Criar ambientes assistidos que promovam a vida ativa, segura e saudável a maiores de 65 anos
Dirigido a toda a população sedentária maior de 65 anos, o principal objetivo do projeto ActiVas, cofinanciado pelo COMPETE 2020 e liderado pela Kentra Technologies juntamente com 20 parceiros, é criar ambientes assistidos que promovam uma vida ativa, segura e saudável.
Falámos com Pedro Duarte Meira, CEO desta empresa, que coordena o projeto e nos elucidou o contexto, os desafios, o âmbito, os objetivos e os resultados esperados.
Pedro Duarte Meira | CEO da Kentra
1. Enquadramento
Falar do ecossistema de uma população ativa, não dependente, maior de 65 anos é falar da união de dois universos de cuidados, que habitualmente não se cruzam, ou se cruzam com extrema dificuldade. Falamos da:
• Rede de Cuidados Formais, onde se encontram os Centros de Saúde, as Entidades Oficiais, como Forças de Segurança, Bombeiros, Instituições Privadas de Saúde e, mais recentemente, a Telemedicina e a assistência remota promovida pelos Seguros de Saúde;
e da:
• Rede de Cuidados Informais, onde podemos identificar um conjunto de apoios que são fundamentais para esta população alvo. São muitas vezes o primeiro sinal de alerta para alguma sintomatologia mais grave. É nesta Rede de Cuidados que se encontram os familiares, os amigos e vizinhos que apoiam, mas também um corpo de Voluntários e de Cuidadores Informais, bem como ONG e Instituições Religiosas.
Figura 1 - Ecossistema da Rede de Cuidados para os maiores de 65
Enquanto a Rede de Cuidados Formais está perfeitamente instituída, a Rede de Cuidados Informais é precisamente o oposto. São cuidados muitas vezes não tutelados, habitualmente descoordenados entre si, sem deixarem qualquer lastro. Ora, este lastro é importante para identificar melhor progressos em quem é cuidado, ou pequenos sinais de alerta que são relevantes serem identificados e sinalizados em fases precoces da doença crónica, ou mesmo estabelecer a ponte com a Rede de Cuidados Formais, de modo a identificar boas práticas, que possam ser reutilizadas para promover uma melhor qualidade de vida na população que o ActiVas se propõe servir.
Do exposto, facilmente se pode concluir que é necessário um novo Paradigma de Cuidar. Um novo modelo de capitação para a Saúde, baseado na promoção, justamente, da Saúde e do Bem-Estar, que premeie a prevenção em detrimento simplesmente da aposta na cura, que seja uma alternativa ao internamento, afastando cada vez mais as pessoas dos cuidados hospitalares e que promova ativamente o envolvimento do Cidadão. O envolvimento do Cidadão Ativo, não dependente, informado, não infoexcluído.
Para suportar este novo Paradigma do Cuidar, torna-se necessária uma plataforma digital, que coordene esforços, que interligue ambas as Redes Formais e Informais de Cuidar, na independência dos três Ministérios que as tutelam, mas que possa operar na égide de uma Entidade Pública, totalmente agnóstica de qualquer fabricante, incluindo das plataformas dos Copromotores do ActiVas. Para o efeito, torna-se necessário uma camada semântica capaz de agregar todos os registos e operações da área não clínica. Ao contrário desta, a ontologia do Social, atualmente não existe. Para evitar que este registo social, que esta plataforma digital para o social, seja mais um ensaio teórico, este Projeto acrescenta à plataforma digital, um conjunto de aplicações práticas para serem utilizadas pela população alvo do ActiVas, com um impacto tremendo na sua segurança e qualidade de vida.
2. Âmbito
Inspirados num trabalho do Professor Trevor Hancock da Universidade de Ciências Médicas de Toronto, o modelo de Cuidar do ActiVas é um modelo apostado em valorizar os principais vértices da condição humana no ato deliberado e consciente de promoção do seu bem-estar e no prolongamento da sua autonomia.
Figura 2 - Adaptação do conceito Mandala da Saúde ao ActiVas
Para o ActiVas, o Indivíduo está no centro da esfera, que representa o Universo: num ecossistema alterado por fatores humanos, que influenciam o estilo de vida, sob quatro vertentes:
• Os aspetos comportamentais, que este projeto tem em conta observar e monitorar;
• A biologia humana e a saúde que, correlacionados com o primeiro, vão constituir um só registo;
• Os aspetos ambientais, onde se inclui o ambiente construído, uma componente muito relevante e importante deste projeto;
• Os fatores socioeconómicos e psicológicos, que condicionam e influenciam todos os restantes vértices.
O ActiVas surge como resposta às necessidades e lacunas observadas na cadeia de valor do habitat, tendo como principal objetivo investigar, desenvolver e demonstrar em ambiente real de uso um conjunto de soluções “active & healthy life” que promovam a disponibilização de produtos e serviços inteligentes de suporte à rede de cuidados de proximidade e de saúde. Sob o lema “Viva bem e saudável em sua casa e com a qualidade que merece”, o consórcio e respetivos copromotores – consoante as suas áreas de expertise e o seu know-how especializado – estão a trabalhar conjuntamente na investigação e no desenvolvimento de soluções que, de forma holística, impactarão e promoverão um novo conceito de habitat evolutivo, que se transforma e adapta, acompanhando todas as fases da vida.
