Cancel Stem: o projeto que visa explorar novas formas de combater o cancro
Falámos com Joana Paredes, investigadora do i3S que coordena o projeto CANCEL_STEM que nos elucidou o âmbito, os desafios e os principais resultados alcançados, bem como a pertinência do apoio dos fundos comunitários.
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1. Enquadramento do Projeto
Cofinanciado pelo COMPETE 2020, o projeto CANCEL_STEM é liderado pelo i3S - Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto, ao qual se juntaram 75 investigadores de 18 equipas de investigação portuguesas, com um objetivo comum: explorar novas formas de entender e combater o cancro.
Este projeto de investigação em células estaminais do cancro reúne os conhecimentos científicos de 18 investigadores de três institutos portugueses: i3S - Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto; Centro de Neurociências e Biologia Celular – CNC, da Universidade de Coimbra e o Instituto Gulbenkian de Ciência – IGC.
O impacto clínico e social deste projeto traduz-se no desenvolvimento de estratégias preditivas e de controlo da progressão do cancro. Pretende-se diminuir a recorrência do cancro, assim como melhorar a estratificação e tratamento dos doentes oncológicos. No geral, o objetivo é colocar o projeto CANCEL_STEM no mapa internacional da investigação em células estaminais do cancro e torná-lo uma plataforma de referência científica e tecnológica nas redes europeias que trabalham sob este tema.
2. Entrevista a Joana Paredes, investigadora do i3S e coordenadora do projeto
2.1. Quais foram os principais desafios com que se deparam no desenvolvimento do projeto CANCEL_STEM?
Os principais desafios com que nos deparámos durante o desenvolvimento do projeto estiveram principalmente relacionados com a permanência e estabilidade dos recursos humanos dentro da equipa de investigação. A precariedade no emprego científico é um fato e uma questão central no sistema científico e tecnológico nacional, que acabou por ter muita influência na permanência de quem contratamos como investigadores ou como bolseiros. A aplicação das últimas políticas de emprego científico culminou numa enorme instabilidade nas equipas de investigação nacionais. Devo ainda referir que o nível elevado de burocracia foi também deveras desafiante, fazendo com que se atrasassem decisões cruciais para dar andamento ao projeto de uma forma tranquila e suave.
O último desafio que quero referir prende-se com o objetivo de colocar três institutos a trabalhar em conjunto para este projeto, com investigadores de áreas muito diferentes entre si. No entanto, acredito que este desafio foi superado, levando à criação de um consórcio nacional multidisciplinar a trabalhar na área das células estaminais do cancro.
O trabalho do grupo progrediu e avançou e iremos apresentar os principais resultados no XXVII Porto Cancer Meeting, a realizar no i3S no Porto, nos próximos dias 29 e 30 de outubro de 2020.
2.2. De entre os resultados alcançados, há algum que gostariam de destacar?
Gostaria de destacar dois trabalhos recentemente publicados no âmbito do projeto CANCEL_STEM:
I) Um deles foi publicado na Cancers (doi: 10.3390/cancers12020495), liderado pela Doutora Raquel Almeida, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), em estreita colaboração com o Doutor Filipe Pereira, do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra (CNBC). Através da utilização de um sistema repórter, baseado na atividade do fator de transcrição SOX2, os investigadores conseguiram, com sucesso, identificar e isolar uma pequena população de células estaminais do cancro (CSCs) do estômago. Estas células, enriquecidas em SOX2, revelaram-se mais proliferativas, mais resistentes à quimioterapia com 5-fluorouracil, capazes de formar gastroesferas em condições não aderentes e de originar tumores in vivo. A subsequente realização de ensaios de triagem de alto rendimento, de forma a identificar pequenas moléculas capazes de eliminar estas CSCs, permitiu identificar o ionóforo monensina como um possível agente capaz de afetar preferencialmente a viabilidade das CSCs do estômago. Assim, os resultados obtidos neste trabalho revelam que o fator de transcrição SOX2 é um biomarcador relevante de CSCs do estômago e demonstra, pela primeira vez, que a monensina afeta de modo preferencial estas células, abrindo um caminho possível para o teste clínico desse medicamento em pacientes com cancro do estômago. Estes resultados levaram ainda os investigadores a fazerem o registo provisório de patente.
II) Outro trabalho foi recentemente publicado na revista científica Cancer Research (doi: 10.1158/0008-5472.CAN-19-3147), da prestigiada American Association for Cancer Research (AACR), e permite compreender a complexidade das moléculas envolvidas no cancro, abrindo a possibilidade de manipular esses sinais para reduzir a agressividade dos tumores. Com o objetivo de identificar os sinais moleculares que devem ser direcionados para prevenir metástases, matar células cancerígenas com um fenótipo híbrido e estaminal, e impedir a formação de novos tumores, os grupos de investigação liderados pela Doutora Florence Janody, do i3S, e pela Doutora Claudine Chaouiya, do Instituto Gulbenkian Ciência (IGC), criaram uma célula computacional virtual, com numerosas moléculas interagindo umas com as outras. Essa célula virtual pode tornar-se uma célula cancerígena epitelial, mesenquimal ou híbrida, e pode ser colocada sob a influência de muitos sinais vindos de fora da célula. Assim, este trabalho permitiu descobrir moléculas e sinais no ambiente celular que instruem as células cancerígenas a migrar e invadir, o que faz com que esses sinais possam ser usados como alvos para o desenvolvimento de estratégias terapêuticas contra células cancerígenas com um comportamento metastático.
2.3. Qual o contributo do COMPETE 2020 para o percurso da vossa empresa?
O COMPETE 2020 foi essencial ao desenvolvimento do projeto CANCEL_STEM, permitindo o estabelecimento de um consórcio nacional multidisciplinar centrado na investigação de células estaminais do cancro, e criando uma oportunidade única para acelerar rapidamente na produção de conhecimento nesta nova área de conhecimento em Oncologia. Permitiu o estabelecimento de fortes colaborações inter-institucionais e ao desenvolvimento de protocolos experimentais e métodos de trabalho mais produtivos. Permitiu ainda concretizar os nossos objetivos de internacionalização e de inovação.
3. Apoio do COMPETE 2020
O projeto CANCEL_STEM foi cofinanciado pelo COMPETE 2020 no âmbito do Sistema de Apoio à Investigação Científica e Tecnológica e contou com um investimento elegível de 2,5 milhões de euros e um incentivo FEDER de 1,9 milhões de euros.
4. Links
Artigo “Cancel Stem: projeto de 2,5 milhões de euros para tratamento do cancro”
Entrevista a “Joana Paredes, uma investigadora dedicada a melhorar o prognóstico e tratamento dos doentes com cancro”
Website do i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto
Website do Centro de Neurociências e Biologia Celular – CNC, da Universidade de Coimbra
Website do Instituto Gulbenkian de Ciência – IGC
Links Relacionados
Artigo “Cancel Stem: projeto de 2,5 milhões de euros para tratamento do cancro”