Tex4Wounds: Desenvolvimento de materiais avançados para o tratamento de feridas

Entrevistamos Miguel Sousa, Head of Business Development da Somani Sociedade Têxtil S.A. a propósito do projeto Tex4Wounds, cofinanciado pelo COMPETE 2020, que visou investigar e desenvolver uma gama de dispositivos médicos avançados para a limpeza e tratamento de feridas, sob a forma de materiais de penso, utilizando arquiteturas têxteis e aditivos de base natural. Estes materiais de penso consistirão em arquiteturas têxteis com uma ou várias camadas, dando resposta às diferentes necessidades do mercado, quer de materiais de penso mais simples para limpeza e desbridamento, quer de materiais mais complexos, que sejam superabsorventes e promotores da cicatrização.

 

1. Entrevista | Miguel Sousa, Head of Business Development da Somani Sociedade Têxtil 

Miguel Sousa
- Head of Business Development da Somani Sociedade Têxtil

1.1 Como nasceu o projeto Tex4Wounds? Quais foram as principais motivações? 

Qualquer projeto nasce da vontade, visão, ideia duma pessoa, empresa ou dum conjunto de pessoas ou entidades. Ora, este não foi diferente, na medida em que nasceu da maturação duma ideia conjunta entre o mundo empresarial e o mundo científico. 

Sendo que, naturalmente, foi feita uma análise muito exaustiva das competências das empresas antes de se avançar e com o pressuposto de que a área da saúde, pelas suas características próprias, o grande investimento em I&D necessário, seria o foco de qualquer projeto. Posto isto analisou-se o mercado, à luz das capacidades/valências que o consorcio podia aportar e decidiu-se avançar um projeto desafiante, mas também inspirador. 
 
Foi identificado que o mercado de materiais de penso atual apresenta um vasto portefólio de produtos semelhantes e/ ou produtos com a mesma indicação principal, mas com características físicas que não são sobreponíveis. Para além disso, estes materiais apresentam desafios como: custo elevado, dificultando a sua utilização generalizada; libertação de resíduos, no caso das gazes de algodão ou dos materiais de alginato, o que aumenta a resposta inflamatória, bem como o risco de infeção. Verifica-se, ainda, a necessidade de existirem no mercado materiais de penso multifuncionais que cumpram os requisitos associados às características locais da ferida e à sua fase de cicatrização. Assim e, considerando todos estes constrangimentos, nasceu o projeto TEX4WOUNDS com o objetivo de explorar a temática das feridas no contexto atual, visando o desenvolvimento de dispositivos médicos avançados, em concreto, materiais de penso de base têxtil para o tratamento de feridas. Além disso, com a criação do presente projeto, pretendia-se também contribuir para o desenvolvimento científico e tecnológico do setor têxtil, incluindo ao nível de têxteis técnicos, potenciando a competitividade e a criatividade do setor. 
 
 
1.2 Quais têm sido os principais desafios com que se depararam no desenvolvimento do projeto? 
 
O principal desafio com que nos temos vindo a deparar no decorrer deste projeto tem sido conseguir desenvolver uma gama de produtos para limpeza e tratamento de feridas que, para além de serem eficazes e capazes de reduzir o tempo de tratamento, consigam integrar num só produto, múltiplas funções. De destacar as seguintes funções: promoção da cicatrização, controlo de infeção; indicador de mudança e, ainda, uma forma e um design versátil e diferenciador para se moldarem a qualquer espaço anatómico. 
 
Para além disso, e considerando o patamar de desenvolvimento científico e tecnológico das funcionalidades implementadas no TEX4WOUNDS, também tem sido desafiante conseguir desenvolver uma gama de produtos com características tão inovadoras, que consigam ser economicamente mais acessíveis do que as soluções já existentes no mercado. 
 
 
1.3 O que considera ser o elemento diferenciador no projeto Tex4Wounds? 
 
O projeto Tex4wounds visa o desenvolvimento de uma gama de materiais de penso avançados que se complementam no tratamento de feridas, nomeadamente para limpeza e desbridamento, assim como para absorção de exsudado e promoção da cicatrização. Neste sentido, o recurso a materiais totalmente têxteis dotados de propriedades antibacterianas e de gestão de humidade, integradas diretamente no fio, permitiram criar estruturas diferenciadoras com elevada capacidade de absorção e retenção. Para além disso, a sua combinação com aditivos de base natural, foi fundamental para potenciar a ação cicatrizante dos materiais de penso em desenvolvimento. 
 
