Hidrogénio (re)ganha um novo espaço como solução energética sustentável

 

 

Numa entrevista ao COMPETE 2030, José Campos Rodrigues, Presidente da Direcção AP2H2 falou sobre o projeto H2SE - Hidrogénio de Sustentabilidade Energética, cofinanciado pelo COMPETE 2020 que transporta na sua matriz a promoção do conhecimento, a investigação, a inovação e utilização do Hidrogénio enquanto fonte de energia limpa.

 

 

 

1. Enquadramento

O projeto H2Se, com o apoio do COMPETE 2020, aproveitou o contexto global favorável para promover o hidrogénio (H2) na busca da neutralidade carbónica até 2050. A AP2H2 - Associação Portuguesa para a Promoção do Hidrogénio contribuiu para a discussão nacional sobre sustentabilidade energética e o H2 foi reconhecido em estratégias nacionais. Globalmente, investimentos expressivos foram feitos em projetos de H2, abrangendo várias áreas, acelerando a sua adoção a nível nacional.

Este projeto atendeu à crescente procura por pesquisa, inovação e aplicação do hidrogénio como uma fonte de energia limpa alternativa, com foco na mobilidade, indústria e bens de consumo, desempenhando um papel crucial na introdução da Economia do Hidrogénio na sociedade portuguesa.

O projeto está organizado em quatro eixos estratégicos, que abrangem uma ampla gama de ações, incluindo a promoção do hidrogénio (H2), inovação e tecnologia, estudos de interesse estratégico e medidas transversais que visam de maneira coordenada promover e disseminar informações e conhecimentos sobre as tecnologias relacionadas ao Hidrogénio.

2. Entrevista | José Campos Rodrigues, Presidente da Direcção AP2H2 - Associação Portuguesa para a Promoção do Hidrogénio

2.1 Quais foram os principais desafios com que se deparam no desenvolvimento do projeto?

O projecto decorreu entre outubro de 2016 e outubro de 2019. 

O ambiente político, energético e tecnológico não estava receptivo à adopção do novo paradigma energético em que o hidrogénio se enquadrava. A aposta do país para a transição energética estava focalizada na energia eólica, associada ao GN, na altura ainda considerado como um combustível de baixo carbono. Para os altos quadros da Administração, e para os gestores de topo das grandes empresas energéticas, investir no hidrogénio, uma tecnologia emergente, seria um factor de dispersão que prejudicaria as linhas mestras das políticas energéticas traçadas. 

O hidrogénio não estava na agenda. Ocasionalmente, era uma nota de rodapé nos documentos de política energética publicados nesse período.  No contexto internacional, ao invés, a aposta na economia do hidrogénio gerava um consenso alargado, mobilizando os mais diversos actores institucionais e consórcios empresariais, que investiam, com apoio do H2020, quantias vultuosas em projectos de desenvolvimento e demonstração, dando conta que no combate às alterações climáticas e à sustentabilidade ambiental o hidrogénio já era uma parte incontornável na solução. 

As empresas nacionais não eram parte desse processo. Portugal, não obstante a assinatura da Iniciativa Hidrogénio (Linz/2018) parecia indiferente a esta dinâmica. Os documentos estratégicos reguladores da política nacional para a transição energética (RNC – Roteiro da Neutralidade Carbónica- 2050 e PNEC- Plano Nacional para a Energia e Clima- 2030) colocados em discussão pública no início de 2019, apenas reconheciam ao H2 um contributo marginal até 2040 para a oferta energética nacional.  Em carta aberta ao Ministro do Ambiente a AP2H2 manifestou a sua discordância face às conclusões daqueles documentos, fundamentada nos resultados preliminares dos estudos que vinha desenvolvendo no âmbito do projecto H2SE. 

Vencer a barreira da indiferença associada à iliteracia reinante, foi o principal desafio que defrontámos.  A estratégia de comunicação da AP2H2 teve de ser reajustada a esta realidade. Actuámos no sentido de promover a revisão do PNEC para que este contemplasse o Hidrogénio como vector energético estratégico para os objectivos de transição energética até 2030, em consonância com as propostas da FCH-JU para o sector a nível europeu. Mantivemos as acções de promoção, divulgação e dinamização junto de empresas e instituições (municípios), alargando o público-alvo dos interessados na exploração das oportunidades que a economia do hidrogénio poderia criar.  Revisto o PNEC, com a contribuição da AP2H2, (final de dezembro de 2019), o hidrogénio (re)ganha um novo espaço como solução energética sustentável para o curto/médio prazo e entra definitivamente na Agenda Nacional da Sustentabilidade Energética. O chegar até aqui não foi fácil, mas foi muito estimulante.  Não menos importante, os atrasos no processo dos reembolsos afectou a liquidez da AP2H2. A Associação, é uma organização sem fins lucrativos, sem qualquer apoio específico do Estado, sobrevivendo num quadro de grande austeridade económica e financeira. A dificuldade em encerrar o primeiro pedido de reembolso (ainda não está concluído) a que se seguiu o segundo, igualmente por fechar, acabaram por afectar a realização do projecto.

