O sonho americano da ourivesaria portuguesa
Um sector que cresceu 500% e ganha novo fôlego às mãos de jovens autores que reinterpretam as tradições e dá a Milla Jovovich o papel de promover a joalharia portuguesa no mundo. A AORP promove a internacionalização da joalharia portuguesa com o apoio do COMPETE 2020.
Os resultados alcançados, entre 2008 e 2014, com as vendas para o exterior registam um crescimento de 500%, o que traduz otimismo entre os intervenientes, que o conseguiram graças a uma mudança de atitude.
Em entrevista ao Público, Fátima Santos, secretária-geral da AORP - Associação de Ourivesaria e Relojoaria de Portugal afirma:
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“O sector estava totalmente vocacionado para o mercado interno e, quando sentimos a crise de forma muito severa, as empresas só tiveram uma saída, a exportação”. Para isso, foi preciso um esforço e um endividamento ainda maior de estruturas, muitas de cariz familiar, onde até aqui apenas havia espaço para rotinas, diz Fátima Santos. A mudança para reagir às alterações de consumo não foi fácil, “Cometeram-se muitos erros, a maioria das empresas não estava preparada e continua a não estar. Houve as que se reestruturaram e outras que surgiram mais adequadas aos novos tempos, com estruturas leves e uma nova forma de comunicar”. |
2 milhões de euros é o orçamento da AORP para apoiar a internacionalização
À boleia de incentivos do Portugal 2020 [o ciclo de programação dos fundos europeus entre 2014 e 2020, que substitui o antigo QREN], através do Programa COMPETE 2020 no âmbito do FEDER, pequenas empresas como a Eleutério, de Travassos, Póvoa do Lanhoso, cuja tradição familiar na filigrana remonta a 1925, renovaram a imagem, métodos de produção, e estratégias comerciais.
Para 2016 e 2017 a AORP conta ainda, com um cofinanciamento de cerca de 2 milhões de euros para apoiar a internacionalização. As feiras são uma das montras para o negócio. Nos últimos meses a associação levou 17 empresas a Paris, dez a Madrid, cinco a Hong Kong. Em França, um dos mercados-alvo do sector pela proximidade, as vendas subiram 24%. Lisboa vai ter em Abril de 2017 a primeira feira dedicada à ourivesaria e joalharia.
A AORP conta com 430 associados, muitos são jovens designers a arriscar a sorte. Para a promoção destes talentos em Feiras nacionais e internacionais, a AORP criou a plataforma Portuguese Jewellery Newborn, onde o trabalho de cada designer tenta marcar a diferença, seja pelas técnicas que usa, seja pelo legado que transporta para as peças. O trabalho de autor assume um papel principal na mudança, ainda que revisite as tradições. Uma nova geração, que sabe que as redes sociais e a presença nos meios de comunicação são fundamentais para se afirmarem.
O coração de Milla é português
O sector da joalharia tem apostado na internacionalização, com as marcas a mostrarem-se em feiras dos Estados Unidos à Ásia. Mas a melhor "publicidade" é encontrada em figuras públicas como Sharon Stone e Julia Roberts deram o seu contributo indiretamente, ao terem sido fotografadas com peças portuguesas – a primeira usando um coração de Viana nas ruas de Beverly Hills, que lhe tinha sido oferecido pelo patrão da Douro Azul, Mário Ferreira, na sua passagem pelo Douro; a segunda, fotografada com uma pulseira da designer Luísas Rosas para a revista americana InStyle.
Os famosos vendem e a AORP escolheu a modelo e atriz Milla Jovovich para protagonista da campanha que vai promover a joalharia nacional nos quatro cantos do mundo, numa estratégia de incentivo à exportação de forma a alcançar a meta de 150 milhões de euros em cinco anos.
“Tivemos alguns nomes portugueses na mesa, mas queríamos atingir um posicionamento transversal, cativar o mercado americano e isso é mais fácil com uma estrela de Hollywood”, justifica Fátima Santos. A campanha foi rodada no Porto, em Junho, com a produção a cargo de uma equipa nacional e durante um ano faz da actriz a porta-estandarte de um sector cujo volume de negócios é de 1000 milhões de euros.
A joalharia está ligada à moda e ao lifestyle, há a moda e há o luxo, e é este que gera dinheiro mesmo em tempo de crise. Em todas as áreas, o trabalho manufaturado, no qual assenta a exclusividade, foi resgatado pelas marcas internacionais para as suas coleções. As peças são agora consideradas únicas, e feitas à medida, como autênticas peças de arte de alta joalharia.
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Fonte: adaptado do artigo de Sandra Nobre, Público