Conversámos com Alexandra Vilela, vogal da Comissão Diretiva do COMPETE 2020

 

O Compete2020 , é um programa com uma visão sistémica da competitividade . Como é que se conciliam as vertentes de apoio direto e indireto às empresas?

A competitividade bem como a produtividade - duas variáveis essenciais para o crescimento da nossa economia e a única forma de alcançarmos níveis de desenvolvimento e de qualidade de vida com que todos sonhamos, não se alcançam apenas, ou mesmo essencialmente, através dos apoios diretos às empresas.  Até porque o financiamento direto às empresas pode ser provido de diferentes formas, que não se esgotam nos apoios dos FEEI, que aliás seriam sempre insuficientes face às necessidades da economia. No entanto, a promoção dos chamados factores imateriais de competitividade, são essenciais para a transformação da nossa economia e da sua capacidade de inovar - a única forma de sermos competitivos é através da produção de bens e serviços com elevada incorporação de inovação e diferenciação, de forma a subirmos nas cadeias de valor internacional, que quer dizer essencialmente vendermos produtos e serviços mais sofisticados e mais caros! Ora estes factores só se conseguem através do apoio a dimensões a montante das empresas: os apoios à investigação e desenvolvimento, sobretudo de natureza colaborativa, de forma a transferir conhecimento e inovação dos centros de saber para as empresas; o apoio à qualificação dos recursos humanos, quer dos jovens como dos ativos, marcados por um histórico déficit de qualificações, o que importa ultrapassar, até por solidariedade intergeracional mas também porque as empresas precisam de mão-de-obra qualificada; o apoio a ações coletivas de inovação, como são o caso dos clusters; o apoio à transformação digital das administrações públicas, como forma a reduzir os custos de contexto; o apoio a infraestruturas de transporte de suporte à atividade económica e às exportações em particular. E o COMPETE2020 é efetivamente um programa que olha para todas estas dimensões de forma holística, casando-as de forma virtuosa com os apoios diretos às empresas, quer sejam os incentivos diretos, como os instrumentos financeiros, que se constituem como uma forma interessante de diversificar o acesso ao financiamento.

O COMPETE2020 é efetivamente um bom instrumento programático, embora envolvendo uma enorme complexidade a nível da implementação concreta de instrumentos tão diversificados. Mas esse é também o desafio – porque certamente resulta numa intervenção mais rica e completa, o que é entusiasmante.

 
Considerando o seu trajeto e a sua experiência com os Fundos da União Europeia, quais os resultados que mais destacaria no país que hoje conhecemos?

O meu maior prazer, ao longo de mais de 25 anos de trabalho continuo com os fundos estruturais, é conhecer, em primeira mão, o quanto o país mudou, de forma radicalmente positiva! Conhecer Portugal em 1992 e olha-lo agora, mesmo que não se tenha alcançado tudo o que esperávamos quando começamos o nosso percurso europeu, há que reconhecer que o país é outro, deu saltos de desenvolvimento só possíveis pelas politicas de coesão desta nossa união europeia. E  permitiu o desenvolvimento de politicas publicas só possíveis devido ao financiamento comunitário, uma vez num quadro tradicional de escassez de recursos, as opções recaem sempre nas escolhas mais óbvias de desenvolvimento infraestrutural.

Por exemplo, não teríamos desenvolvido uma politica publica de promoção da Ciência sem o contributo dos fundos estruturais, que permitiram a estabilidade e continuidade de linhas de apoio fundamentais, como por exemplo a formação avançada ou as unidades de investigação, criando uma efetiva  politica publica de ciência. E mais exemplos podemos convocar – o reposicionar do ensino profissional, através das escolas profissionais, mas também das escolas tecnológicas, depois da implementação do ensino unificado ter rompido com uma necessidade central, de dotar o país de quadros qualificados. Esta é a face menos visível dos apoios europeus – menos que as visíveis infraestruturas que não tínhamos e que hoje são um dado em todos os territórios, esta alavancagem das politicas de qualificação dos nossos recursos humanos, permitiu ter hoje o nosso mais valioso ativo -  a geração mais qualificada de sempre.  E este ativo é valioso para prosseguir no que falta ser feito – acrescentar valor através da inovação  na nossa produção de bens e serviços, colocar o conhecimento ao serviço da sociedade, das empresas, de todos.

