Transferência de Conhecimento: Leia a entrevista ao COMPETE 2020 de António Bob Santos, administrador da ANI

António Bob Santos, administrador da ANI - Agência Nacional de Inovação deu uma entrevista ao COMPETE 2020 onde explicou o âmbito e as iniciativas do projeto “Programa Nacional de Transferência de Conhecimento” e a importância do apoio dos fundos comunitários.

1. Enquadramento

A ANI – Agência Nacional de Inovação está a coordenar o projeto “Programa Nacional de Transferência de Conhecimento”, cofinanciado pelo COMPETE 2020 e que tem como principal objetivo potenciar a transferência do conhecimento científico e tecnológico para o tecido empresarial, através de redes e ações que valorizem os resultados da investigação e a sua exploração económica nos mercados e pelas empresas. Através de um conjunto articulado e coerente de iniciativas, visa-se criar novos instrumentos ou procedimentos conducentes a essa transferência e valorização. (ou adicionar maior eficiência à ação dos instrumentos existentes). 
 
Este projeto visa, também, gerar resultados de elevado impacto, nomeadamente através do papel complementar da ANI na promoção de uma maior envolvência, coerência institucional e articulação entre os atores do Sistema Nacional de Inovação (SNI), especialmente os envolvidos em processos de transferência de conhecimento científico e tecnológico, reforçando a transferência de conhecimento para as empresas e a difusão da I&D para o mercado. 
 
Apoiado pelo COMPETE 2020 no âmbito do SIAC - Sistema de Apoio Ações Coletivas, o projeto “Programa Nacional de Transferência de Conhecimento” envolveu um investimento elegível de cerca de 2,4 milhões de euros, correspondendo a um incentivo FEDER de cerca de 2 milhões de euros.
 
São diversas as iniciativas contempladas nas atividades deste projeto, que terão impacto direto positivo sobre as entidades envolvidas (nomeadamente empresas), mas também gerarão externalidades positivas sobre outros atores económicos e sobre a economia local e das regiões de convergência, a prazo.
 
E é no âmbito de uma das iniciativas – Born From Knowledge, que visa valorizar o conhecimento científico e tecnológico – que dedicamos esta edição da Newsletter, entrevistando o administrador da ANI, António Bob Santos e apresentando três projetos de I&D apoiados pelo COMPETE 2020, designadamente, Essence, Co-CerealValueICanSea.
 
 
2. Entrevista
 
No âmbito da transferência de conhecimento para o mercado, sua valorização e comercialização surgiu o projeto “Programa Nacional de Transferência de Conhecimento”. Quais os principais objetivos e que iniciativas destacaria?

Os principais objetivos passam por potenciar a transferência do conhecimento científico e tecnológico para as empresas, através de redes e de ações que valorizem os resultados da investigação e a sua exploração económica nos mercados. Através de um conjunto articulado e coerente de iniciativas, este Programa visa criar novos instrumentos ou procedimentos conducentes a essa transferência e valorização, mas também adicionar maior eficiência à ação de instrumentos já existentes. Das iniciativas já lançadas, destaco:

i) o Born from Knowledge (valorização das ideias e projetos com origem no sistema científico e tecnológico);

ii) o Demonstrador Tecnológico (divulgação e demonstração dos projetos desenvolvidos pelas Infraestruturas Tecnológicas, nomeadamente pelos Centros de Interface);

iii) o Portal da Inovação, que pretende mapear as entidades e competências das entidades do Sistema de Inovação, e promover o matching entre oferta e procura de tecnologia;

iv) ou o Prémio Nacional de Jornalismo de Inovação, que visa promover o jornalismo português sobre inovação de base científica e tecnológica.

   
A cultura de celebrar o conhecimento científico está no ADN deste projeto. Qual o papel da ANI na promoção desta dinâmica? Pela sua natureza institucional, a ANI é uma entidade central no Sistema de Inovação para fazer a ligação entre a Ciência e as Empresas, promovendo a valorização do conhecimento e a difusão da I&D e da inovação por toda a sociedade. A ANI tem também um papel complementar à atuação de outras entidades, promovendo uma maior envolvência, coerência institucional e articulação entre os atores do Sistema de Inovação, em especial os ligados aos processos de transferência e valorização do conhecimento e da tecnologia.
   
Qual a importância de instrumentos de política pública, como as ações coletivas, para incrementar uma cultura de inovação? Os instrumentos de política pública assumem um papel extremamente relevante na promoção da inovação. Por um lado, ao desenvolver mecanismos orientados para colmatar as ineficiências resultantes da atuação do mercado, nomeadamente as ligadas à valorização do conhecimento e difusão da inovação; por outro lado, ao estimular respostas a problemas de funcionamento do sistema de inovação; por fim, ao definir as estratégias, os objetivos e as escolhas em termos de investimentos em I&D e inovação, no sentido de dar resposta aos problemas da sociedade e do país a longo-prazo. O COMPETE é um ótimo exemplo de um instrumento de política que cobre muitas destas dimensões. Destaco, por exemplo, os incentivos à consolidação da política de clusters ou à capacitação das infraestruturas tecnológicas. 
   
