Indústria mais competitiva se apostar na eco-inovação
Mercado premeia cada vez mais as empresas comprometidas com a sustentabilidade.
Depois da economia verde, o tecido industrial português precisa de despertar para a eco-inovação. Mais do que um conceito ditado por modelos de gestão e práticas de consumo há muito interiorizados no Norte da Europa, tem de ser encarada como uma causa indissociável da competitividade do país e da sustentabilidade do planeta.
Este é um dos principais ensinamentos que retém a equipa de consultores que a Associação Empresarial de Portugal (AEP) teve no terreno, no último ano e meio, para melhor conhecer a situação da indústria nacional em matéria de eco-inovação. Para tanto, foi operacionalizado o projecto Ecoprodutin - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação, co-financiado pelo Compete, ao abrigo do QREN. E os resultados obtidos têm tanto de incentivo, pelas oportunidades identificadas e pelo trabalho de sensibilização realizado junto do tecido industrial das regiões Norte, Centro e Alentejo, como de desalento, por se ter confirmado que são ainda relativamente poucas as empresas portuguesas que adoptaram a eco-inovação para serem mais competitivas e se diferenciarem.
Porém, os consultores da AEP não deixam de assinalar que "as empresas que mais cedo perceberem a relação intrínseca entre competitividade e eco-inovação estarão mais bem preparadas para enfrentar os desafios vindouros". E essas serão "as empresas de sucesso", como se realça em "Eco-inovação e a competitividade empresarial", uma das três publicações que resultam da execução do Ecoprodutin.
Um dos méritos do projecto foi, aliás, ter municiado a indústria portuguesa com um "kit de ferramentas de apoio à implementação da eco-inovação", consubstanciado na referida publicação, em que se procura evidenciar os méritos da relação causa-efeito entre eco-inovação e competitividade, e em outras duas publicações: um repositório de informações práticas a ter em conta pelas empresas que pretendam tirar vantagem de práticas de gestão inovadoras e sustentáveis (o "Guia para a eco-inovação em PME") e um estudo de "Benchmarking internacional de projectos eco-inovadores".
Em linha com as estratégias europeias para a corrente década, que visam o crescimento inteligente, sustentável e inclusivo, e as metas previstas no Compromisso para o Crescimento Verde - que a AEP subscreveu com o Governo e 80 outras organizações representativas da sociedade civil portuguesa -, sugere-se que as nossas empresas encarem a eco-inovação como um meio, um instrumento de mudança.
O objectivo final é tornar qualquer empresa capaz de conceber e desenvolver um novo ou significativamente melhorado produto (bem ou serviço), processo, mudança organizacional ou solução de marketing, reduzindo o uso de recursos naturais (sejam matérias-primas, materiais, energia, água, solo, etc.) e libertando menos substâncias nocivas para o ambiente. Essa deve ser uma preocupação permanente ao longo de todo o ciclo de vida, quer se trate de produtos, tecnologias ou organizações.
No caso de um produto, importa ter em conta oito etapas distintas: extracção de matérias-primas; produção de materiais; produção de componentes; fabrico do produto propriamente dito; distribuição (B2B ou B2C); utilização; fim de vida; e reciclagem e valorização.
Para além dos ganhos em competitividade, as empresas que apostem na eco-inovação conseguirão mais facilmente outras vantagens, com reflexos internos e externos. Por exemplo: património ético (cultura organizacional, responsabilidade social, confiança dos consumidores, etc.), redução de riscos (menos não-conformidades e menos emissões poluentes propiciam, normalmente, ganhos reputacionais e mais segurança) e capital imaterial (propensão para a inovação permanente, ecossistema de parceiros, atractividade da marca e de talento, por exemplo).
Outro ensinamento que as empresas industriais portuguesas, mormente as PME, podem retirar da execução do Ecoprodutin tem a ver com a operacionalização de um modelo de gestão comprometido com a eco-inovação. Os consultores da AEP confirmaram a validade do método "OpenGreen", que assenta em sete etapas. Na fase pré-projecto, há que identificar as oportunidades, analisar exaustivamente a situação que pode determinar o sucesso do produto ou serviço e conceber alternativas, de modo a atingir soluções realmente inovadoras. Depois, é recomendável seleccionar as alternativas ajustadas ao modelo e à estratégia da empresa. Só então se deverá partir para a execução do projecto, com a implementação das soluções, a adopção de uma política de comunicação que reforce os valores associados ao produto e à empresa e, por último, a capitalização das soluções encontradas.
Fonte: Diário Económico