Que futuro para os Recursos Minerais de Portugal
Entrevista a Marta Peres … Diretora Executiva da ASSOCIAÇÃO CLUSTER PORTUGAL MINERAL RESOURCES |
O que é o Cluster dos Recursos Minerais de Portugal? |
Este Cluster tem como principal objetivo delinear uma Estratégia Comum para os Recursos Minerais em Portugal, abordando toda a sua cadeia de valor e resultando da evolução do Cluster da Pedra Natural. Esta evolução era fundamental para dar uma resposta completa à Estratégia Nacional dos Recursos Geológicos – Recursos Minerais (RCM nº78/2012 de 11 de Setembro de 2012), à Estratégia para o Crescimento, Emprego e Fomento Industrial 2013-2020 e ainda a Estratégia Europa 2020, que inclui a “Europa Eficiente em matérias primas”.
Nasceu da vontade de vários parceiros de contribuírem para a Estratégia Comum e no seu primeiro ano de operação tem comprovado que o trabalho em rede gera resultados.
O Cluster dos Recursos Minerais é uma rede de inovadores e “early adopters”, onde a sua maioria são Empresas (mais de 70% dos membros) que trabalham ativamente com as Universidades (15% do número de membros). Esta rede conta neste momento com um total de 54 membros, tendo no último ano, registado um crescimento de mais de 40%.
O Cluster assenta a sua atuação mobilizando esta rede de inovação para a execução do seu plano de ação, desenhado até 2020 e que inclui cerca de 16 Projetos Estruturantes que abordam a prospeção, pesquisa, avaliação e certificação mineral, economia circular, internacionalização, promoção do design, investigação e desenvolvimento de novos produtos e tecnologias, equipamentos e software, Indústria 4.0.
Desde o seu reconhecimento, e com pouco mais de um ano volvido, o Cluster soma 12 Milhões de Investimento em IDT, Inovação e Internacionalização.
Como descreve a evolução do sector na última década? Quais são os fatores de diferenciação que podem colocar as empresas nacionais no mercado global. |
O sector na última década tem-se caracterizado pela aposta o conhecimento e em pessoal qualificado, na tecnologia e na Internacionalização e numa maior preocupação com a sustentabilidade ambiental e coesão territorial.
Particularmente para a Pedra Natural, a perceção de que a valorização da nossa matéria prima (das melhores do mundo) é o nosso grande trunfo, conseguindo pela via da qualificação e tecnologia, acrescentar valor à pedra, fez com que na última década, tenhamos conseguido manter nos 10 primeiros lugares entre os Países produtores e exportadores. Um país com a nossa dimensão, é um orgulhoso concorrente na Pedra Natural, com países como China, India e Brasil. As Empresa estão cada vez mais voltadas para a resposta à diversificação de Mercados, para a resposta à arquitetura, às tendências e até à moda.
Oferecer ao Mercado a diferença, a obra e a credibilidade (através da Marca Certificada STONE.PT) tem mostrado resultados positivos de competitividade. A presença constante das nossas Empresas nos certames mundiais, o investimento em tecnologia e em layouts cada vez mais Lean (fazer mais, melhor, com menos), tem contribuído, também para esta equação para o sucesso.
Relativamente aos Recursos Minerais Metálicos, a evolução não tem sido a desejável, sendo fundamental:
> O reconhecimento da importância estratégica do sector e do seu potencial contributo para o desenvolvimento económico, da parte do Governo, incentivando-se a valorização total do recurso, em especial no desenvolvimento das últimas etapas da sua cadeia de valor, chegando-se assim a produtos finais, com evidente criação do respetivo valor acrescentado;
> Melhoria do conhecimento geológico dos recursos existentes e o desenvolvimento de novas tecnologias e metodologias que permitam encontrar novas jazidas;
> Aumento do espectro das concessões de prospeção e exploração;
> Diversificação dos recursos minerais explorados, nomeadamente alguns que se perfilam como muito importantes num futuro próximo (e.g. o lítio);
> Atração de novos operadores para o mercado português com o objetivo de incrementar a exploração destes recursos.