O Born from Knowledge (BfK) é uma das iniciativas do projeto “Programa Nacional de Transferência de Conhecimento” que gostaríamos de aprofundar, sendo já considerado um caso de sucesso nacional. O que considera ser crítico para tal? O Born from Knowledge veio preencher uma lacuna existente em termos de política pública -  a da valorização do conhecimento e tecnologias geradas no sistema científico e tecnológico. Havia já alguns instrumentos e entidades com estas preocupações, mas o BfK veio permitir acelerar estes mecanismos. O BfK permite identificar as ideias e projetos de base científica e tecnológica, dar-lhes visibilidade, premiá-las e promover a articulação com outras entidades mais próximas do mercado. Trabalhamos em articulação com a Portugal Ventures ou a Startup Portugal, dado que são entidades fundamentais para apoiar estas ideias e projetos a tornarem-se viáveis no mercado. Mas o sucesso do BfK deve-se, também, à capacidade de mobilizar e envolver várias entidades neste processo, como as Universidades, os Politécnicos, as entidades de investigação, os Gabinetes de Transferência de Tecnologia (GAPI/OTIC) e até empresas e instituições privadas. Claro que isto só é possível devido à qualidade da coordenação e gestão do programa Born from Knowledge na ANI.
   
No âmbito das iniciativas BFK Ideas: distinção das melhores ideias de negócio do Ensino Superior e BfK Awards: reconhecimento de projetos e empresas nascidas do conhecimento que se destacaram em atividades de I&D, já foram atribuídos dezenas de prémios. Pode falar-nos dos vencedores da edição de 2019?

O BfK ideas e o BfK Awards permitiram premiar dezenas de ideias e capacitar vários promotores nos últimos 2 anos. No BfK Ideias já capacitámos mais de 40 ideias de negócio, envolvendo mais de 100 promotores, tendo sido encontrados cerca de 10 vencedores. No BfK Awards foram já dadas quase 30 distinções no âmbito do BfK Awards, envolvendo mais de 30 entidades parceiras e mais de 300 candidaturas analisadas.

Destas distinções, destaco os projetos GoParity, na área das transações digitais orientadas para projetos sustentáveis (no âmbito dos World Summit Awards) ou o projeto iLOF, desenvolvido por jovens investigadores do INESC-TEC, que tem em desenvolvimento um mecanismo para tratamento de doenças degenerativas, nomeadamente o Alzheimer (no âmbito do Altice Innovation Awards). São projetos muito orientados para dar resposta a problemas concretos da nossa sociedade.

Aliás, em 2019 identificamos 5 áreas que quisemos dar destaque através do BfK Ideas: Materiais e Tecnologias Avançadas de Produção; Energia, Transportes e Mobilidade Sustentável; Recursos Naturais, Ambiente e Alterações Climáticas; Turismo, Indústrias Culturais e Criativas.    

   
Que papel têm desempenhado os Fundos da União Europeia na dinamização do projeto? Os Fundos Estruturais têm sido fundamentais para a operacionalização do Born from Knowledge, que é apoiado em grande parte pelo COMPETE. Este apoio tem permitido alargar o âmbito de atuação do programa, envolvendo mais entidades, promotores e capacitando e apoiando jovens investigadores e empreendedores. Os Fundos Europeus não só complementam os instrumentos e financiamento nacional, como aceleram a execução do BfK e o seu impacto na sociedade.
 
3. Breve Perfil Profissional 

Doutorado em Economia pelo ISCTE-IUL, António Bob Santos é especialista em Políticas de Inovação e em Inovação Aberta. Desde julho de 2018 integra o Conselho de Administração da ANI – Agência Nacional de Inovação, tendo inicialmente desempenhado o papel de Assessor para as Políticas de Inovação na mesma instituição (2017/2018).

Desde 2001 que colabora com várias estruturas governamentais na área da Política de Inovação, tendo integrado as equipas de conceção, gestão e monitorização do PROINOV (Programa Integrado de Apoio à Inovação), do Plano Tecnológico, da Agenda Digital, da Estratégia de Lisboa, do Plano Nacional de Reformas e do Programa Nacional para o Empreendedorismo e Inovação (+E+I). António Bob Santos foi gestor de projetos de inovação na UMIC (Agência para a Sociedade do Conhecimento), com responsabilidades na conceção de iniciativas como o NEOTEC, OTIC, Centros de Excelência da b-on (Biblioteca do Conhecimento Online), e colaborado na gestão de projetos de Smart Cities no CEiiA.

António Bob Santos foi também docente convidado em Mestrados do Instituto Politécnico de Santarém (2008-2012) e do ISCTE-IUL (2017/2018), sendo autor de várias publicações académicas e não académicas sobre inovação.

27/11/2019 , Por Cátia Silva Pinto
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