 
Qual foi o momento mais emocionante no seu trajeto profissional?

Felizmente que me vêm vários à cabeça. Não posso esquecer o principio dos fundos estruturais em Portugal, em 1992, quando comecei a trabalhar na então DGDR. Sentíamos o progresso a passar por nós, um cartaz a dizer “Apoiado pelo FEDER” numa qualquer obra, fazia sentir que contribuía todos os dias para mudar Portugal um pouco! Depois ver do lado da Comissão Europeia como o processo se organiza, como a máquina decisória funciona, viver no centro da Europa – Bruxelas! Mas não posso esquecer o trabalho do lado da Educação, ver a diferença que o Ensino Profissional faz na vida dos nossos jovens, como traduz uma escola mais próxima dos seus anseios e desejos, num mundo cada vez mais rápido, em que as aprendizagens são aceleradas, exigentes, diversificadas. Como estas  escolas se inscrevem no tecido empresarial e dão resposta, fazem parte desse ecossistema. Permitir estabilizar o financiamento do sistema, lançar as primeiras experiencias de custos simplificados em 2010 – o que agora nos parece obvio e fácil, foi uma verdadeira aventura!

E agora a economia, nesta dimensão de intervenção holística, está a ser uma experiencia entusiasmante, nunca se esgota porque há sempre imenso para fazer, para inovar. Tudo somado nestes quase 30 anos, é um privilegio aprender tanto a trabalhar, em áreas diferentes, complementares e integradas. Por via dos fundos, aprendo todos os dias. E mantem-se o sentimento de passar por um cartaz, agora do PT2020, e sentir que ajudei a encontrar soluções! Alias, mesmo quando é um cartaz de outros Programas, tiro foto e mando aos colegas! Quando são cartazes do COMPETE2020, mando aos meus amigos com orgulho!

 
E qual foi o obstáculo mais interessante de superar?
Provavelmente resistir à facilidade e às zonas de conforto que vamos criando, invariavelmente. Os procedimentos e práticas, ao longo de muitos anos de experiência profissional, tendem a cristalizar de alguma forma. O mais interessante é resistir a esta tentação por manter o status quo e procurar sempre novas formas de implementar as politicas públicos e respetivos modelos de financiamento via fundos estruturais. Esta forma de romper com as práticas estabelecidas é através da inovação, de novas metodologias de financiamento, procurar “fazer o que ainda não foi feito”! Aqui inserem-se as modalidades de custos simplificados, novas formas de apoio e novas tipologias de intervenção, procurar sempre melhores formas de organizar os processos. Simplificar o possível – e recusar o “sempre foi feito assim”…. Também mudar de áreas de intervenção, de programas, de fundo! Diversificar a atividade ao longo do tempo tem sido efetivamente um privilégio, mas também um desafio – só essa visão mais global nos permite inovar metodologias e processos mais facilmente. 
 
E Gerir o tempo? Qual o segredo?
Não há propriamente um segredo, mas quase sempre prejuízo para a vida pessoal! E atenção que não me refiro a prejuízo para a vida familiar – essa é e sempre foi uma prioridade. O que acontece é que entre família – filho, e trabalho, há menos tempo para mim! Mas é uma opção de quem se realiza muito através do trabalho. O resto é compromisso diário entre trabalho e família, flexibilidade de horários, muito trabalho em casa em regime noturno, muito tempo fora de casa, muita partilha e entreajuda familiar. Não há segredo! Há imaginação e vontade!

05/03/2020 , Por COMPETE 2020
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