, os fatores de sucesso para uma empresa ser inovadora passam por promover “a adaptação contínua, a investigação experimental, a apropriação de conhecimento, a comunicação interna e a partilha do conhecimento, estimulado o empreendedorismo e a capacidade de assumir riscos”.

 

1. Entrevista

 

António Selada, responsável pelo gabinete de IDI do Grupo VANGEST e pelo projeto BePIM III - que produz implantes dentários com materiais diferenciadores
Como nasceu o projeto BEPIM III: Microdispositivos médicos com capacidades osteointegradoras por microPIM?
Este projeto surge suportado por trabalhos de investigação de dois projetos anteriores, que permitiram atingir resultados promissores que demonstraram ser possível produzir implantes dentários pela técnica de microinjeção (μPIM), com a qualidade adequada à sua função. No primeiro projeto, foi conseguida, com sucesso, a produção de implantes dentários metálicos, onde o implante e o pilar eram uma única peça; no seguinte, foi ultrapassado o desafio, ainda atual, de produzir implantes dentários cerâmicos brancos (zircónia estabilizada com 3% de Y (YSZ)) com ou sem revestimento osteointegrador, constituídos por duas partes amovíveis, implante e pilar, e com a possibilidade adicional de integrarem células estaminais isoladas da polpa dentária (DPSCs). O sucesso no desenvolvimento destes implantes dentários abre novas perspetivas para a sua aplicação em casos específicos para os quais os implantes convencionais, atualmente comercializados, não se apresentam como solução viável.
 
Os processos replicativos, nomeadamente a moldação por injeção de pós, muito utilizados para o fabrico de produtos com geometria complexa, como é o caso dos implantes, são uma via de reduzir o custo de produção, como já foi claramente demonstrado nos projetos anteriores. Nesses projetos, foi otimizada a fabricação de implantes metálicos (BePIM) e cerâmicos (BePIM II) através da técnica de moldação por injeção de pós. No segundo, foram produzidos por μPIM implantes dentários em zircónia estabilizada constituídos por duas partes conectáveis, de modo a facilitar o procedimento cirúrgico de implantação. Os implantes de zircónia estabilizada com 3% de Ítrio (YSZ) são para os implantologistas cada vez mais a opção, devido às suas excelentes propriedades mecânicas (estéticas e biológicas). 
   
É possível a uma empresa garantir quota de mercado se não apostar na inovação?
De notar que o mercado internacional se move atualmente por uma clara aposta na “inovação verde”, onde seja possível incorporar tecnologias avançadas em produtos transacionáveis de alto valor acrescentado que respondam a grandes desafios societais ligados ao ambiente. Isto é especialmente vincado nas inovações para o setor da saúde.
 
A 3DTech, promotor líder e o Grupo VANGEST que a integra, tem, na sua génese, uma postura de inovação contínua. Só assim tem sido possível crescer a um ritmo superior ao da economia nacional. 
   
Quais são as grandes ambições e os grandes desafios para este projeto em 2019? O projeto BEPIM III – Projeto Demonstrador, enquadra-se na estratégia e objetivos de crescimento de todos os promotores empresariais (3DTECH, BIOSCKIN e TECNIFREZA), que procuram cada vez mais afirmar-se no mercado nacional e internacional, sobretudo como empresas inovadoras e que disponibilizam no mercado produtos e soluções de elevado conteúdo tecnológico. De salientar que os resultados passíveis de serem explorados foram objeto de desenvolvimento nos projetos que decorreram anteriormente: BEPIM e BEPIM II (3DTECH e IPN).
   
Da vossa experiência quais os fatores de sucesso para uma empresa que se quer inovadora?
Em empresas inovadoras é promovida a adaptação contínua, a investigação experimental, a apropriação de conhecimento, a comunicação interna e a partilha do conhecimento, estimulado o empreendedorismo e a capacidade de assumir riscos. É construída uma visão inovadora que direciona a definição de estratégias claras partilhadas por toda a empresa.
 
A gestão eficaz dos meios disponíveis contribui de forma decisiva para garantir uma maior dinâmica e um melhor desempenho inovador. A gestão, do capital humano, orientada para a inovação, as competências e capacidades empresariais que potenciam o desempenho inovador e as estruturas empresariais que suportam as atividades de inovação são, entre as múltiplas tipologias de recursos, as consideradas como mais relevantes.
A procura intensiva de soluções para diminuir o peso de veículos de transporte, por exemplo, tem dominado as indústrias, automóvel e aeronáutica, nas últimas décadas. Os desenvolvimentos de novos materiais com pesos específicos mais baixos, a substituição sistemática dos existentes por outros com uma relação resistência mecânica / peso específico cada vez mais elevada, têm contribuído para uma redução significativa do peso final a transportar.
Por exemplo, os moldes para processar compósitos à base de CFRT (Continuous Fibre Reinforced Thermoplastic) encontram-se numa fase de inicial do seu ciclo de vida. As tecnologias de produção dos materiais e produtos com CFRT exploram as suas oportunidades de crescimento através do desenvolvimento de novas aplicações otimizadas, e na obtenção de know-how e competências ao nível dos processos de fabrico e engenharia.
   
Qual a relevância do COMPETE 2020 para as estratégias de inovação empresarial? Este projeto contou com o cofinanciamento do COMPETE 2020 no âmbito do Sistema de Incentivos à I&DT na tipologia de projeto demonstrador, com um incentivo de 450 mil euros.
 
 
 
 
2. Perfil do entrevistado
 
Nome: António Selada
Habilitações Académicas:
> Licenciatura em Engenharia Mecânica pelo Instituto Superior Técnico (IST)
> Doutorado em Ciência e Engenharia de Polímeros e Compósitos pela Universidade do Minho
Actividade Profissional Actual:
> Responsável pela Área de Investigação, Desenvolvimento e Inovação do grupo Vangest
Actividade Profissional Anterior:
> Diretor industrial da Carvalho & Catarro, S.A. 
> Administrador da SGPS PARTICONTROL 
> Responsável pela Vigilância Tecnológica do CENTIMFE
> Equiparado a Professor Adjunto no DEM do IPL 
 
 
3. Links ùteis
 

20/02/2019 , Por Cátia Silva Pinto
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