Especificamente, e através de um conjunto de atividades nucleares de I&D, o ActiVas está a abordar todas as vertentes que, direta e indiretamente, impactam o ambiente construído, abrangendo desde a arquitetura aos materiais, à domótica e à aquisição e interpretação de dados, passando pela sensorização e pelo mobiliário responsivo, resultando num conjunto de soluções verticais, de elevado valor acrescentado que, não só elevam o atual estado da arte, como impactam – de forma estruturante – toda a cadeia de valor do Habitat (contrução, materiais e imobiliário).
3. Objetivos
São Objetivos Estratégicos do projeto ActiVas:
• OE1: Evoluir o conceito de Habitat, dotando-o de capacidade adaptativa e transformativa, em linha com as necessidades das diferentes faixas etárias;
• OE2: Compreender os fatores determinantes da saúde, do bem-estar e da doença;
• OE3: Prevenir e tratar doenças na senioridade;
• OE4: Promover o envelhecimento ativo e autogestão da saúde;
• OE5: Otimizar os métodos e cuidados de saúde informais;
• OE6: Prestar cuidados de saúde e cuidados integrados informais de forma mais eficaz;
• OE7: Diminuir o “gap” existente entre a população sénior e as demais franjas da sociedade;
• OE8: Combater o isolamento da população sénior.
Assume-se, assim, que o ActiVas potencia a investigação de excelência na área do habitat, da saúde e das TICE, promovendo o reforço da competitividade do tecido empresarial e académico nacional e europeu em diferentes domínios técnico-científicos (Engenharia civil, arquitetura, materiais, TICE, saúde, cuidados e apoio social, etc.), contribuindo para o desenvolvimento de novas oportunidades de mercado, com base numa abordagem integrada e centrada na qualidade de vida, e para a especialização regional, nacional e europeia em diferentes áreas consideradas estratégicas.
4. Resultados Esperados
Por fim, o ActiVas permitirá concretizar e validar um ambiente assistido “Active, Safe and Healthy Life” com base num piloto que integrará soluções desenvolvidas para novos ambientes e espaços – personalized lifelong health, intervindo em várias vertentes:
> suporte à rede de cuidados de proximidade (apoio aos cuidadores informais na gestão das atividades diárias, web interface para preenchimento da informação dos doentes, gestão de atividades;
> app com informação de cariz lúdico, social), promoção da funcionalidade humana através da estimulação física e cognitiva;
> interação do espaço construído através da sua digitalização utilizando tecnologias de Realidade Aumentada;
> desenvolvimento de novos materiais ou adaptação dos processos de fabrico de materiais existentes que permitam a integração (de forma embutida) de sensores utilizados por soluções de domótica;
> desenvolvimento de estruturas modulares adaptativas e transformáveis;
> integração de sistemas sensoriais, monitorização, mobiliário e equipamentos em soluções novas ou já existentes de sistemas construtivos modulares pré-fabricados, permitindo a mutação agilizada do conjunto ou elemento isolado e dando resposta às premissas programáticas ou necessidades humanas especificas.
> Plataforma digital para social inclusiva, que interligue, num mesmo ecossistema digital:
o Ambiente contruído gerido, composto por habitações sensorizadas,, munidas de alarmística e sistemas de ajudas inteligentes;
o Serviços de Emergência, compostos por Forças de Segurança, Serviços de Emergência Médica e Bombeiros;
o Serviços Municipais, compostos pelos próprios municípios e juntas de freguesia, num contacto mais próximo das suas populações;
o Técnicos de Ação Social Municipais, dando-lhes um instrumento de análise, desejavelmente georreferenciado;
o As IPSS (ERPI E SAD) que prestam um inestimável apoio às comunidades locais, na ação social que fazem;
o A Rede de comércio local, onde se destacam as farmácias;
o Cuidadores Informais e Profissionais Liberais.
> Registo Social - Em forma de meta-informação pública, capaz de agregar valor para todas as partes interessadas, capaz de atrair outras entidades a colaborar neste ecossistema. Todo o sistema é público, no sentido de ser aberto a qualquer entidade, pública ou privada, em qualquer geografia, que queira participar neste ecossistema.
5. Apoio do COMPETE 2020
O projeto foi cofinanciado pelo COMPETE 2020, no âmbito do Sistemas de Incentivos à Investigação e Desenvolvimento Empresarial (Programas Mobilizadores), envolvendo um investimento elegível de 5,2 milhões de euros, o que resultou num incentivo FEDER de 3,5 milhões de euros.
6. Parceiros
A persecução e concretização deste projeto mobilizará um conjunto de entidades empresariais e científicas que, pelo seu know-how especializado e experiência consolidada, possibilitarão uma efetiva mudança do paradigma assistencial, promovendo, simultaneamente, o (re)posicionamento em cadeias de valor globais – como sejam, não só a do Habitat, mas também a da Saúde e a das TIC– enquanto fornecedores inovadores e especializados no desenvolvimento, conceção e disponibilização de soluções diruptivas.
> Kentra Technologies
> Intellicare - Intelligent Sensing In Healthcare
> IKEA
> Concexec - Arquitetura
> Sonae
> NOS
> Aleluia - Cerâmicas
> Glintt - Healthcare Solutions
> Ubiwhere
> Digitalwind
> Neuroinova
> Inova+
> CeNTI - Centre of Nanotechnology and Smart Materials
> Instituto Pedro Nunes
> Universidade de Aveiro
> CTCV - Centro Tecnológico da Cerâmica e do Vidro
> Universidade de Coimbra
> Caritas Diocesana de Coimbra
> Cluster Habitat - Associação Plataforma para a Construção Sustentável
> TICE.PT - Pólo das Tecnologias de Informação, Comunicação e Electrónica
31/03/2021 , Por Cátia Silva Pinto
Portugal 2020
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