Para a Pedra Natural, a continuação de uma trajetória assente no valor acrescentado, pela via da inovação e da tecnologia, é a única via para a diferenciação global.
O trabalho em rede entre Empresas de Pedra Natural, Empresas de Equipamentos, Universidades e Associações em torno dos vetores da internacionalização, inovação e competitividade é essencial para mantermos o crescimento de cerca de 6% de exportação ao ano. A nossa pedra encontra-se atualmente, em todas as obras do Mundo, das mais simples, à mais emblemática. As nossa Empresas trabalham cada vez mais com os melhores arquitetos do Mundo e estamos a aproximar-nos, cada vez mais, de um mercado de charme, de luxo, em que a qualidade e a diferença ditam a procura.
Extração e transformação: 2 faces da mesma moeda? |
Não. Eu diria antes, as duas faces que compõem a moeda.
Portugal tem uma diversidade e quantidade de recursos geológicos considerável, pelo que não pode deixar de explorar este ativo presente no território.
A extração é fundamental para obtermos a matéria-prima. Termos matéria-prima é essencial para a nossa competitividade e sustentabilidade. Importarmos recursos e exportarmos problemas para outras partes do Mundo, que não os dominam do ponto de vista técnico e tecnológico, não é justo e conduzir-nos-á a uma dependência económica de elevado risco. Dominamos o ciclo de vida, pelo menos até à transformação, embora, como já foi referido, o subsector dos metálicos necessite de recuperar o atraso na cadeia de produção, mas ainda temos muito trabalho pela frente em termos de recuperação e reciclagem de resíduos.
Mas entendo a sua pergunta, porque até há uns anos atrás, as nossas exportações eram quase e somente matéria-prima. Hoje o paradigma nos recursos minerais não metálicos é totalmente diferente e a maioria das nossas exportações já são em produto transformado e obra por medida e, por aliarmos o domínio da matéria prima com o domínio e capacidade de transformação, é que estamos a conseguir manter e até crescer no posicionamento Mundial.
Quanto aos problemas da extração, eu diria, que são uma atividade económica carregada de mitos, relacionados com a imagem pública e questões ambientais. Hoje, todas as minas e pedreiras têm, além de condicionalismo legais apertados, uma forte consciência social e ambiental. Não nos podemos esquecer que Regiões onde predominam Pedreiras e minas, normalmente são regiões com pleno ou quase pleno emprego.
Uma indústria fortemente exportadora. O 'made in' portugal já faz diferença no mercado externo ? |
Sim. Portugal é reconhecido pela qualidade da sua Pedra Natural, principalmente os Mármores.
Exportamos para 116 Países e aproveitando e reforçando esta imagem, criámos a Marca STONE.PT para consolidarmos a credibilidade do “Made in Portugal”.
A Marca, tem vindo a ganhar espaço aos poucos, e atualmente mais de 20 Empresas Portuguesas já são certificadas com o STONE.PT.
O que se pretende é aliarmos ao reconhecimento mundial da nossa matéria prima, uma promoção mundial do “saber fazer”. O saber fazer nas Empresas de Pedra Natural incorpora a credibilidade, cumprimento de prazos, capacidade e flexibilidade produtiva. Não nos interessa ter uma marca “Made in Portugal” apenas com caracter comercial. O nosso objetivo é ter uma marca sólida, com conteúdo, que garanta ao cliente que está a comprar pedra portuguesa, certificada e que a Empresa cumpre requisitos de mercado.
O trabalho em rede tem sido fundamental para a promoção do sector? Quais as iniciativas mais emblemáticas? |
O trabalho em rede tem sido o motor.