 

2.2 Os objetivos definidos para o projeto foram alcançados? 

Os objectivos previstos com o projecto H2SE foram alcançados:

• O H2 está na Agenda Nacional da Sustentabilidade Energética; • Foi aprovada em agosto 2020 a ENH2 (em revisão). O hidrogénio começa a fazer parte do mix energético nacional; • A Economia do H2 está em construção. Os projectos multiplicam-se. Sente-se o pulsar do interesse da comunidade da empresarial. A AP2H2 quintuplica os seus associados, abrangendo a maioria das principais empresas de energia.  • A AP2H2 é um interlocutor reconhecido pelos poderes públicos, representativa dos interesses deste sector emergente da economia nacional. • A actividade de promoção e divulgação do vector energético hidrogénio é hoje intensa: • temos uma comunicação com alguma expressão: um H2clip de notícias semanal (em Portugal e no Mundo) uma revista bimestral- H2Magazine, exclusivamente dedicada ao Hidrogénio (única no quadro das congéneres europeias, tanto quanto sabemos), uma Newsletter também bimestral, estamos activos nas redes sociais, mantemos um site actualizado com a informação relevante para o sector; • Multiplicam-se os Workshops e Seminários para que somos convidados a fazer a pedagogia do hidrogénio; • Promovemos acções de formação de iniciação à Economia e Tecnologia do Hidrogénio. • Em suma, formamos opinião, procurando contribuir para um ambiente favorável a um novo paradigma energético, reforçando a luta colectiva contra o risco das alterações climáticas. 

2.3 De entre os resultados alcançados, há algum que gostariam de destacar?

Os estudos realizados contribuíram de forma inequívoca para criar doutrina e formar opinião sobre o papel do Hidrogénio, enquanto vector energético incontornável para a sustentabilidade energética e ambiental.     O estudo de “Armazenamento de energia" permitiu demonstrar o potencial de armazenamento de energia via H2 e a sua atractibilidade em termos económicos de uma unidade de armazenamento a H2.  Por sua vez o Estudo de Penetração do H2 permitiu antever já em 2030 forte contributo do H2 na mobilidade em particular de passageiros e mercadorias. De acordo com este estudo para um objectivo de redução em 85% dos gases de efeito de estufa o consumo de hidrogénio em 2030 seria superior a 200.000 ton e que a sua utilização na mobilidade era custo eficaz desde já. A mobilidade a hidrogénio é ambientalmente sustentável e não tem as limitações das baterias no que se refere a autonomia e tempo de carregamento. Este estudo foi particularmente relevante fundamentando a posição da AP2H2 na revisão da versão inicial do PNEC 2030.  

2.4. Qual o contributo do COMPETE 2020 para o percurso da Vossa empresa?

O COMPETE 2020, via H2SE, apesar das limitações de execução que tivemos, veio permitir alavancar toda a dinâmica atrás descrita. Sem esse apoio. dificilmente a AP2H2 se poderia ter abalançado ao plano ambicioso lançado em 2016 e a economia do hidrogénio em Portugal não teria a visibilidade e aceitação de que hoje já disfruta. A AP2H2 é reconhecida como uma referência nesta construção e dá identidade ao sector.

 

3. Apoio do COMPETE 2020

O projeto H2SE - Hidrogénio de Sustentabilidade Energética foi cofinanciado pelo COMPETE 2020 no âmbito do SIAC - Sistema de Apoio a Acções Colectivas, tendo envolvido um investimento elegível de 269 mil euros, correspondendo a um incentivo FEDER de cerca de 229 mil euros.

 

4. Sobre a AP2H2

A Associação Portuguesa para a Promoção do Hidrogénio (AP2H2) é uma entidade sem fins lucrativos, cujas actividades estão direccionadas para a promoção e facilitação da utilização do hidrogénio como vector energético em Portugal.

Fundada em 2003, a Associação agrega e representa um conjunto de entidades e agentes económicos, tecnológicos e científicos que na sua actividade cobrem as principais áreas de intervenção no mundo da implementação do hidrogénio como novo vector energético, nomeadamente a produção de combustíveis e a sua utilização como fonte de energia, o desenvolvimento das tecnologias associadas, bem como a investigação e o ensino.

 

5. ​Links

> Artigo “H2SE - Hidrogénio de Sustentabilidade Energética”, de 26/07/2019 

> AP2H2 – Associação Portuguesa para a Promoção do Hidrogénio  

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> IPP- Instituto Politécnico de Portalegre

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09/11/2023 , Por Cátia Silva Pinto
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