No que concerne ao material de penso para limpeza e desbridamento, o mesmo foi pensado para ser fornecido pronto a usar, isto é, em húmido, já com aditivos de base natural que conferem propriedades hidratantes e surfactantes, a fim de agilizar o processo de limpeza e desbridamento de feridas. Além disso, acredito que o seu design diferenciador, pensado para a prática clínica diária, será também uma mais-valia tanto para os profissionais de saúde, como para os utilizadores em geral. 
 
 
1.4 De entre os resultados alcançados, há algum que gostaria de destacar? 
 
No decorrer do projeto temos vindo a obter resultados bastante promissores, quer ao nível das estruturas têxteis em si, como dos aditivos em estudo, dos quais, já resultaram a publicação de dois artigos científicos e, ainda, outro que se encontra a aguardar publicação. Todavia, gostaria também de destacar os protótipos já desenvolvidos, nomeadamente do material de penso dinâmico para cicatrização de feridas, com formato laminar (imagem a baixo), que consiste na combinação de diferentes arquiteturas têxteis, com aplicação de uma membrana impermeável e respirável na camada superior. 
 
 
Ao nível do material de limpeza e desbridamento foi também desenvolvido um protótipo do mesmo (imagem abaixo). 
 
 
Neste momento estamos a iniciar testes em modelos 3D simuladores de feridas, contemplando diferentes áreas e profundidades, de modo a realizarmos um estudo mais abrangente e que avalie a funcionalidade do produto nos diferentes contextos e etiologias de feridas. 
 
De reforçar, ainda, que todo o desenvolvimento destes materiais de penso inovadores tem vindo a ser efetuado com focus group de profissionais de saúde, por forma a obter-se um feedback mais rigoroso e realista. 
 
1.5 Qual tem sido o contributo do COMPETE 2020 para o desenvolvimento deste projeto? 
 
Um projeto desta envergadura apenas estaria acessível a grandes empresas com enormíssimos departamentos de I&D, com orçamentos elevadíssimos e que por essa via estaria vedado à partida a PME. 
 
O apoio do COMPETE 2020 tem sido fulcral no apoio à inovação, nomeadamente na promoção de sinergias entre entidades empresarias, como é o caso da SOMANI e da FOURMAG, assim como entre entidades não empresariais do Sistema de I&I, representados pelo CITEVE e pela Universidade Católica Portuguesa. 
 
Este tipo de sinergias, gera “departamentos” de I&D comparáveis a grandes empresas com equipas multidisciplinares, que trocam e partilham ideias, desenvolvem estudos, protótipos, publicam artigos que de outra forma seria impensável.
 
Sem o COMPETE todo este ciclo de conhecimento que está a ser criado e que poderá ser partilhado pelo meio científico noutros projetos -salvaguardando questões de proteção de propriedade intelectual e industrial - não seria de todo possível. 
 
Além disso, a criação de novos produtos, inovadores e diferenciadores dos demais atualmente existentes, permite alavancar a diferenciação não só no mercado, como também no portfólio de produtos oferecidos pela SOMANI, perfeitamente alinhados com a estratégia da mesma e contribuindo para a sua expansão. 

   

2. Apoio do COMPETE 2020

O projeto TEX4WOUNDS – “Desenvolvimento de materiais avançados para o tratamento de feridas” é cofinanciado pelo COMPETE 2020 no âmbito do Sistemas de Incentivos à Investigação e Desenvolvimento Tecnológico, na vertente em Copromoção, envolvendo um investimento elegível de 1 milhão e 160 mil euros, o que resultou num incentivo FEDER de cerca de 826 mil euros. 

 

3. Links

Ficha do projeto TEX4WOUNDS

Website SOMANI

Website FOURMAG

Website CITEVE 

Website UCP

06/04/2023 , Por Cátia Silva Pinto
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