Em termos de Projetos, destaco aqueles que já estão em execução:
> as iniciativas conjuntas de internacionalização promovidas pela ASSIMAGRA – www.assimagra.pt
> o projeto mobilizador INOVSTONE 4.0 – Tecnologias e Software para a Pedra Natural, um projeto liderado pela CEI – Companhia de Equipamentos Industriais e desenvolvido por um consórcio de 24 Empresas e Universidades, que em rede estão a desenvolver e a investigar o futuro das fábricas e pedreiras em ambiente Industria 4.0. www.inovstone.pt
> o projeto Primeira Pedra, promovido pela ASSIMAGRA, que está a aproximar a Pedra ao Design e à Arquitetura nos mais prestigiados palcos de Design e Arquitetura no Mundo. www.primeirapedra.com
Em termos de iniciativas, destaco as seguintes, por estarem a gerar resultados e aprendizagem em rede:
Reuniões Alargadas do Cluster dos Recursos Minerais, onde, duas vezes por ano, todos os membros e parceiros se juntam para discutir e avaliar o Plano de Ação e onde há sempre espaço para um convidado orador e uma visita a uma Mina, Fábrica, Pedreira, etc. A última contou com dois convidados reconhecidos nacional e internacionalmente, que falaram da importância das parcerias.
O Plano de Ação do Cluster tem atualmente inscritos 16 Projetos Estruturantes, que estão a ser trabalhados e operacionalizados por Grupos de Trabalho. São realizadas reuniões dos Grupos de Trabalho, por temas/ projeto. Esta iniciativa tem-se revelado muito interessante para potenciar o trabalho em rede dentro do Cluster, Empresas com Universidades e mesmo entre estas.
Os debates regionais, já iniciados no Alentejo, pretendem ser iniciativas onde se trabalha e debate mais localmente com as CCDRs. Brevemente, irão ser realizados os Debates Regionais sobre os Recursos Minerais no Norte e Centro do País, onde será debatido o ponto de situação e futuro dos Recursos Minerais por todos os stakeholders regionais.
A participação ainda em iniciativas de Matchmaking Internacionais com outros Clusters, tem-se revelado uma experiência enriquecedora em termos de aprendizagem e temos firmado parcerias que nos permitem ambicionar a internacionalização das atividades do Cluster.
Podem conhecer mais aqui no nosso Site: https://www.clustermineralresources.pt
Informações de Interesse
> Neste momento, estamos a lançar o Site do Projeto INOVSTONE 4.0, o projeto mobilizador do Cluster dos Recursos Minerais e convidamo-los a conhecer: www.inovstone.pt
> Aguardamos decisão de dois projetos coletivos candidatados à CCDR Alentejo, um para o estudo da Revitalização da Zona dos Mármores e outro em que pretendemos explorar novas formas de promoção do Mármore: Marble Fashion Design.
A incorporação de design nas vertentes estratégicas de produto e de comunicação tem tido ao longo dos últimos anos um papel fundamental na otimização do potencial da indústria da rocha ornamental. Neste pressuposto, e com o objetivo de empreender novas fórmulas de promoção do setor, baseadas na diferenciação, sofisticação e criatividade, estão em desenvolvimento novas ações de promoção internacional do mármore e das empresas da Região dos Mármores, que conciliam industria e design, essenciais à afirmação das empresas junto de grandes marcas e editoras internacionais de grande prestígio que utilizam pedra natural. Estas ações, materializadas no projeto Marble Fashion Design, candidatado ao SIAC Alentejo2020, contribuirão para o reforço da competitividade global da indústria dos mármores, para a melhoria e reconhecimento internacional da imagem do setor, e seus produtos, contribuirá também para estimular o aparecimento de novas oportunidades e novos mercados e para a promoção de atividade interempresarial.
> O Global Stone Congress 2018 realizado entre os dias 26 e 29 de Abril, em Ilhéus, na Bahia, no Brasil, contou com mais de 10 artigos e posters apresentados pela Industria e Academia Portuguesa.
Durante estes dias, mais de 200 pessoas, de todo o Mundo, discutiram os temas da Arquitetura, Sustentabilidade e Tecnologia em torno da Pedra Natural. O Cluster dos Recursos Minerais esteve em destaque, não só pela apresentação dos seus resultados, como pela participação ativa de membros do Cluster, que brilharam neste palco internacional de inovação: ASSIMAGRA, CEI – COMPANHIA DE EQUIPAMENTOS INDUSTRIAIS, FRAVIZEL, FRONTWAVE, INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO, LABORATÓRIO NACIONAL DE ENERGIA E GEOLOGIA, UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA, UNIVERSIDADE DE ÉVORA. www.clustermineralresources.pt http://www.globalstonecongress2018.com.br/anais.htm