Meta.Ortho.Finger: Dispositivos para a mobilização digital relativa e ativa da mão na reabilitação pós-cirúrgica tendinosa

Enquadramento

A mão contém vinte e sete ossos, agrupados no carpo, metacarpo e falanges, e devido ao elevado número de ossos, também existe um grande número de ligações e tipos de movimentos possíveis, definidos por três articulações: articulação do pulso, metacarpofalangeal (MF) e interfalangeal (IF).

Devido ao seu posicionamento superficial, os tendões da mão podem ser facilmente danificados, sejam no dorso ou na palma da mão e do punho. Os traumatismos podem ocorrer em ambiente doméstico (geralmente causados por vidros, facas, etc.), em acidentes de trabalho (envolvendo motosserras, lâminas, etc.), em situações de agressão, e outras.

A maioria das lesões tendinosas requer tratamento cirúrgico, em que o tendão lesado é reconstruído.

Uma etapa de importância crucial na recuperação das lesões tendinosas é o protocolo de reabilitação pós-operatória. O objetivo nesta fase é manter o tendão em ligeiro movimento, de modo a que se evite sua aderência a estruturas vizinhas, e ao mesmo tempo proteger a zona intervencionada, para que não haja ruptura dos pontos. A recuperação completa de uma lesão tendinosa, com a recuperação da força, movimento e função, pode levar meses, e pode envolver mais de um procedimento cirúrgico.

O desenvolvimento de dispositivos de reabilitação que promovam a cicatrização intrínseca, evitem a ruptura, minimizam a tensão e isquemia provocada pela tração muscular, são um desafio atual no que diz respeito à cicatrização de tendões pós cirurgia.

As ortóteses aplicam forças sobre o corpo cujo efeito terapêutico pode consistir em dar resistência ou auxiliar a movimentação, transferir força ou proteger determinada parte do corpo.

A natureza rígida das talas existentes confere uma imobilização estática à extremidade dos membros superiores (dedos), limitam excessivamente o movimento, são pouco cômodas e pouco higiénicas.

 

Apresentação do Projeto por Luis Lopes, responsável do Meta.Ortho.Finger:

“A partir do contributo do COMPETE 2020 foi possível o arranque do projeto Meta.Ortho.Finger, na qual consiste no desenvolvimento de um dispositivo médico para auxiliar no tratamento terapêutico para a reabilitação pós cirurgia tendinosa.

As ortóteses de reabilitação disponíveis no mercado e mais frequentemente utilizadas são produzidas em placas termoplásticas moldáveis, sendo que estas soluções não permitem a aplicação pré-operatória imediata ou no consultório, uma vez que implica a moldagem e confeção por parte de técnicas específicas de terapia ocupacional. As soluções atuais são adaptadas e não conferem rigor na posição dos dedos, são pouco comodas para o paciente e tem certas limitações em termos de higiene.

Com a utilização destes novos dispositivos médicos, provenientes do projeto Meta.Ortho.Finger, os dedos são posicionados num ângulo próximo do ideal. O anel permite posicionar as articulações metacarpofalângicas e restante cadeia digital exatamente num ângulo de 20º relativos. É pretendido o desenvolvimento do dispositivo em gamas de acordo com dados antropométricos para que se adapte a todas as situações possíveis. Será ainda possível um ajuste final conferido pelo elastómero que se molda às dimensões dos dedos.

Ao nível dos materiais, além do elastómero permitir um ajuste perfeito, ainda funciona como elemento flexível para que a utilização contínua do anel de mobilização não se torne desconfortável. A rigidez do anel de mobilização é garantida pelo segundo material que forma a zona estrutural. Ambos os materiais utilizados, ao contrário das soluções atuais que apresentam uma zona esponjosa ou de madeira, não absorvem humidade. Desta forma é garantida a higiene do anel, pois pode ser facilmente lavado, prolongando a sua vida útil.

Assim, este dispositivo apresenta um novo conceito para a reabilitação do aparelho tendinoso e respetiva cadeia digital da mão, proporcionando um ambiente vantajoso biomecânico e tecidular, uma vez que as ortóteses atualmente existentes não apresentam as características necessárias para uma recuperação funcional, mobilização imediata com descarga a jusante e a montante de todo o aparato tendinoso.

Apesar do projeto encontrar-se ainda numa fase de desenvolvimento, já foram colocados em prática alguns protótipos. Um caso de estudo específico, com dados antropométricos reais, envolveu a digitalização da mão direita de uma pianista, para conceção de um protótipo adequado, como é visível nas figuras abaixo:

 

A partir da digitalização seguiu-se para o desenho 3D do dispositivo, com as dimensões e posicionamento dos dedos customizado ao paciente.

Com a utilização deste novo dispositivo médico, durante um período de tempo, a paciente melhorou a sua condição tendinosa e a sua qualidade de vida, na qual a permitiu voltar a tocar piano.”

O Apoio do COMPETE 2020

Este projeto é promovido pela Moldetipo II – Engineering Moulds and Prototypes, Lda. e conta com o cofinanciamento do COMPETE 2020, no âmbito do Sistemas de Incentivos à Investigação e Desenvolvimento Tecnológico, envolvendo um investimento elegível de 514 mil euros o que resultou num incentivo FEDER de cerca de 381 mil euros.

 

08/02/2021 , Por Miguel Freitas
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